Depois de ter vivido o marco da sexta-feira 13 de novembro, quando Paris foi atingida por uma série de atentados que culminaram com a morte de 130 pessoas, parto para viver a experiência de uma nova sexta-feira: dessa vez nos EUA, e dessa vez ela é chamada de Black.
O “black Friday“, ou a “sexta-feira negra”, nada mais é senão o tiro de largada para as compras de Natal. Ganhou esse nome da polícia da Filadélfia que se via às voltas com engarrafamentos enormes: um dia considerado de verdadeiro caos na cidade.
O curioso é que o “Black Friday” acontece religiosamente após a quinta-feira de Thanksgiving, o dia “Ação de Graças’ americano, criado em 1863, pelo então presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln. O Dia Nacional de Ação de Graças é o dia em que os americanos usam seu tempo livre para estar com a família, fazendo grandes reuniões e jantares familiares e quando muitos dedicam seu tempo para orações e missas. Isso se passa na quinta-feira. Na sexta-feira, o culto é outro: tempo para se dedicar de corpo e alma ao consumo, às compras desenfreadas e às oportunidades imperdíveis propostas pelo comércio varejista.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosNão é à toa que o “Black Friday” é o período de maior faturamento do comércio varejista. Muitas lojas abrem bem mais cedo e, embora não seja um feriado, muitas pessoas ganham o dia de folga para consumir o máximo que puderem já que os descontos oferecidos nesse dia não se repetirão em nenhuma outra ocasião do ano.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Em outubro de 2015, 1.9 milhões de armas foram vendidas e o estoque de dois grandes produtores de armas se esgotaram. Hoje, estima-se que haja 300 milhões de armas em circulação nos EUA, quase um exemplar por habitante.
[/g1_quote]Esse ano não foi diferente e mais uma vez, outlets e lojas em Manhattan liquidaram seus estoques fazendo crescer o otimismo generalizado de uma retomada da economia americana. Mas um dos grandes sucessos de vendas no último ” Black Friday” assusta e confirma um dos mais importantes temas de debate na sociedade americana: a comercialização de armas de fogo no comércio varejista e on-line.
185.345 armas foram vendidas legalmente na Sexta-feira Negra de 2015, o que representa 5% a mais do que foi vendido na Sexta-feira Negra de 2014. Se esse número soa assustadoramente elevado, pois são as vendas registradas num único dia, saiba que a estimativa é de que 40% das vendas de armas são feitas fora do comércio licenciado e mudam de mãos entre particulares. Ou seja, sem qualquer controle, formalidade ou exigência. Em outubro de 2015, 1.9 milhões de armas foram vendidas e o estoque de dois grandes produtores de armas se esgotaram. Hoje, estima-se que haja 300 milhões de armas em circulação nos EUA, quase um exemplar por habitante.
A questão é polêmica e ganha ainda força diante do mais recente crime em massa ocorrido na semana passada, na California, que deixou 14 mortos. O New York Times, que nunca tomou partido no debate, defende o fim da “epidemia de armas na América” em seu editorial de 4 de dezembro. Até domingo, dia 6, o artigo contabiliza 5.290 comentários.
Ações de empresas do setor de “defesa” também disparam e sinalizam um futuro promissor para o negócio. Na França, no primeiro dia útil após os atentados, a maior empresa de armamentos registrou forte alta e empresas do setor com ações negociadas na Bolsa de Nova York também acumulam ganhos, entre elas a North Grumann Corporation e a Raytheon Company.
Seja por conta de uma ação terrorista, um novo ataque de loucura ou qualquer outra razão desconhecida, o ponto em comum entre esses diversos massacres é que seus autores tiveram acesso às armas, legalmente, eles tinham o direito individual de portá-las e há uma grande indústria que se beneficia disso, gerando riqueza para os seus acionistas.