Prestes a embarcar para o Brasil Eco Fashion Week, evento realizado em São Paulo, a estilista paraense Val Valadares contou à reportagem do #Colabora sobre as suas expectativas em relação à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) e sobre os planos de crescimento que já se revelaram factíveis antes mesmo da realização do evento que será sediado em novembro, em Belém. Feliz por ter dobrado o faturamento de 2024, em relação ao ano anterior, ela planeja crescer e se fortalecer ainda mais em 2025 para realizar o sonho de se tornar exportadora em 2026. “Já estou sendo preparada para isso”, afirma com entusiasmo durante a conversa por telefone.
Leu essa? Obras em Belém antecipam debate sobre justiça climática e legado da COP30
A estilista ressalta que sempre trabalhou com moda, embora não tenha se capacitado para o empreendedorismo desde o início da sua entrada nesse segmento de mercado. “Empreendi por conta própria e demorei a encontrar o Sebrae-PA (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará). Mas a chegada do Sebrae na minha vida foi um divisor de águas”, analisa. Entusiasmada pelos avanços que tem alcançado, ela acrescenta que fez oito cursos de capacitação em 2024. Um deles envolveu aprendizado em internacionalização e tem assessoria com esse enfoque.
É preciso aproveitar essas oportunidades já que a região Norte sempre esteve tão fora da curva em relação ao resto do Brasil. A COP30 é um momento único para a cidade e para o estado
O ano passado teve importância central na sua carreira, já que além de abrir a sua primeira loja física, em Belém, ao longo do ano ela pôde participar de desfiles no Pará e em São Paulo, assim como teve criações suas apresentadas nas passarelas de Milão, ícone da moda italiana que é referência no tema globalmente. Segundo afirma, a viagem à Itália, para apresentar a cultura marajoara fortemente representada nas suas criações, é resultado de uma aposta das instituições paraenses na conquista de mais visibilidade internacional em função da COP30, tendo inúmeras parcerias estabelecidas com esse objetivo.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosA iniciativa foi apoiada pelo programa de internacionalização Texbrasil, realizado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), por meio de uma parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) e, ainda contou com o apoio na articulação das marcas do Brasil Eco Fashion Week (BEFW) – Semana de Moda e Sustentabilidade Brasileira. Na passarela, Val Valadares homenageou o Padre Giovanni Gallo, italiano que dedicou sua vida à valorização do povo da Ilha de Marajó, onde viveu por 30 anos.
![A estilista paraense Val Valadares em seu ateliê: faturamento dobrado e carreira internacional na expectativa da COP30 (Foto: Arquivo Pessoal)](https://projetocolabora.com.br/wp-content/uploads/2025/12/20250201cop30empreende6-val-valadares-em-seu-atelie-em-belem.jpg)
Trabalhando com ancestralidade, a partir de grafismos marajoaras bordados nas suas criações, Val Valadares despertou para a vocação da moda ainda na infância. Aos 4 anos fazia roupas para as suas bonecas. O aprendizado com a avó artesã foi fundamental para que, aos 14 anos, ela já estivesse produzindo as primeiras peças e reafirmando para si mesma a importância da profissão escolhida. Desde então, nunca parou de criar e de costurar as roupas que idealizava, tendo garantido habilidades de modelista que nem todos os estilistas têm. De origem quilombola de uma família de 11 irmãos, ela relata que sua caminhada foi longa. “Mas sou resiliente e sempre achei que chegaria em Milão. Isso sempre passou pela minha cabeça”, afirma emocionada sobre as suas conquistas.
A estilista também conta sobre o orgulho de ser parte de um grupo de pequenos empreendedores que passou a receber mentoria do Sebrae-PA, em projeto de moda autoral chamado de Cápsula Marajó, focado na produção de roupas e biojoias. “A moda aqui sempre foi muito carente de apoio”, opina. “É preciso aproveitar essas oportunidades já que a região Norte sempre esteve tão fora da curva em relação ao resto do Brasil”, analisa quando indagada sobre a influência da COP30 na preparação da população da cidade que sediará o grande evento internacional. “É um momento único para a cidade e para o estado”, conclui.
Tacacá é aprendizado familiar há seis décadas
Ivanete Pantoja enfrenta o duplo desafio de atuar como empreendedora em um negócio familiar que começou há seis décadas, com os seus pais, e como presidente da Associação das Tacacazeiras e Comidas Típicas de Belém (Astacom), organização nascida há dez anos que conta com 33 associados e almeja ampliar as adesões, em função da COP30. O tacacá é servido em cuias fumegantes com uma combinação de ingredientes bem temperados formada principalmente por caldo de tucupi e goma de tapioca (ambos derivados da mandioca), além de camarão seco e jambu, um vegetal muito apreciado na Amazônia. Estimam-se mais de mil homens e mulheres envolvidos com a produção desse ícone da gastronomia paraense.
