Crise climática: Ásia ferve com calor recorde para abril

Com as temperaturas chegando a 45 graus Celsius, países asiáticos registram mortes, cortes de energia e fechamento de escolas

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 25 de abril de 2023 - 08:40 • Atualizada em 25 de novembro de 2023 - 13:39

Crianças e adultos aproveitam água de carro-pipa para tomar banho e encher vasilhas em Kolkata, na Índia: onda de calor no abril mais quente da história na Ásia (Foto: Debarchan Chatterjee / NurPhoto / AFP – 15/04/2023)

O abril mais quente da história está fazendo a Ásia, com os termômetros marcando acima de 40 graus em mais de 12 países desde o começo do mês. As ondas de calor atingem Índia e China, que, juntas, representam um terço da população mundial. Os meteorologistas registraram temperaturas de até 45° Celsius na Índia, Tailândia e Mianmar, e de 42°C a 43°C em Bangladesh, Laos, Vietnã, Nepal e China. São temperaturas que esses países não experimentam há décadas – e o verão nestas regiões só chega no fim de junho.

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No domingo, 16, pelo menos 13 pessoas morreram em consequência do calor durante uma cerimônia ao lar livre em que cerca de um milhão de espectadores esperaram cinco horas sob o sol, no estado indiano de Maharashtra, o mais populoso do país. Outras 20 pessoas, idosos na sua maioria, foram parar no hospital e mais de 300 precisaram de atendimento médico durante o evento, realizado com a temperatura acima de 38º C e alto nível de umidade.

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Pelo menos três estados da Índia determinaram o fechamento das escolas na semana passada, depois que a temperatura subiu acima de 40 graus C. Com o ar condicionado funcionando ao máximo em indústrias e residências, já houve alguns cortes de energia, mas as autoridades indianas temem um apagão se a onda de calor continuar – o mês de maio é tradicionalmente mais quente que abril. O departamento meteorológico indiano emitiu um “alerta laranja” para a onda de calor severa em cinco estados, com uma alta proporção de trabalhadores rurais que cumprem tarefas ao ar livre, mesmo enfrentando altos índices de calor e umidade.

Na vizinha Bangladesh, o governo está sendo forçado a cortar a energia de milhões de pessoas, pois o calor implacável, acima de 40 graus, levou a um aumento na demanda por energia, resultando em enormes déficits no fornecimento de eletricidade. O maior uso de bombas de irrigação pelos agricultores e um aumento da atividade comercial devido aos preparativos para as festividades do fim do mês sagrado do Ramadã contribuíram para o aumento da demanda e a necessidade de cortes de energia, de acordo com as autoridades do país.

O climatologista e historiador do clima Maximiliano Herrera afirma que esta é a pior onda de calor de abril na história da Ásia. É um período de calor “monstro” “como nenhum antes”, escreveu Herrera em sua conta do Twitter. “E ainda pode piorar”, acrescentou.

A Tailândia bateu seu recorde nacional de calor no fim de semana de 15 e 16 de abril com uma temperatura de 45,4 graus Celsius, registrada na província de Tak. O vizinho Laos também provavelmente atingiu sua temperatura mais alta de sua história, na quarta-feira, 19 (42,4ºC). No mesmo dia, estações meteorológicas registraram temperaturas máximas de 44,5ºC na Índia, 42.8ºC em Bangladesh, 42,4ºC no Vietnã, 42,2ºC no Nepal e 41.9ºC na China. Neste domingo, 23 de abril, os termômetros voltaram a registrar temperaturas acima de 41 graus na Tailândia, no Vietnã e na China.

De acordo com autoridades chinesas, centenas de estações meteorológicas no sul do país registraram seus recordes de calor para abril nas últimas três semanas. Na outra face da moeda da crise climática, o norte da China vem enfrentando temperaturas abaixo da média para abril com quebras de recorde de precipitação de neve em suas montanhas.

Essa onda de calor é especialmente intensa e assustadora por causa de sua extensão e por ter se espalhado por grande parte do continente. Mas eventos climáticos extremos têm ocorrido repetidamente nos países asiáticos desde a década passada. Em 2022, Índia, Paquistão e outras partes do sul da Ásia também sofreram com uma onda de calor extremo, que, de acordo com os cientistas, se tornou 30 vezes mais provável devido às mudanças climáticas.

A China também enfrentou a onda de calor mais severa de sua história no verão passado. O país foi obrigado a fechar fábricas. O período de calor extremo durou mais de 70 dias e se estendeu por quase 530.000 milhas quadradas (cerca de 1.372.694 quilômetros quadrados). “Não há nada na história climática mundial que seja minimamente comparável ao que está acontecendo na China”, disse Herrera em agosto de 2022. E ainda há muito tempo este ano para bater ainda mais recordes. A temporada de verão ainda nem começou na China.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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