Com o horizonte tomado pelo cinza, como esverdear a cidade? A resposta que São Paulo começa a dar é: olhe para cima. A cidade, repleta de prédios com empenas cegas (aquelas paredes sem janelas), começa a colocar em prática a ocupação verde destes espaços verticais.
O primeiro corredor verde do Brasil está sendo construído justamente no Minhocão, no centro da capital paulistana. O elevado construído nos anos 1970 é um monstrengo de concreto que se tornou um marco da feiura cinza da Paulicéia Desvairada, um símbolo da degradação urbana.
[g1_quote author_name=”Guil Blanche” author_description=”Paisagista” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Os jardins verticais regulam a temperatura e a umidade do ambiente, atuam como poderosos filtros de poluição atmosférica, amenizam a poluição sonora e os problemas acústicos, além de contribuir esteticamente para o cenário da cidade.
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Veja o que já enviamosCercado por uma parede de edifícios, o Minhocão (que se estende por três quilômetros, do Centro até a Zona Oeste e cruza centenas de prédios) impede a subida de gases gerados por veículos que circulam embaixo dele. Com samambaias, bromélias, alecrim e muitas outras espécies, os jardins suspensos vão amenizar esse problema. Cada painel tem de 5 mil a 15 mil mudas.
O corredor verde do Minhocão (que foi rebatizado, livrando-se do nome de um general da ditadura, Presidente Costa e Silva, para ganhar o de um governante eleito pelo povo, Presidente João Goulart) deverá ficar pronto até o final deste ano. Terá 10 edifícios com jardins verticais em suas empenas cegas. Seis já estão prontos.
O primeiro jardim foi inaugurado em setembro do ano passado, no Edifício Fuds. O idealizador do projeto é o paisagista Guil Blanche, fundador do Movimento 90°, responsável pela instalação da vegetação vertical. Ele teve esta ideia há três anos, após mapear mais de 500 construções com empenas cegas que “agrediam” a paisagem da maior metrópole brasileira. Só no Centro de São Paulo há 225 mil metros quadrados de espaço para receber plantas nestas muralhas urbanas.
As plantas abafam os ruídos e filtram 30% da poluição do ar. Segundo Blanche, estudos da Universidade de Michigan já mostraram que 5 mil metros quadrados de superfície com vegetação – o tamanho previsto do corredor verde – podem diminuir as emissões de dióxido de carbono em mais de 16 mil toneladas por ano. Os jardins verticais ajudam também a economizar energia com ar condicionado e ventilador porque a temperatura interna dos prédios chega a diminuir até 7 graus.
“Os jardins verticais regulam a temperatura e a umidade do ambiente, atuam como poderosos filtros de poluição atmosférica, amenizam a poluição sonora e os problemas acústicos, além de contribuir esteticamente para o cenário da cidade”, diz Blanche.
Antes da Lei Municipal da Cidade Limpa (2007) – que regula o tamanho dos letreiros e placas comerciais para não poluir o visual da cidade – as empenas cegas eram cobertas por imensos outdoors. Há um ano, a prefeitura de São Paulo regulamentou um decreto que permite a empresas que destruíram áreas verdes a fazer a compensação ambiental patrocinando a construção de jardins em toda a cidade. Uma vez identificada uma empena cega, o movimento apresenta o projeto a empresários que possam estar interessados em marcar uma posição socioambiental.
[g1_quote author_name=”Mathew Wood” author_description=”Artista e jardineiro” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Estes metros e metros de cimento aumentam as temperaturas das cidades de 2 a 4 graus. O fenômeno, chamado “ilhas de calor urbano”, vai ser cada vez mais problemático no próximo século.
[/g1_quote]A manutenção é paga pelas incorporadoras nos seis primeiros meses. Depois a prefeitura assume. Cada instalação custa em média R$ 250 mil no primeiro ano, incluindo instalação e manutenção. O painel só é instalado se os moradores do edifício concordarem.
Entre o jardim e a parede há uma distância para impedir que a umidade passe aos apartamentos. Isso previne infiltrações. Os projetos são sustentáveis.
“Todas as irrigações do jardim são feitas com água da chuva captada no telhado. A chapa (onde as plantas serão fixadas) é feita de material reciclado. A própria estrutura já tem o reaproveitamento de material. São usados fertilizantes orgânicos que melhoram a qualidade das plantas”, explicou Blanche.
O jardim vertical está sendo feito em parceria com artistas contemporâneos para ser também uma espécie de exposição verde permanente. Um dos painéis tem o desenho de uma carranca, símbolo da cultura ribeirinha no coração de São Paulo.
“Estes metros e metros de cimento aumentam as temperaturas das cidades de 2 a 4 graus. O fenômeno, conhecido chamado “ilhas de calor urbano”, vai ser cada vez mais problemático no próximo século. O Reino Unido, por exemplo, perdeu 25% dos jardins privados nos últimos 15 anos, sendo 46% em Londres”, argumenta Mathew Wood, artista e jardineiro experimental, durante evento no Minhocão para mostrar os primeiros jardins verticais, no dia 11 de setembro.
Atualmente, lembrou ele, 54% da população mundial vivem em áreas urbanas. Em 2050, serão 70%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). “A gente virou uma espécie urbana. Além de descobrir como viver bem, temos que descobrir como viver juntos. Temos de utilizar o espaço de uma maneira diferente”, constatou Wood.
Agora, o Movimento 90 º quer levar esta experiência para outras cidades do país. Belo Horizonte e Rio de Janeiro estão na mira.
O Rio precisa comprar logo essa idéia verde e refrescante!