Faltavam poucos minutos para as 3 da manhã e o público olhava incrédulo para as telas iluminadas da Times Square. Um silêncio ensurdecedor, tal qual aquele descrito pelas testemunhas do nosso Maracanazo, havia tomado a praça pública mais movimentada dos Estados Unidos. Donald Trump acabara de ser eleito presidente.
[g1_quote author_name=”Eleitora de Trump” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Estamos indo cumprimentar nosso novo presidente. Ele vai consertar nosso país.
[/g1_quote]A algumas quadras dali, homens e mulheres portando bonés vermelhos com o slogan “Make America Great Again” celebravam em frente à sede da conservadora Fox News. Caminhões e grades de proteção cercavam o hotel Hilton, onde o candidato republicano aguardava o resultado das eleições.
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Veja o que já enviamosCerca de uma hora antes, o chefe da campanha de Hillary Clinton já havia pedido que o público do megaevento organizado para celebrar sua vitória fosse para casa: “Vocês precisam dormir um pouco”, disse John Podesta aos que permaneciam no centro de convenções Javits Center. Cerca de 20 mil pessoas haviam se reunido ali para acompanhar a contagem de votos e comemorar o esperado triunfo da democrata.
Em algumas horas, a vitória anunciada se transformou em derrota inesperada. Na terça-feira, pela manhã, o jornal New York Times cravava em 85% as chances de Hillary ganhar as eleições. Republicanos já admitiam o placar a favor de Clinton antes mesmo do início da contagem de votos.
“Eu só espero que a Hillary reconheça que uma parcela da população não concorda com ela, e que ela governe para todos,” disse David Cook, um consultor financeiro que assistia à apuração no Metropolitan Republican Club, tradicional clube republicano no Upper East Side. Cook, assim como boa parte dos comensais, dava como certa a conquista democrata.
A vitória vermelha
O jogo começou a mudar com a vitória esmagadora dos republicanos na costa leste. Iowa, Ohio, Carolina do Norte, Flórida – um a um, os estados-chave para essa eleição se tornavam vermelhos. A cada nova confirmação, os sorrisos incrédulos ficavam mais largos, as salvas de palmas se prolongavam. Um grupo de mulheres, visivelmente alteradas depois de várias taças de vinho, cantava em coro “Escoem o esgoto!” – uma das provocações usadas pelos eleitores de Trump contra Hillary.
“Agora, ele vai ter o desafio de unir o partido,” disse um republicano após admitir, em segredo, que não gostaria que Trump ganhasse.
Pelas ruas de Manhattan, o clima de depressão dominava, quebrado apenas pela euforia dos poucos eleitores de Trump na cidade, majoritariamente democrata. Ambulantes vendiam bonés, bandeiras e broches com o nome do presidente eleito. Repórteres de agências estrangeiras tentavam explicar para o resto do mundo o que estava acontecendo ali, mas nem mesmo os americanos pareciam saber.
Nas proximidades da Trump Tower, duas mulheres de meia idade corriam empunhando bandeiras dos Estados Unidos e um cartaz escrito “Obrigada, presidente Trump. Feliz dia da independência!”
Intrigada, perguntei para onde iam com tanta pressa.
“Estamos indo cumprimentar nosso novo presidente,” disse uma delas. “Ele vai consertar nosso país.”