2016: o ano da consolidação

O caminho em direção a uma economia de baixo carbono tornou-se irreversível

Por Marina Grossi | Economia VerdeODS 13ODS 14 • Publicada em 21 de janeiro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:44

Colocar o acordo climático prática exigirá grande capacidade de ação e clareza de objetivos de nossa sociedade
Colocar o acordo climático prática exigirá grande capacidade de ação e clareza de objetivos de nossa sociedade
Colocar o acordo climático prática exigirá grande capacidade de ação e clareza de objetivos de nossa sociedade

O ano de 2016 nasce sob a égide do sucesso alcançado pelo acordo global do clima. Nossa missão agora é garantir as condições para a consolidação de seus termos. O texto alcançado, que resultou de um inédito consenso entre os países participantes, será a base para a construção de um mundo mais sustentável nas próximas décadas. Colocá-lo em prática exigirá grande capacidade de ação e clareza de objetivos de nossa sociedade.

A meta definida é a de conter o aquecimento global em algum patamar abaixo de 2°C. Se formos capazes de garantir que não ultrapasse 1,5° C, estaremos, porém, mais seguros quanto à previsibilidade dos eventos que o aumento da temperatura da atmosfera ocasionará. A dimensão das mudanças necessárias para alcançarmos esse objetivo será enorme e representa uma sinalização importante em termos das ações que deverão ser empreendidas a partir de agora.

O acordo atual é mais efetivo do que foi o Protocolo de Quioto.  As Intenções de Contribuições Nacionalmente Determinadas (INDCs) dos 196 países deixam claras quais são as ambições dos países signatários, com prazos estabelecidos e metas concretas. Esse é o dado mais significativo, nenhum dos grandes emissores de CO2 se furtou a reconhecer suas responsabilidades em um processo que, por suas características próprias, tem de ser verdadeiramente multilateral.

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Estamos falando de uma mudança de matriz produtiva tão relevante quanto foram as revoluções promovidas, no passado, pela máquina a vapor ou pela eletricidade

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É preciso lembrar, no entanto, que acordos dessa envergadura não acontecem por força de arranjos de última hora. Para que Paris acontecesse, foi necessário, antes, um longo percurso, uma ampla articulação que passou pelo processo de construção INDCs. A somatória dessas intenções nacionais voluntárias talvez não seja suficiente para que alcancemos as ambições definidas no acordo, mas estão previstas revisões periódicas a cada cinco anos que servirão para atualização e reavaliação dos compromissos firmados, que somente poderão tornar-se mais ambiciosos. Isto é um sinal fundamental para o setor empresarial.

Apesar de, a rigor, não haver uma obrigatoriedade de que as partes cumpram todos os pontos que compõem o texto final, a dimensão que esse tratado ganhou, as revisões periódicas e a sinalização que foi emitida para todos os agentes envolvidos no processo, contudo, deixam claro que a consciência de todos sobre nosso destino comum ganhou uma dimensão real e efetiva. Se pudéssemos traduzir o significado desse evento em uma única frase, diria que, depois da COP de Paris, o caminho rumo a uma economia de baixo carbono tornou-se irreversível. Não há mais como negligenciar as mudanças necessárias.

O desafio para as empresas, como para todos direta ou indiretamente vinculados ao tema, é extraordinário. Estamos falando de uma mudança de matriz produtiva tão relevante quanto foram as revoluções promovidas, no passado, pela máquina a vapor ou pela eletricidade. A consciência das consequências da utilização dos recursos naturais acima da capacidade de reposição do planeta nos imporá o desafio de transformar completamente nossa relação com as formas de produção e consumo com que estamos acostumados.

A precificação do carbono não foi incorporada entre os instrumentos presentes no acordo, mas é um tema de grande significado para as empresas e vislumbra-se o surgimento de um mecanismo global para sua viabilização. Esse é um fator essencial no planejamento estratégico das empresas e, apesar de algumas delas já utilizarem cotações com base em processos internos, como é o caso, no Brasil, da Braskem, US$ 37 por tonelada; Eletrobrás US$ 5; Itaú Unibanco US$ 3,19; a inexistência de um parâmetro mercadológico global dificulta a tomada de decisões e atrasa seus percursos rumo a uma economia verde.

Sabemos que os presságios para 2016 não são os melhores. Seguiremos vivendo sob o domínio de uma crise econômica que desorganiza e deteriora conquistas que imaginávamos consolidadas. Inflação, desemprego, retração econômica reaparecem como há muito não víamos. É em momentos difíceis assim que aparecem as oportunidades para os que conseguem enxergar além da tempestade. As mudanças rumo a uma economia de baixo carbono são a grande novidade, o novo motor dinâmico da inovação.

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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