O relatório científico da ONU mostra que ninguém está a salvo dos efeitos acelerados da mudança do clima e que há necessidade urgente de preparar e proteger as pessoas da crise climática, com temperaturas extremas e elevação do nível do mar mais notáveis do que o previsto.
O trabalho do Painel Intergovernamental da Mudança do Clima (IPCC, criado em 1988 por iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Organização Meteorológica Mundial), escrito por 234 cientistas, diz que o aquecimento global de cerca de 1,1 centígrado acima dos níveis pré-industriais trouxe muitas mudanças em regiões diferentes, de secas e tempestades mais severas à elevação do nível do mar.
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Funcionários da ONU afirmaram que o IPCC tem soado cada vez mais o alarme sobre a crise climática em seus relatórios regulares nas últimas três décadas, mas que isto não induziu respostas políticas adequadas.
“O mundo ouviu mas não escutou, o mundo ouviu mas não agiu com força suficiente. Como resultado, a mudança do clima é um problema presente”, disse Inger Andersen, diretor executivo do programa ambiental da ONU.
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Veja o que já enviamosSegundo o diretor do IPCC, Hoesung Lee, o relatório fornece um melhor entendimento da mudança do clima e como ela já se manifesta em todo o mundo. “Ele nos diz ser indisputável o fato que as atividades humanas estão causando mudança no clima e tornando eventos extremos do tempo mais frequentes e severos”, afirmou.
Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, disse que os planos atuais dos governos de cortar emissões poderiam, se confirmados e implementados, limitar o aquecimento global a 2,1°C.
Mas estes níveis de temperatura poderiam trazer ainda muitos problemas, incluindo escassez alimentar, calor extremo, incêndios florestais, elevação do nível do mar, uma potencial crise de refugiados e impactos negativos para a economia global e a biodiversidade.
Segundo Taalas, além de cortar emissões “é essencial prestar atenção à adaptação ao clima, já que a tendência negativa vai continuar por décadas e, em alguns casos, por milhares de anos.”
António Guterres, secretário-geral da ONU, disse que o relatório é um “alerta vermelho para a humanidade”, ao destacar as conclusões do IPCC. “Os sinos do alarme são ensurdecedores e a evidência é irrefutável: os gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis e o desflorestamento estão sufocando nosso planeta e colocando bilhões de pessoas em risco imediato”, declarou.
Muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, se não em centenas de milhares de anos, e algumas delas já estão em curso, como no caso dos mares. E serão irreversíveis por centenas a milhares de anos.
As soluções são claras, de acordo com o secretário-geral: “Este relatório deve soar como um fim para o carvão e os combustíveis fósseis antes que destruam nosso planeta. Os países devem também acabar com todas as novas explorações e produção e levar os subsídios para a energia renovável. Até 2030 a capacidade solar e eólica deve quadruplicar e os investimentos em energia renovável devem triplicar para manter uma trajetória de carbono zero até meados do século”.
O relatório sobre a crise climática foi aprovado por 195 países membros do IPCC, após uma sessão virtual de aprovação que durou duas semanas. Seus autores são de 66 países diferentes. A atualização de agora é semelhante a um relatório de 2013 e incorporam o corpo de pesquisa apresentado em publicações científicas desde então.
Quase todas as regiões do mundo fora das áreas polares presenciaram um aumento de eventos extremos de calor desde os anos 1950. Em torno do planeta, ondas de calor extremo agora ocorrem com frequência cinco vezes maior que entre 1850 e 1900 (ou o que se refere como período pré-industrial). O calor também exacerba a seca em algumas regiões do mundo. Secas que aconteciam previamente uma vez por década agora são 70 por cento mais frequentes que na era pré-industrial.
“Este relatório é uma checagem da realidade”, disse Valérie Masson-Delmotte, co-diretora do grupo do IPCC responsável pelo trabalho. “Temos agora uma visão muito mais clara de passado, presente e futuro do clima, o que é essencial para entendermos para onde caminhamos, o que pode ser feito e como podemos nos preparar”.