A energia renovável está progredindo em quase todos os países com altas emissões de gases de efeito estufa, mas, ao mesmo tempo, o modelo de negócios de combustíveis fósseis, segue com tendências, aponta o Climate Change Performance Index (Índice de Desempenho em Mudança Climática – CCPI, na sigla em inglês) 2025, elaborado por três organizações ambientalistas europeias para avalia o progresso feito pelos maiores emissores relativamente às próprias emissões, às energias renováveis e à política climática.
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O Brasil caiu cinco posições no ranking e aparece na 28ª posição no CCPI 2025, figurando, como na listagem anterior, entre os países de desempenho médio; pela avaliação o país mostra um desempenho misto nas principais categorias do CCPI, com uma classificação média para Energia Renovável, Uso de Energia e Política Climática, e baixa para Emissões de GEE. O 23º lugar no ranking 2024 foi o melhor alcançado pelo Brasil nos últimos – o país chegou a estar em 38º em 2022, como resultado das políticas antiambientais do Governo Bolsonaro.
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Veja o que já enviamosO índice – elaborado destaca as contradições na maioria dos países. “A energia renovável está progredindo rapidamente em quase todos os países com altas emissões. No entanto, muitos países ainda estão se apegando ao modelo de negócios de combustíveis fósseis, especialmente para gás fóssil. Este ano, o CCPI 2025 pinta um quadro misto: enquanto 61 dos 64 países aumentaram a participação de renováveis em sua matriz energética nos últimos cinco anos, as tendências de emissão em 29 países ainda são classificadas como baixas ou muito baixas”, destaca o documento, apresentado durante a COP29, em Baku, no Azerbaijão.
Como nos anos anteriores, as três primeiras posições permanecem vagas no CCPI porque, de acordo com os organizadores do índice, os países ainda precisam acelerar suas ações climáticas para se alinharem ao limite de aumento de temperatura de 1,5ºC sobre os níveis pré-industriais estabelecido no Acordo de Paris.
A Dinamarca continua sendo o país mais bem classificado (4º lugar). Foi também o único país a alcançar um desempenho elevado na avaliação de políticas climáticas. Mesmo assim, não teve um desempenho suficientemente bom para obter uma classificação geral muito alta. Em seguida, vem a Holanda (5º lugar), “embora o novo governo sinalize perspectivas negativas para as políticas climáticas”, ressalvam as organizações. O Reino Unido foi o grande destaque deste ano, subindo para o 6º lugar. O abandono do carvão e o compromisso do governo de não conceder novas licenças para projetos de combustíveis fósseis foram fatores-chave para essa ascensão.
O relatório também destaca desempenhos negativos. “O exemplo da Argentina (59º), um dos maiores perdedores do CCPI deste ano, mostra como uma mudança de governo pode causar uma mudança radical na direção errada: a Argentina está entre os países com classificação mais baixa”, apontam os organizadores. Os quatro últimos colocados no CCPI são Irã (67º), Arábia Saudita (66º), Emirados Árabes Unidos (65º) e Rússia (64º). “Todos os quatro estão entre os maiores produtores de petróleo e gás fóssil do mundo. A participação de energias renováveis em sua matriz energética é inferior a 3%. Esses países não mostram sinais de transição para longe dos combustíveis fósseis”, afirma a análise, lembrando o termo – “transição para longe dos combustíveis fósseis” – usado no documento final da COP28, em Dubai.
O Brasil e suas contradições
A queda brasileira em relação ao relatório anterior se deve mais a avanços mais rápidos de outros do que o piora nos itens avaliados. “Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo em janeiro de 2023, a política climática do Brasil melhorou, continuando a melhorar neste último ano”, lembrando que o país estava preparando sua nova meta climática NDC para ser apresentada durante a COP29, em Baku.
O CCPI aponta ainda que seus especialistas no país observam desenvolvimentos positivos na política climática do Brasil, incluindo medidas fortes contra o desmatamento e uma redução substancial na taxa de desmatamento da Amazônia em 2023, o que leva a emissões mais baixas. O documento destaca que nem todas as reduções de emissões estão refletidas na classificação deste ano porque os dados de 2023 sobre uso da terra, mudança no uso da terra e florestas (LULUCF) ainda não estão disponíveis. “Esses dados podem melhorar a classificação do Brasil na categoria de Emissões de GEE. O desmatamento deve diminuir ainda mais em 2024, apesar de uma seca recorde alimentada pelas mudanças climáticas que levou a incêndios florestais extensos em todos os biomas”, ressalta o documento.
Os especialistas do CCPI também destacam para o crescimento considerável em energias renováveis, particularmente eólica e solar, que aumentaram de 35 GW para 67 GW nos últimos dois anos analisados (2022 e 2023). Enquanto a geração solar em pequena escala aumentou, os projetos eólicos e solares em grande escala no mercado aberto, fora dos leilões patrocinados pelo governo, também tiveram ganhos substanciais. “No entanto, os especialistas dizem que a infraestrutura energética continua inadequada, levando ao desperdício de potencial e problemas logísticos. Além disso, alguns projetos eólicos no Nordeste enfrentaram críticas de comunidades locais e desafios legais sobre questões de direitos humanos”, ressalvam os autores da análise.
Os dados positivos na redução das emissões, pelo combate ao desmatamento, no avanço das energias renováveis são confrontados com os investimentos em combustíveis fósseis. “Apesar dos ganhos em energia renovável, a dependência do Brasil em combustíveis fósseis contradiz sua política climática. O governo continua a apoiar novos empreendimentos de petróleo e gás com subsídios e investimentos em infraestrutura, particularmente na margem equatorial, enquanto os subsídios ao carvão permanecem em vigor até 2040. O Brasil está entre os 10 países com as maiores reservas de petróleo desenvolvidas e atualmente planeja aumentar sua produção de gás e petróleo”, afirma o CCPI, lembrando ainda que “dependência do país em energia hidrelétrica também levanta preocupações ambientais e vulnerabilidade à seca”.