Com a seca extrema enfrentada pelo Rio Grande do Sul, o Pampa teve 28.610 hectares queimados entre janeiro e julho de 2022, o que representa aumento de 3.372% (mais 27.780 ha) em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados do Monitor do Fogo, nova plataforma do MapBiomas, lançada na semana passada. “A estiagem prolongada e intensa vem favorecendo essa explosão no número de queimadas”, apontou o biólogo Eduardo Vélez, membro da Equipe Pampa do MapBiomas, após o lançamento. “Os números do Pampa são preocupantes porque vêm numa escalada de aumento desde 2019. A cada ano, praticamente, dobra a área desmatada. Então, isso projeta para o futuro uma expectativa de que este desmatamento aumente de forma crescente”, acrescentou.
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O climatologista Francisco Eliseu Aquino destacou que o avanço do desmatamento na Amazônia afeta o clima no Sul do país, além de ter impactos globais. “Quanto maior o desmatamento ou a mudança da cobertura natural da superfície de regiões gaúchas, associados a um Rio Grande do Sul mais quente, com redução de chuvas no inverno, com o aumento de precipitação na primavera e no outono, mais teremos períodos de estiagem, de solo exposto e degradado por chuva intensa concentrada e erosão de solo. Um processo está intensificando o outro”, explicou Aquino, professor de Climatologia do Departamento de Geografia e diretor do diretor substituto do Centro Polar e Climático da da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O bioma Pampa está restrito ao Rio Grande do Sul, onde ocupa uma área de aproximadamente 193.836km², que corresponde a 69% do território estadual e a apenas 2,3% do território brasileiro. O estado entre janeiro e fevereiro de 2022, se manteve com 100% de seu território com seca – condição que permanece consecutivamente há um ano e cinco meses, ou seja, desde outubro de 2020. De acordo com o MapBiomas, a área mais alterada pelo fogo no Pampa é na região identificada como Serra do Sudeste, localizada entre as cidades de Encruzilhada do Sul, Caçapava do Sul, Pinheiro Machado e Herval. No ano passado, um único alerta teve suprimidos 464 hectares de vegetação nativa em Pedras Altas, que fica na região destacada pelo MapBiomas.
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Veja o que já enviamosA supressão de vegetação nativa do Pampa tem crescido de maneira descontrolada. O Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, elaborado pelo MapBiomas e divulgado em julho, revela que o desmatamento no bioma cresceu 92,1% em 2021, quando comparado ao ano anterior. Também de acordo com Mapbiomas, o Pampa foi também o bioma que mais perdeu áreas naturais – sempre percentualmente – no período de 2000 a 2018 no país, principalmente pelo avanço da soja na agricultura. O relatório anual aponta que o pico do desmatamento ocorre na primavera, entre setembro e outubro.
O ano mais seco influiu nos números exacerbados. “A seca extrema que castigou a Região Sul, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, facilitapu o avanço das queimadas”, indicou Ane Alencar, diretora do Ipam e coordenadora do Monitor do Fogo. “O desmatamento da Amazônia, do Cerrado, a diminuição do bioma Pampa e da Mata Atlântica vão combinar na intensificação da mudança climática global e, principalmente, em toda a bacia do Prata, no Centro-Sul e no Sudeste do Brasil, com secas cada vez mais intensas e prolongadas”, disse o professor Francisco Aquino.
Monitor do Fogo: área queimada maior na Amazônia
Os dados deste novo Monitor do Fogo – passará a fazer uso de imagens do satélite europeu Sentinel 2 e trará informações mensais – mostram que, no total, 2.932.972 hectares foram consumidos por queimadas nos primeiros sete meses do ano, 2% a menos que em 2021. “São quase 3 milhões de hectares atingidos por queimadas, o tamanho do estado de Alagoas. É muito alarmante”, afirmou Ane Alencar, durante o lançamento do Monitor do Fogo.
Além do Pampa, o outro bioma onde foi registrado aumento da área queimada no período, foi a Amazônia, onde o fogo atingiu uma área de 1.479.739 hectares, quase a metade do total. Os dados dos sete primeiros meses de 2022 mostram que três em cada quatro hectares queimados
foram de vegetação nativa, sendo a maioria em campos naturais. Porém, as florestas representam um quinto de tudo que foi queimado no período. Metade das cicatrizes deixadas pelo fogo localizam-se no bioma Amazônia, onde 16% da área queimada corresponderam a incêndios florestais – ou seja, áreas de floresta úmida que não deveriam queimar.
No Cerrado, a área queimada entre janeiro e julho de 2022 (1.250.373 hectares) foi 9% menor que no mesmo período do ano passado, porém 5% acima do registrado em 2019 e 39% maior que em 2020. O mesmo padrão foi identificado na Mata Atlântica, onde houve uma queda de 16% em relação a 2021 (ou 14.281 hectares), porém um crescimento de 11% em relação a 2019 e 8% na comparação com 2020. O Pantanal, por sua vez, apresentou a menor área queimada nos últimos quatro anos (75.999 hectares), com 19% de redução de 2022 para 2021 em relação a área queimada de janeiro a julho.
De acordo com o MapBiomas, o satélite Sentinel 2 tem duas importantes características para esse tipo de mapeamento: ele passa a cada cinco dias sobre o mesmo ponto, aumentando a possibilidade de observação de queimadas e incêndios florestais; além disso, tem resolução espacial de 10 metros. Isso acrescenta cerca de 20% a mais na área queimada em relação aos dados do MapBiomas Fogo coleção 1, que traz o histórico de fogo anualmente desde 1985. Também permite que a partir de agora os dados sejam divulgados mensalmente.
O Monitor de Fogo revela em tempo quase real (diferença de um mês) a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição que é apontada pelos focos de calor da plataforma do INPE. “Este produto é o único nessa frequência e resolução a fornecer esses dados mensalmente, o que facilitará muito a prevenção e combate aos incêndios, indicando áreas onde o fogo tem se adensado”, explicou Ane Alencar, coordenadora do Monitor do Fogo do MapBiomas.