A crise climática e a justiça ambiental ocuparam uma das seis mesas do ciclo de encontros “#Colabora 6 anos: 6 debates fundamentais”, para marcar o sexto ano do projeto #Colabora. Um tema complexo por envolver várias áreas, o que exige uma análise multidisciplinar e multilateral para abordar os efeitos da mudança climática sobre o meio ambiente e a justiça ambiental, isto é, o aquecimento global e os impactos dessas mudanças sobre as populações.
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Participaram do encontro, mediado pela jornalista Liana Melo, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, e a cientista Suzana Kahn, do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), além de vice-diretora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
No debate ressaltaram-se, além dos impactos ambientais do aquecimento global, os efeitos sociais, sobretudo o aumento da desigualdade, os êxodos forçados, o risco sobre a insegurança alimentar e a crise hídrica, entre outros desafios. Também abordaram o choque de interesses entre governos e grupos econômicos, e a falta de engajamento de China e EUA, as duas principais potências econômicas.
Suzana Kahn fez um balanço da reunião do clima, a COP 26, em Glasgow, na Escócia, destacando a participação da população civil no evento, sobretudo da juventude, para pressionar os líderes mundiais presentes no encontro, colocando-se com a autoridade de uma geração que enfrentará os efeitos das mudanças climáticas. A cientista do IPCC destacou ainda a imposição de uma nova economia, que trará desafios globais.
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Veja o que já enviamosO Brasil também mereceu um diagnóstico crítico, sobretudo em relação à gestão de Jair Bolsonaro e sua agenda a favor do desmatamento e de incentivo à ocupação de áreas ambientais estratégicas, sobretudo a Amazônia e o Cerrado. Segundo Suzana Kahn, a COP-26 deixou evidente a falta de sintonia entre o governo e a sociedade civil.
Já Márcio Astrini afirmou que o Brasil tem um enorme potencial, mas o governo anula essa capacidade. Ele lembrou que, em apenas três anos, o governo apoiou uma política de ocupação, que fez o desmatamento da Amazônia crescer 76%. “Não há nada que justifique isso”, disse. Astrini afirmou ainda, referindo-se ao ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que “se o governo não tem intenção de ajudar, que pelo menos não atrapalhe”. Ele lembrou que o ministro defendeu na COP-26 o direito ao desmatamento.
Marcio Astrini e Suzana Kahn concordaram que não há grupos econômicos e governos “bonzinhos”. Por trás das cobranças em relação ao Brasil, há interesses protecionistas. Mas isso não elimina o fato de que há muito a ser feito aqui, especialmente em setores energéticos, de pecuária e agricultura, entre outros. O Brasil é privilegiado, mas o governo tem uma visão muito pobre sobre o assunto, guiada por um negacionismo sem sentido.
Os dois destacaram que os desafios são imensos, não apenas em relação ao clima e ao meio ambiente, mas com respeito aos efeitos sociais sobre as populações mais vulneráveis. As mudanças terão impactos no campo e nas áreas urbanas. A questão do clima não é só temperatura e pressão, são os efeitos disso na alimentação, no acesso à água potável e energia limpa, os impactos nos transportes, entre outros, disse Kahn. Astrini vê as mudanças como irreversíveis. “Não vamos salvar o planeta; vamos no máximo nos salvar nele”.