Moda submerge na Ásia

Áreas da China e do Vietnã com grande fornecedores da indústria de vestuário estarão sob a água até o fim da década

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13 • Publicada em 9 de agosto de 2021 - 10:20 • Atualizada em 18 de agosto de 2021 - 09:52

Bombeiros chineses retiram moradores durante enchente em Guangzhou, no sul da China: polo da indústria da moda, terceira cidade do país pode ter muitas fábricas sob as águas até o fim da década, aponta estudo (Foto Cai Zirong / Imaginechina / AFP – 19/04/2019)

Grandes áreas onde se encontra a produção de roupas na Ásia estarão debaixo de água até 2030, segundo uma análise divulgada recentemente, ameaçando milhares de fornecedores da indústria da moda com a submersão, a menos que se realoquem para locais mais altos.

Mais: Como saber se minha roupa foi feita com trabalho escravo?

O estudo, produzido por dois pesquisadores da Universidade Cornell, adverte que o problema da elevação do nível do mar está recebendo pouca atenção daqueles que lideram os esforços de sustentabilidade no setor. “Aumentos rápidos do nível do mar e do calor que afetam diretamente trabalhadores na área recebem pouca atenção”, dizem os autores.

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Enquanto fornecedores transnacionais podem fechar fábricas em áreas vulneráveis à crise climática, os fornecedores de menor escala da indústria da moda serão os mais impactados.

Os dados utilizados pelo International Centre for Climate Change and Development na Universidade Independente Central do Clima são baseados em projeções de bancos de dados globais publicados em revistas científicas.

Os mapas mostram a situação mais grave nas litorâneas Ho Chi Minh City, Vietnã, e Guangzhou, China, onde 60% a 65% das fábricas estarão abaixo do nível das enchentes médias anuais até o final da década. A chinesa Guangzhou, terceira maior cidade do país e conhecida pela sua fabricação de peças de vestuário, vem sofrendo seguidas enchentes nos últimos quatro anos.

Fábrica de roupas em Guangzhou, no sul da China: polo da indústria da moda no país pode submergir com crise climática e aumento do nível do mar (Foto: Zheng Jianxin / Imaginechina / AFP - 20/11/2020)
Fábrica de roupas em Guangzhou, no sul da China: polo da indústria da moda no país pode submergir com crise climática e aumento do nível do mar (Foto: Zheng Jianxin / Imaginechina / AFP – 20/11/2020)

Ainda há efeitos que pioram a situação. Mais fábricas de roupas devem usar água reciclada para plantações como a de algodão e reduzir ou remover água de seus processos de tintura para diminuir o desperdício e eliminar os poluentes de sistemas de água locais. E o tempo de vida de uma peça de roupa tem de ser maximizado por entidades de caridade. No Reino Unido, 30% das roupas ainda utilizáveis vão parar no lixo.

A indústria da moda depende muito da água para a produção de roupas, desde a irrigação de plantações até o tingimento de fibras cruas. Cerca de 70% do algodão plantado no mundo usa irrigação natural, o que vai reduzir o suprimento de água no longo prazo.

O algodão responde por 33% de todas as fibras encontradas em têxteis. São necessários 2.700 litros de água apenas para fazer uma simples camisa. E os consumidores de hoje se apegaram à fast fashion, responsável por uma grande parte do impacto ambiental do setor de moda, já que as tendências mudam quase que semanalmente. De acordo com o World Resources Institute, os consumidores atuais compram 65% a mais de roupas do que há 20 anos e as usam pela metade do tempo.

Já em Bangladesh, as exportações subiram 15% e chegaram a US$ 38.76 bilhões de dólares no ano fiscal terminado em junho – uma recuperação na demanda provocada pela retomada de economias ocidentais.

As vendas de roupas estão em alta de novo à medida que as medidas contra o vírus são relaxadas e muitas pessoas saem de casa e fazem planos para as férias. No ano passado, a pandemia foi um desastre para a indústria da moda; crescimento foi de quase 13%, maior que no mesmo período de 2019. O comércio eletrônico teve papel importante em salvar não apenas a indústria da moda, mas todo o setor de varejo durante a pandemia.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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