Os desafios das cidades do futuro

É preciso preparar as metrópoles para enfrentar riscos digitais e, ao mesmo tempo, para proteger o planeta do aquecimento global

Por José Eduardo Mendonça | ODS 11ODS 15 • Publicada em 13 de março de 2018 - 08:31 • Atualizada em 14 de março de 2018 - 15:58

A cidade do futuro. Foto: Zhou zhiyong/Imaginechina/ AFP
A cidade do futuro. Foto: Zhou zhiyong/Imaginechina/ AFP
A cidade do futuro: tecnologias inteligentes nos transportes e nos sistemas de água e energia requerem investimentos contra crises digitais. Foto: Zhou zhiyong/Imaginechina/ AFP

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a população urbana global aumentou nove vezes. O  crescimento prossegue. É cada vez mais necessário encontrar modos de gerenciar os serviços que ela requer, e ao mesmo tempo proteger o planeta do aquecimento global. Este é o desafio que começa a ser enfrentado pelas cidades em busca da inteligência para seu futuro.

Os ambientes urbanos densos ocupam cada vez mais espaço, com populações que a eles acorrem em busca de oportunidades. Hoje, mais de metade dos humanos vivem neles, e a proporção deverá chegar a 66%, em 2050. O influxo de pessoas e bens significa um desafio complexo.

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Os governantes das cidades já se acostumaram a enfrentar ameaças físicas, como enchentes, terremotos e até terrorismo. O mesmo não se dá em relação à mitigação de riscos em suas estruturas digitais

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Líderes na iniciativa pública e privada se dão conta do potencial da incorporação de tecnologias inteligentes na infraestrutura de transportes e nos sistemas de fornecimento de água e de energia. Um dos pontos cruciais é a chegada em massa de veículos autônomos híbridos e elétricos. Se a dependência das redes digitais vai aumentar, será necessário também um conhecimento detalhado de cyber-resiliência, além de investimentos sensatos no setor, para que crises digitais e físicas não escapem do controle. Com isso, virá um número crescente de sensores e microgrades locais de energia, mudando o sistema tradicional de distribuição. E tudo terá de ser feito junto com a contenção das emissões de carbono na atmosfera que, de outra forma, tornarão a vida no planeta impossível.

A cybersegurança tem um papel crítico na mitigação de choques ao proteger a confidencialidade, integridade e disponibilidade de dados, o que envolve informações geradas por infraestrutura. Nas cidades, isso se traduz em sua capacidade de resposta, prontidão e reinvenção. Os governantes já se acostumaram a enfrentar ameaças físicas, como enchentes, terremotos e até terrorismo. O mesmo não se dá em relação à mitigação de riscos em suas estruturas digitais. Eles precisam estar mais focados em prevenção de invasões em dados eletrônicos, por exemplo, e prontos a reagir eficazmente durante e após uma crise.

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Um exemplo de política bem pensada é o rastreamento que está sendo feito agora, em Londres, de vagas para estacionar na cidade. De acordo com a Information Age, estudos sugerem que motoristas procurando vagas respondem por até 30% de congestionamentos

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Segundo a 100 Resilient Cities, iniciativa dedicada a ajudar cidades a se tornarem mais resilientes física, social e economicamente frente a ameaças, elas não têm o pessoal necessário para elaborar uma estratégia funcional. O conselho é contratar equipes com experiência para identificar riscos e entender como outros órgãos trabalham atualmente para integrar ações.

Quanto aos veículos autônomos, seu advento implicará em grandes mudanças no transporte, consumo de energia, segurança de passageiros e eficiência de gerenciamento. Mas as cidades vão ter de se transformar para isso. Precisarão construir a infraestrutura necessária para conectar carros a informações vitais, reduzir o tráfego e tornar ruas e estradas mais seguras.

Cabos conectados a um sistema protetor de segurança cibernética. Foto: Philippe Hughen/AFP

Um exemplo de política bem pensada é o rastreamento que está sendo feito agora, em Londres, de vagas para estacionar na cidade. De acordo com a Information Age, alguns estudos sugerem que motoristas procurando vagas respondem por até 30% de congestionamentos.

Quanto à energia, cidades densamente populadas consomem dois terços da geração mundial e produzem uma proporção semelhante da emissão global de carbono. Isto as coloca no centro das discussões sobre a mudança do clima e suscita a seguinte questão: como nossa infraestrutura elétrica pode ser montada de modo a apoiar o crescimento econômico e uma boa qualidade de vida, e ao mesmo tempo integrar novos recursos energéticos renováveis?

Um dos aspectos mais interessantes de um sistema inteligente de energia urbana é a possibilidade de quebrar a hegemonia do sistema centralizado de distribuição e tornar a energia mais local. É um desafio, mas as microgrades oferecem uma perspectiva de como a nova distribuição de energia pode contribuir com a resiliência dos sistemas.

Por último, a presença de sensores em rede cresce nas cidades, em todo o mundo. Eles incluem câmeras que contam o número de transeuntes, dispositivos e avaliação da qualidade do ar e detetores de fluxo de tráfego. E coletam enormes quantidades de informações sobre como as pessoas vivem as cidades, com serviços de mídia social como Twitter e Foursquare. Cidadãos estão criando seus próprios sensores, com smartphones, para monitorar seu ambiente e partilhar as informações com outros. Todos estes dados podem ser usados para a criação de políticas com o objetivo de tornar as cidades mais inteligentes e sustentáveis.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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