Ela conta que fortalecer o negócio familiar é uma decisão que tem encontrado respaldo no processo de capacitação pelo qual tem passado no Sebrae-PA. “Eu não sabia nem quanto ganhava por cuia de tacacá. Agora já sei calcular os preços desde a compra de matéria prima até a venda do produto final. Todos os cursos têm sido muito importantes porque estão nos preparando para o evento e além”, observa.
Tenho expectativa positiva de que a COP30 contribua para fortalecer a economia local e deixe o avanço do turismo paraense como parte do seu legado
Criada vendo a mãe vendendo tacacá, Ivanete relata que essa produção sempre mobilizou a família e foi sendo liderada pelos filhos, à medida que os pais foram envelhecendo. Dos nove filhos do casal que começou a empreitada por conta própria, seis ainda estão envolvidos com esse pequeno empreendimento. Desde criança, ela recorda que já tinha um entendimento do que representava ver os clientes voltando para comprar o produto e que reconhecia a importância dessa conquista para a continuidade do negócio familiar.
Animada com a realização da COP30 em Belém, ela diz que tem altas expectativas. “Espero que as vendas e o nosso capital de giro aumentem e que todos os pequenos empreendedores se fortaleçam. A nossa cidade está precisando de mais visibilidade e as pessoas precisam conhecer o que a gente tem de melhor”, afirma. Por outro lado, a empreendedora acredita que a visibilidade do grande evento contribuirá para fortalecer o associativismo no ramo.
A presidente da Astacon também faz questão de ressaltar a importância da ancestralidade ligada à produção dessa iguaria que tem marcado a cultura alimentar paraense. “O tacacá é indígena e a gente adotou na cidade”. A internet tem contribuído para popularizá-lo. Um exemplo é a música Voando pro Pará, da cantora Joelma, que fez disparar as buscas pelo termo tacacá no Google após vídeos terem viralizado nas redes sociais, no ano passado, oito anos depois do lançamento da gravação. Também viralizou um vídeo de crianças de Uganda fazendo uma coreografia animada com esse sucesso da cantora paraense. Para Ivanete, esses são sinais evidentes da força dessa divulgação para o Brasil e o mundo que tende a se ampliar, ainda mais, durante e após o grande evento que a cidade sediará.
Antes da COP30, ela conta que será realizado o Festival das Tacacazeiras, em setembro, em sua sexta edição, oportunidade que também considera fundamental para fortalecer a valorização dessa cultura gastronômica. A Lei Municipal nº 8.846/2011 institui 13 de setembro como o Dia das Tacacazeiras, já reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial em Belém. Por outro lado, o Reconhecimento do Ofício delas como Patrimônio Cultural do Brasil está em processo de análise pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Alternativas para ampliar oferta de hospedagem
Cercado de uma paisagem privilegiada, acessível de barco a menos de dez minutos de Belém, o empresário Parys Souza da Fonseca lançou o seu empreendimento de hospedagem, batizado de Ilha da Fantasia, há pouco mais de um ano, com apenas um bangalô de madeira e alvenaria. Mas com uma fila de espera de hóspedes crescendo e percebendo o interesse da clientela, antes mesmo da realização da COP30, o empreendedor passou a pesquisar novas alternativas de construção que pudessem se encaixar no estabelecimento que idealizou, já que o primeiro modelo adotado, embora bonito e atrativo, era de alto custo.
Depois de pesquisar fabricantes de contêineres próprios para hospedagem nos Estados Unidos e no Canadá, foi encontrada uma empresa fornecedora brasileira. Ele explica que a estrutura pré-moldada para habitação é de ferro com paredes de isopor e plástico, sendo de fácil instalação e efeito visual atrativo. Com essa alternativa, o empreendedor chegou a três módulos com vista para o Rio Guamá que têm sido amplamente procurados por turistas de várias procedências, embora a sua principal demanda seja de moradores de Belém e outras cidades do Pará.
A ideia é viabilizar refeições típicas, preparadas com produtos regionais, de pequenos agricultores da agricultura familiar, incluindo a oferta de alimentos vegetarianos e veganos. A mistura entre o local e o global é sempre um ponto de atenção para empreendedores em todas as cidades que recebem muitos turistas estrangeiros
A facilidade de acesso por barco, seja por intermédio de uma cooperativa local, entre outras opções de fornecedores desse meio de transporte, tem atraído casais e famílias que têm escolhido o local para comemoração de aniversários e celebrações de outras datas festivas. Para o sucesso do negócio, ele destaca a importância de divulgar o seu empreendimento em tradicionais plataformas de hospedagem online e também de oferecer a alternativa de utilização diária do espaço local para quem não está hospedado.
