Segunda edição do relatório De Olho no Transporte, produzido pela Casa Fluminense, aponta que 37 linhas de ônibus regulares sumiram em 12 meses de pandemia no município do Rio de Janeiro, onde apenas 40% da frota permaneceu circulando apesar dos decretos da prefeitura determinando seu uso total. “O relatório revela que, ao contrário do necessário para o distanciamento social, houve uma brusca redução na frota e na oferta de linhas, ampliando antigos problemas de superlotação nos ônibus”, enfatizou o economista Vitor Mihessen, coordenador executivo da entidade, no lançamento do relatório feito pelas redes sociais neste quarta (21/04).
O estudo da Casa Fluminense – organização com foco no debate de políticas públicas para a redução das desigualdades no Região Metropolitana do Rio – mostra que doze meses após o início da pandemia, com uma série de atividades econômicas retomadas no Rio de Janeiro e região metropolitana, o número de veículos em circulação ainda é inferior ao observado em março de 2020. A média de ônibus em circulação caiu de 4500 em março de 2020 para 3200 em 2021 – essa média chegou a ficar abaixo de 2000 entre abril e julho, mas permaneceu estável, em torno de 3 mil, desde setembro, apesar de cada vez mais trabalhadores estarem circulando.
O De Olho no Transporte aponta que “no momento, em que a Região Metropolitana do Rio deveria contar com uma maior oferta de transportes para evitar a superlotação e o aumento do risco do contágio do novo coronavírus”, ocorreu exatamente o oposto. “Essa situação criou um aumento do risco exponencial de contágio e de ameaça à vida no transporte”, disse Vítor Mihessen.
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Veja o que já enviamosO relatório da Casa Fluminense lembra recente reportagem do El País com dados do estúdio de inteligência de dados Lagom Data, baseados em informações do Ministério da Economia, revelando que foram registradas 62% mais mortes de motoristas de ônibus em janeiro e fevereiro de 2021, na comparação com os dois primeiros meses do ano passado.
A situação do oferta de ônibus na capital fluminense já era crítica antes mesmo da pandemia. O relatório ressalta que a quantidade de ônibus nas ruas do Rio de Janeiro na semana que precedeu o marco da pandemia em março já era de 55% da frota determinada, enquanto as normas da Prefeitura determinavam (e determinam) que haja pelo menos 80% dos veículos em circulação e 20% em reserva técnica. “Isso já mostra a fragilidade da fiscalização e o desrespeito ao contrato”, acentuou o coordenador-executivo da Casa Fluminense.
O monitoramento, realizado ao longo de 2020, mostra que houve uma queda acentuada na oferta de ônibus no município de Rio de Janeiro no começo da pandemia, conforme já indicava o primeiro Relatório De Olho no Transporte, lançado em novembro. A partir de junho, houve uma recolocação lenta na oferta de ônibus, expandindo a frota. No entanto, doze meses após o início da pandemia, com uma série de atividades econômicas retomadas no Rio de Janeiro e região metropolitana, o número de veículos em circulação ainda é inferior ao observado em março de 2020. “Temos 40% da frota em circulação o que impede o distanciamento social e agrava a superlotação”, destacou Mihessen.
O relatório também ressalta o sumiço de linhas. “As linhas somem sem explicações e sem discussão”, lembrou o economista. De acordo com o De Olho no Transporte, em fevereiro de 2020, o Rio de Janeiro tinha 81 linhas fora de circulação; um ano depois, eram 118. Nestes 12 meses, sumiram 37 linhas de ônibus regulares. Entre as linhas mapeadas estão a 366 e a 398, que ligam Campo Grande ao Centro, exemplo de os moradores da Zona Oeste encaram custos ainda mais altos para se deslocar. Quem dependia destas linhas, atualmente tem a opção de utilizar as linhas com tarifas mais altas.
A Casa Fluminense lembra ainda que reportagens da RJTV em agosto apuraram o sumiço de 153 linhas de ônibus. Na época, a prefeitura mobilizou a fiscalização para obrigar as empresas a voltar à rua e anunciou o retorno de parte da frota às ruas. Também está em curso uma investigação sobre o sumiço das linhas de ônibus, conduzida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, por meio das Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva do Consumidor.
Tanto o sumiço da linha quanto a redução da frota afetam mais à população da Zona Oeste do Rio de Janeiro, aquela que mais precisa dos ônibus para deslocamento de casa para o trabalho. “É mais um aspecto da desigualdade na Região Metropolitana do Rio”, afirmou Henrique Silveira, coordenador-geral da Casa Fluminense, no evento de lançamento da segunda edição do De Olho no Transporte.