Entre a poesia e a eficácia na COP 23

O protesto da jovem manifestante na abertura da COP 23. Foto Alban Grosdidier / Hans Lucas

No jogo do aquecimento global, muitas regras, pouco foco no bem comum e a esperada vitória da economia

Por Suzana Kahn | ODS 13 • Publicada em 9 de novembro de 2017 - 15:08 • Atualizada em 10 de novembro de 2017 - 14:33

O protesto da jovem manifestante na abertura da COP 23. Foto Alban Grosdidier / Hans Lucas
O protesto da jovem manifestante na abertura da COP 23. Foto Alban Grosdidier / Hans Lucas
O protesto da jovem manifestante na abertura da COP 23. (Foto Alban Grosdidier / Hans Lucas)

A vigésima terceira conferência das partes sobre o clima, ou COP23, está sendo presidida este ano por Fiji, arquipélago no Pacífico, muito vulnerável ao aumento do nível do mar, uma das muitas consequências do aquecimento global. Pouco se espera da COP23, até porque, caso seja um sucesso, o resultado será uma espécie de manual com as regras de implementação do Acordo de Paris.  No entanto, de que serve um manual de um jogo que não se pretende jogar?

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Das dez maiores economias mundiais, sete já atribuem valor ao carbono seja em mecanismos de mercado seja em taxação direta cobrindo mais de 12% das emissões globais de gases de efeito estufa. Com isso, inúmeras alternativas tecnológicas, que hoje não são viáveis economicamente, passarão a sê-lo

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Com o intuito de facilitar o engajamento das nações, o presidente da COP23 criou o chamado Dialogo Talanoa, inspirado em um conceito de Fiji de compartilhar conhecimento e estimular ampla participação de forma a se chegar a decisões que sirvam ao bem comum. Muito poético e pouco efetivo, pelo menos ao se analisar o histórico dos mais de 20 anos de negociação climática.

Indubitavelmente ocorreram sucessos ao longo da trajetória das COPs, muitos países reduziram suas emissões outros as estabilizaram, mas nada disso aconteceu por conta do bem comum.

Manifestantes protestam contra a falta de objetividade em mais uma Conferência do Clima (Foto Alban Grosdidier / Hans Lucas)

Os primeiros países que reduziram drasticamente as emissões foram os do leste europeu, que formavam a antiga República Soviética. Posteriormente o Reino Unido que deixou de usar carvão em suas termelétricas uma vez que causavam grande dano a qualidade do ar de seus cidadãos. Outros países europeus também deixaram de aumentar suas emissões pois já não crescem mais. Um recente relatório do WRI – World Resource Institute, mostra que 49 países dos 197 que ratificaram o Acordo de Paris, incluindo EUA que ainda permanece, apesar da intenção de sair, já atingiram seu pico de emissões, o que representa 36% das emissões globais, tendo como base os dados de 2010. Além dos países europeus, o Brasil está incluído neste grupo por conta da redução das taxas históricas de desmatamento.

Estas reduções ou na maioria dos casos, estabilização das emissões teve como principal fator motivador, interesses do próprio país. Desmatar por exemplo não traz benefícios econômicos, ao contrário, é uma enorme perda para a nação. Alternativas energéticas representam um novo mercado e novas possibilidades de negócios. Assim, ações de redução de emissão de carbono precisam ser economicamente atraentes para os países adotarem. Nesse sentido, paralelamente às soluções tecnológicas, inovações na área de financiamento também estão em curso. Temas como precificação, mercado e taxação de carbono vêm sendo discutidos no mundo todo. Das dez maiores economias mundiais, sete já atribuem valor ao carbono seja em mecanismos de mercado seja em taxação direta cobrindo mais de 12% das emissões globais de gases de efeito estufa. Com isso, inúmeras alternativas tecnológicas, que hoje não são viáveis economicamente, passarão a sê-lo.

E será através de soluções interessantes economicamente que se avançará na agenda climática.

Pode ser louvável a tentativa “Dialogos Talanoa”, mas como dizia o  marqueteiro de Clinton, James Carville, quando apostou que Bush não era invencível com o país em recessão, cunhou a frase: “É a economia, estúpido!”

Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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