Com a perspectiva de alta demanda em função da COP30, quando se espera a presença de pelo menos 50 mil visitantes em Belém, o empresário já está planejando instalar mais sete suítes. No processo de planejamento para dar novos passos no crescimento da pousada, ele ressalta a importância de ter participado de palestras, workshops e outros eventos de capacitação oferecidos pelo Sebrae-PA.
Fonseca destaca, ainda, que considera interessantes os módulos alternativos de hospedagem, em exposição na sede da instituição em Belém, já tendo, inclusive, comprado um deles para a sua pousada. “Tenho expectativa positiva de que a COP30 contribua para fortalecer a economia local e deixe o avanço do turismo paraense como parte do seu legado”, afirma o empreendedor que reitera o seu otimismo com a realização do grande evento.
Cursos de capacitação e impacto no turismo
O diretor-superintendente do Sebrae/PA, Rubens Magno, afirma ao #Colabora que não trabalha com a possibilidade de a COP30 não ser um sucesso. Para ele, o grande evento internacional terá a força “de redenção para a economia da Amazônia e para os amazônidas”. “A COP da Floresta será a melhor de todas”, aposta.
Magno afirma que desde a COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, quando participou da comitiva do Governo do Pará, havia uma forte motivação para que a Amazônia viesse a sediar uma Conferência do Clima. Oportunidades de aprendizado sobre como organizar um grande evento como esse também levaram técnicos e lideranças de instituições paraenses como o Sebrae-PA à COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes, em 2023, e ainda à COP29, em Baku, no Azerbaijão, no ano passado.
O objetivo foi entender melhor, pela perspectiva dos micro e pequenos empreendedores, como esse segmento, que representa 99% dos negócios brasileiros e responde por 29,5% do PIB nacional, pode se inserir não somente na COP30, mas em outros grandes eventos internacionais, cada vez mais frequentes no país.
“No caso da COP30, queremos mostrar o melhor do Pará e da Amazônia, já que esta será a primeira conferência climática na maior floresta tropical do planeta. Por outro lado, temos que respeitar a cultura de quem vem, algo que vai do atendimento às pessoas aos ingredientes escolhidos para as receitas”, destaca o coordenador do comitê da COP30 no Sebrae/PA, Renato Coelho. “Um detalhe que notamos em Dubai e em Baku, por exemplo, foi uma busca ligeiramente acima da média por itens vegetarianos e veganos, além da preferência por uma alimentação mais saudável”, completa.
Por essa e outras razões, a instituição vem conversando com a Secretaria Extraordinária da COP30 e negociando parcerias com foco na área de alimentação da conferência. “A ideia é viabilizar refeições típicas, preparadas com produtos regionais, de pequenos agricultores da agricultura familiar, incluindo a oferta de alimentos vegetarianos e veganos”, conta Coelho. “A mistura entre o local e o global é sempre um ponto de atenção para empreendedores em todas as cidades que recebem muitos turistas estrangeiros”, ressalta.
Como parte da força-tarefa de organização da COP30, mais de 18 mil empreendedores já passaram por cursos de capacitação oferecidos pelo Sebrae-PA, com enfoque em quatro eixos (Mobilidade, Alimentos e Bebidas, Hospitalidade e Economia Criativa). Além disso, o Pará já recebeu mais de 12 mil visitantes estrangeiros somente no primeiro semestre de 2024, o que representou o dobro em relação a igual período de 2023, o que leva Rubens Magno a crer que o estado já vem sendo beneficiado pela oportunidade de sediar a Conferência do Clima muito antes da sua realização.
Sobre o desafio de oferecer hospedagem para a grande quantidade de visitantes esperada para a COP30, Magno afirma que há um ano da realização do grande evento já tinha sido ampliada a presença de 700 para 4,5 mil leitos disponíveis pela rede Airbnb e a meta para este ano é de chegar a 10 mil. “Das nossas 44 ilhas, muitas delas já estão trabalhando com hospitalidade”, exemplifica sobre a alternativa abraçada por empreendimentos com a pousada Ilha da Fantasia, nos arredores de Belém.
Ainda que novos hotéis estejam programados para entrar em operação para a COP30 e outras possibilidades de hospedagem estejam sendo planejadas, Magno ressalta que o objetivo dos organizadores da conferência não foi de incentivar novas construções e sim outras alternativas que contribuíssem para fortalecer o sentimento de pertencimento da sociedade local nesse contexto.