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A retomada do protagonismo do Brasil no combate à crise climática

ODS 13 • Publicada em 2 de novembro de 2022 - 09:53 • Atualizada em 3 de novembro de 2022 - 09:43

Domingo foi um daqueles dias históricos e memoráveis que vão perpetuar por gerações. Uma noite de transpirar esperança, de atenuar o luto e respirar o início de um novo cenário político no Brasil. Nosso Brasil que, historicamente, é um país de muitos recomeços (re)elegeu um dos melhores presidentes que já tivemos. Luiz Inácio Lula da Silva está de volta para juntar os cacos de uma nação estraçalhada pela fome, pelo fascismo, pela desigualdade, pela crise climática e, sobretudo, por violações de direitos. Viva a democracia!

Leu essa? Uma vitória da humanidade

Nos últimos meses, me vi afundada em uma profunda depressão cívica. Minha temporada longe do Brasil encerrou no mês de setembro e, entre o fim de um ciclo e o retorno “à pátria amada”, compreendi que meu sentimento de deslocamento no Rio de Janeiro (e no próprio país) estava (e ainda está) diretamente conectado à crise democrática de um país totalmente desgovernado por Jair Bolsonaro. O pesadelo que começou nas eleições de 2018, agravado ainda mais pela pandemia, deixou muitas cicatrizes, perdas e retrocessos. Vivemos um horror quase interminável. Desesperadamente, 51% dos brasileiros e brasileiras votaram por uma nova memória política.

Enquanto sobreviventes de um governo marcado pelo autoritarismo e ondas de genocídios, é preciso celebrar esse novo capítulo com cautela. O terceiro mandato de Lula acende a luz amarela frente a uma série de urgências e batalhas complexas que serão travadas no Congresso Nacional. Derrotar Bolsonaro foi um passo crucial, mas o jogo contra todos os ataques à ciência, ao meio ambiente, aos povos indígenas, à população preta e pobre, às mulheres e às crianças ainda segue sendo uma zona inflamada de risco.

Ouvir o discurso de Lula na noite de domingo foi como um rito de passagem. Eu sinceramente nem lembrava mais como era ter um presidente. Ao destacar os valores da democracia, inclusão social, respeito, fraternidade e igualdade, senti uma gratidão imensa por estar viva para testemunhar um 30 de outubro histórico. “É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia a dia. Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas”, disse o petista. Nesse momento, desabei – novamente – em esperança, sentimento um tanto quanto anestesiado nos últimos quatro anos.

O presidente eleito Lula na Avenida Paulista após a vitória: "o Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a floresta amazônica" (Foto: Ricardo Stuckert - 30/10/2022)
O presidente eleito Lula na Avenida Paulista após a vitória: “o Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a floresta amazônica” (Foto: Ricardo Stuckert – 30/10/2022)

Mais adiante, o presidente traz mais uma notícia muito esperada: “o Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica”. Sem ingenuidade alguma, sabemos que a virada socioambiental depende de fatores-chave e, entre eles, está o enfrentamento dos plenários (bolsonaristas) do Congresso Nacional. A reconstrução da justiça climática e territorial, considerando todas as populações desproporcionalmente afetadas pelos eventos extremos, será uma prioridade árdua, considerando todos os prejuízos agravados até aqui.

O Observatório do Clima elencou três pilares mais urgentes da agenda climática nos quais Lula precisará agir o quanto antes. Primeiro, interromper sistemicamente o massacre dos povos indígenas e a devastação da Amazônia. Durante o período pré-eleitoral, por exemplo, foram oito mortes de indígenas e um suicídio espalhados no Pará, Mato Grosso do Sul, Bahia e Maranhão só no mês de setembro. Segundo, investir na retirada dos criminosos das terras indígenas responsáveis por usurpar territórios por meio do garimpo, mineração, extração de madeira e outras atividades ilegais. Por fim, reverter as taxas de desmatamento, cujo governo Lula foi responsável por quedas significativas entre 2005 e 2012.

Após dois dias “desaparecido”, Bolsonaro finalmente quebrou o silêncio e se pronunciou em rede nacional ontem. Em discurso medíocre com menos de três minutos sem, ao menos, uma narrativa consistente, ele ressaltou que “continuará cumprindo a Constituição”. De qual Constituição ele estaria falando? Certamente, ele está processando sua derrota e a perda do posto de presidente do Brasil. Diante de uma destruição sem precedentes, é com muito satisfação que nos despedimos de um dos líderes mais arrogantes, imprudentes, inconsequentes e tóxicos da história do Brasil. Mas lembremos: a despedida é da sua figura, pois os ecos do seu reinado ainda seguem ao redor. Portanto, cuidemo-nos! Cuidemos dos nossos e, como disse Lula, “da construção de um Brasil do tamanho dos nossos sonhos com oportunidades para transformá-los em realidade”.

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