Desmatamento: 75% dos responsáveis podem ser identificados

Área de floresta derrubada no noroeste do Mato Grosso: relatório do Mapbiomas mostra que 99% do desmatamento é ilegal e os responsáveis por 75% das áreas desmatadas podem ser identificados( Foto: Mayke Toscano/Secom/MT/Fotos Públicas)

Relatório do Mapbiomas, com imagens de satélites, mostra detalhadamente todas as áreas desmatadas no país: mais de 99% do desmatamento é ilegal

Por Oscar Valporto | ODS 13ODS 15 • Publicada em 26 de maio de 2020 - 15:52 • Atualizada em 28 de maio de 2020 - 11:03

Área de floresta derrubada no noroeste do Mato Grosso: relatório do Mapbiomas mostra que 99% do desmatamento é ilegal e os responsáveis por 75% das áreas desmatadas podem ser identificados( Foto: Mayke Toscano/Secom/MT/Fotos Públicas)
O 1º Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, realizado pelo Mapbiomas, mostra que, além do avanço da destruição de vegetação nativa com mais de 1 milhão de hectares desmatados (1.218.708 hectares ou 12.187 km², área equivalente a oito vezes o município de São Paulo), 75% dos responsáveis pelas áreas desmatadas ilegalmente podem ser identificados. “O relatório indica que três quartos dos alertas de desmatamento ocorreram, pelo menos parcialmente, em áreas registradas no Cadastro Ambiental Rural. Portanto, permite aos órgãos de fiscalização identificar e, se for o caso, processar os responsáveis pelo desmatamento”, afirmou o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do Mapbiomas, durante o lançamento do relatório, nesta terça (26/3), através de videoconferência.
 
Criado em parceria por dezenas de entidades – universidades, ONGs e empresas de tecnologia – com foco no monitoramento das mudanças na cobertura e uso da terra no Brasil, o MapBiomas é um sistema de validação e refinamento de alertas de desmatamento, degradação e regeneração de vegetação nativa com imagens de alta resolução, todas geradas por satélites, que podem ser usadas pelos órgãos de fiscalização e também pelas autoridades policiais e o Ministério Público. Neste relatório, pela primeira vez, alertas de desmatamento em todo o território nacional foram analisados e consolidados em um levantamento único, apontando que o Brasil perdeu de vegetação nativa. Os números indicam que, em 2019, foram desmatados 3.339 hectares por dia – o equivalente a 4.650 campos de futebol por dia.
 
O coordenador do Mapbiomas destacou outros dados importantes do relatório: 99% dos desmatamentos foram ilegais porque ocorreram em áreas de preservação, que jamais poderiam ser desmatadas, ou em áreas onde não havia autorização. “Os laudos emitidos pelo Mapbiomas para as áreas desmatadas vão servir para processar os responsáveis porque 75% dos alertas ocorreram em áreas em que há um declarado proprietário”, afirma Azevedo, acrescentando ainda que o relatório desmente a falácia de que os desmatadores são, em geral, pequenos proprietários. “A grande maioria dos alertas detectados foram em áreas grandes e realizados em uma velocidade que mostra o uso de máquinas e escala industrial”, acrescentou.
 
Secretário-executivo do Observatório do Clima, uma das entidades do Mapbiomas, o ambientalista Marcio Astrini, que também participou do lançamento, destacou que o relatório mostra como o desmatamento está avançando de maneira descontrolada e ilegal. “O relatório mostra o que acontece e onde acontece. Só faltava apontar o porquê. Se tivesse um satélite indicando as razões, ele apontaria para o Palácio do Planalto e o Ministério do Meio Ambiente porque é o governo quem incentiva o desmatamento ao acabar com o Fundo Amazônia e ir desmantelando o Ibama e o ICMBio”, afirmou Astrini.
 
Área desmatada ilegalmente por madeireiros no Pará: estado teve o maior número de pontos de desmatamento e a maior área desmatada em 2019 (Foto: Ronan Frias/Semas-PA/Fotos Públicas)
Área desmatada ilegalmente por madeireiros no Pará: estado teve o maior número de pontos de desmatamento e a maior área desmatada em 2019 (Foto: Ronan Frias/Semas-PA/Fotos Públicas)

Os números do relatório do Mapbiomas são eloquentes:

 
O Brasil teve  56.867 pontos de desmatamento no Brasil
 
11% dos alertas de desmatamento em unidades de conservação
 
6% dos alertas em terras indígenas
 
+ de 99% do desmatamento em 2019 foi ilegal: ou não tinha autorização ou estava em área de preservação
 
12 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa foram destruídos
 
A Amazônia teve 47.289 pontos de desmatamento – 83% do total – que representaram 770 mil hectares de área desmatada (63%)
 
No Cerrado, foram 7.402 pontos de desmatamento (13%), que levaram a 408 mil hectares de área desmatada (33,3%) – o que significa que os desmatadores destruíram áreas maiores de cada vez
 
Foram registrados ainda 1390 alertas de desmatamento e 10 mil hectares de área atingida na Mata Atlântica; 523 pontos e 12 mil hectares na Caatinga; 215 alertas e 16,5 mil hectares no Pantanal; e 68 pontos e 642 hectares no Pampa
 
O tamanho médio das áreas desmatadas foi de 21 hectares (30 campos de futebol), nada pequeno – as médias maiores foram no Pantanal (77 hectares, 100 campos de futebol) e na Caatinga (55 hectares).  A maior área desmatada foi registrada na Amazônia: 4.451 hectares (mais de 6 mil campos de futebol)
 
O Brasil registrou uma média de 156 alertas por dia, com 3.339 hectares desmatados diariamente – 4.650 campos de futebol por dia
 
O Pará registrou o maior número de pontos de desmatamento – 18.564 – e a maior área desmatada: – quase 300 mil hectares. Mato Grosso teve a segunda maior área desmatada (201 mil hectares) em 4701 alertas, o que mostra que avanço maior sobre a vegetação em cada ponto atacado 
 
Em 2019, 1734 municípios – quase um terço do total do país – em todos os 26 estados e no Distrito Federal registraram pontos de desmatamento.
 
O município de Altamira, no Pará, teve a maior área desmatada – 54 mil hectares – e São Felix do Xingu, também no Pará, o maior número de alertas: 1.716, média de quase cinco alertas por dia.
Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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