Se não fosse o convite do governo da Espanha, país anfitrião da COP25, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira talvez não fosse a Madri. Ela desembarca na capital espanhola no dia 8, faltando apenas cinco dias para o fim da Conferência do Clima. Quando chegar no centro de convenções IFEMA Feria de Madri, Izabella vai transitar entre os negociadores com uma desenvoltura ímpar.
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Veja o que já enviamosComo a ministra do Meio Ambiente mais longeva do país – ela ficou no cargo por seis anos, de 2010 a 2016 -, coube a ela participar do grupo de dez países que determinaram os arranjos necessários para o Acordo de Paris, na COP21. Depois das tentativas frustradas do governo Bolsonaro de tirá-la da co-presidência do Painel de Recursos Naturais da ONU (IRP-UNEP, na sigla em inglês), Izabella continua firme e forte no cargo: “Fui eleita e não indicada”. Ela foi um dos oito ex-ministros da pasta que, em maio deste ano, escreveram uma carta criticando o “desmonte” da área ambiental no governo Bolsonaro.
[g1_quote author_name=”Izabella Teixeira” author_description=”ex-ministra do Meio Ambiente” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Não podemos perder a perspectiva que uma coisa é o Brasil e outra é o que o governo atual representa
[/g1_quote]#COLABORA – Como a senhora imagina que será a estreia do governo Bolsonaro na COP25 ?
Izabella Teixeira – O Brasil é um país extremamente importante não só na agenda climática, como na ambiental global. Não podemos perder a perspectiva que uma coisa vai ser como o mundo vai receber o Brasil e outra é como o mundo vai dialogar com o atual governo. O Brasil tem uma história na área ambiental construída nos últimos 35 anos, que vem desde a Nova República, e que fica evidente tanto nas negociações bilaterais quanto nas multilaterais.
#COLABORA – Como será a recepção ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles?
Izabella – O Brasil é signatário do Acordo de Paris, do Protocolo de Quioto e é membro da ONU. Então é previsível esperar que o ministro seja recebido como todos os outros ministros das outras delegações. É esperado que ele participe das negociações, como o Brasil sempre o fez, mas isto não quer dizer que o país comandará as negociações. É uma diferença sutil, mas muito importante no âmbito das relações internacionais. Uma coisa é estar participando e ter liderança, outra coisa bem diferente é estar na negociação para resolver problemas. O Brasil sempre teve um grande papel nas negociações ambientais e o olhar sobre o país incluiu o mérito de ser um ator capaz de construir diálogos, mas, na COP25, tudo vai depender da capacidade individual do atual ministro de construir as pontes. O que posso dizer é que o Brasil tem crédito por tudo que implementou, no passado, adotando políticas robustas na área ambiental.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Uma coisa é estar participando e ter liderança, outra coisa bem diferente é estar na negociação para resolver problema
[/g1_quote]#COLABORA – O Brasil ainda tem algum protagonismo nas discussões climáticas?
Izabella – No passado, o Brasil liderava essas negociações. A diplomacia brasileira sempre teve excelência no assunto das grandes negociações de clima. Por isso, a agenda climática sempre foi negociada pelo primeiro escalão do Itamaraty. No atual governo, o assunto passou para as mãos do primeiro secretário do Itamaraty, que é um nível intermediário da diplomacia, o que não significa que o atual chefe da delegação de negociadores da COP25 não tenha competência. Mas, hierarquicamente, ele não pode falar com o embaixador de outro país. O governo tomou decisões que vão desde o negacionismo climático até dizer que, efetivamente, o país já fez o dever de casa. Isso sem que o Brasil tenha sequer implementado sua INDC.
#COLABORA – O ministro do Meio Ambiente já anunciou que vai à Madri pedir dinheiro para conter o desmatamento?
Izabella – Essa conferência tem uma agenda de definição do livro de regras do Acordo de Paris e seu artigo 6, que trata do mercado de carbono. O Brasil tem, historicamente, posições divergentes de outros países neste tópico. Resta saber se o Brasil vai levar alguma posição que chegue ao consenso nestas negociações. Se a posição do Brasil será ou não recepcionada nas negociações, no campo político, é difícil prever.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]O Fundo Amazônia foi para desenvolver projetos de atividade econômica na região que mantivesse a floresta em pé. Ou seja, o Fundo veio para evitar novos desmatamentos
[/g1_quote]#COLABORA – A senhora acha que o Brasil deveria receber dinheiro lá de fora para conter o desmatamento?
Izabella – Do ponto de vista da Convenção de Clima, o Brasil é um país em desenvolvimento; do ponto de vista da economia real, sua economia é emergente. Não usamos dinheiro do exterior para combater o desmatamento. O Fundo Amazônia foi para desenvolver projetos de atividade econômica na região que mantivesse a floresta em pé. Ou seja, o Fundo veio para evitar novos desmatamentos.