A vitória de Donald Trump provoca calafrios. Considere, por exemplo, o futuro da humanidade e do planeta. Não se trata de exagero retórico. Ele quer jogar no ralo as conquistas arduamente obtidas pela comunidade internacional nos últimos 40 anos, no que se refere ao combate à emissão de gases-estufa e às metas para manter a Terra habitável para as futuras gerações.
Enquanto Trump saboreia a vitória, a Conferência da Onu Sobre Mudanças Climáticas (COP 22) se realiza até dia 18 em Marrakesh, no Marrocos. O principal foco da conferência é pôr em prática o Acordo de Paris, negociado em novembro de 2015 e aprovado a 12 de dezembro por 197 países, com total apoio do presidente Barack Obama.
Uma das promessas de Trump é retirar os EUA do tratado. Ou seja: livrar o segundo maior poluidor do mundo dos compromissos assumidos com outras 197 nações e com o futuro da humanidade. O que está, aliás, em linha com declarações do ainda candidato de que o aquecimento global não passa de um embuste criado pela China para prejudicar a competitividade da indústria americana.
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Veja o que já enviamosVamos ver algumas das iniciativas prometidas por Trump:
- Retirada dos EUA do Acordo de Paris
A meta do tratado é manter o aumento da temperatura média global em menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais e fazer um esforço para ir além – limitar essa elevação a 1,5º C. O Brasil assumiu o compromisso de cortar as emissões de gases-estufa em 37% até 2025, com o indicativo de redução de 43% até 2030, em comparação aos níveis de 2005.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]Em tese, se Trump cumprir a promessa, a China poderá ir em duas direções: manter os compromissos assumidos no tratado e sacramentar os EUA como o grande vilão climático mundial; ou se sentir livre para também deixar de cumpri-lo, o que seria o pior dos mundos
[/g1_quote]Trump pode simplesmente retirar os EUA do acordo firmado por Obama? Segundo a Ministra do Meio Ambiente da França, Ségolène Royal, não. Ela disse ao jornal inglês “Independent” que o acordo proíbe a saída de um país signatário por três anos, mais um ano de “aviso prévio”, o que daria um período de estabilidade de quatro anos.
Alvo da declaração de Trump sobre o “embuste” do aquecimento global, a China, o maior poluidor, tornou-se recentemente o maior investidor mundial em energia renovável. Confrontado com a promessa do presidente eleito dos EUA de retirar seu país do tratado, o principal negociador chinês, Xie Zhenhua, disse ao Independent: “Se eles resistirem à tendência (de aceitar as provas científicas do aquecimento global), acho que não terão o apoio da população e o progresso econômico e social do país será afetado. Entendo que um líder sábio deve adotar posições de acordo com as tendências globais”.
Em tese, se Trump cumprir a promessa, a China poderá ir em duas direções: manter os compromissos assumidos no tratado e sacramentar os EUA como o grande vilão climático mundial; ou se sentir livre para também deixar de cumpri-lo, o que seria o pior dos mundos.
2. Derrubada das medidas pró-ambiente do governo Obama
A política ambiental de Trump é pautada por sua negação de que as mudanças climáticas sejam reais ou relevantes. Segundo o site Law Street Media, seu plano original era abolir inteiramente a Agência de Proteção Ambiental (EPA), cujo raio de ação foi significativamente ampliado por Obama. Mas como isto não está entre seus poderes unilaterais, o que contará mesmo é quem ele escolherá para dirigir a agência. Se depender de quem indicou para chefiar a equipe de transição, a situação é preocupante. Trata-se de Myron Ebell, diretor do Centro para Energia e Meio Ambiente, um think tank conservador, que usa dados científicos questionáveis para denunciar o “alarmismo global sobre o aquecimento”.
Ebell acredita que o Clean Power Plan (Plano da Energia Limpa), de Obama, que mudará profundamente a produção futura de energia nos EUA, é não só um enorme desperdício de recursos públicos mas também ilegal, devido à carga de regulamentação que impõe aos negócios no país.
3) Remover o máximo possível de regulamentação
Trump e equipe encaram as exigências criadas nos últimos anos para que as atividades econômicas emitam menos poluentes como obstáculos ao crescimento da produção e à criação de empregos. Segundo Law Street Media, os planos do presidente eleito incluem a liberação de espaços federais sob proteção, na terra e no mar, para exploração de petróleo e gás.
Colocar uma área sob proteção federal é uma das poucas armas de um presidente dos EUA para proteger o meio ambiente. Tanto George W. Bush quanto Bill Clinton usaram amplamente esse recurso, no caso de Clinton especificamente para evitar que companhias de óleo e gás fizessem perfurações em determinadas áreas. “A tentativa de Trump de usar seu futuro poder como chefe do Executivo para remover esses obstáculos é como se um presidente lutasse diretamente contra o legado de outro”, observou o site Law Street Media.
4) Ênfase na produção de óleo e gás
Em artigo no site “The Conversation”, o diretor do Instituto de Energia da Universidade de Michigan, Mark Barteau, relatou que a produção doméstica de óleo e gás aumentou substancialmente, tornando os EUA os maiores produtores mundiais de energia e reduzindo a dependência americana do óleo importado de 57% para 24%, desde a eleição do presidente Obama.
Trump fala numa “revolução energética”, que produziria uma “nova e vasta riqueza” para o país. Nada a ver com a revolução energética preconizada por Obama, baseada, em grande parte, em novas tecnologias e em energias renováveis e limpas. Para Trump, trata-se de abrir novas áreas, inclusive sob proteção, para a produção de óleo, gás e até mesmo carvão, num perigoso retrocesso.
A única limitação em sua política “perfure, baby, perfure” e “cave, baby, cave” é o reconhecimento de que as comunidades devem ter o direito de opinar sobre a permissão para, por exemplo, o uso da técnica de fraturamento hidráulico, utilizada na obtenção de óleo e gás de xisto.
5) Ameaça à Energia renovável
Trump fez declarações no mínimo preocupantes sobre fontes renováveis de energia. A seu ver, energia solar é OK, mas pouco competitiva em termos de custos. Ele também sugeriu que a energia eólica é uma “matadora de águias” e deixa para trás carcaças de turbinas obsoletas na paisagem. Na sua concepção, nenhuma das duas merece subsídios.
Por outro lado, afirmou que protegerá o Renewable Fuel Standard (RFS – Padrão de Combustível Renovável), que estimula a produção de biocombustíveis, como etanol à base de milho. Mas ele deverá descobrir que esta é uma questão controversa entre seus próprios partidários, variando de acordo com os diferentes interesses dos estados.
Segundo Mark Barteau, a “revolução energética” de Trump se baseia na expansão da produção convencional de energia e na oposição a tudo que a limite. E sua política para o clima é totalmente afinada com a visão de que os controles sobre a emissão de gases-estufa devem ser eliminados.
Para Khalid Pitts, diretor do grupo ambientalista americano Sierra Club, “os líderes mundiais evoluem, mas a ignorância científica de Donald Trump continua a mesma”. Em declaração ao “Independent”, frisou que “eleger um defensor da teoria da conspiração científica na questão climática, como Trump, tornará os EUA alvo de chacota e prejudicará nosso papel de liderança mundial. Não se negocia com o derretimento de geleiras, nem com a elevação dos mares. A incapacidade moral de Donald Trump de reconhecer a crise climática pode muito bem significar um desastre em escala planetária”.