Católicos LGBTQIA+ comemoram autorização do Papa para bênção a casais

Grupos brasileiros destacam "momento de esperança e alegria" e "reconhecimento e respeito à pluralidade" na declaração Fiducia Supplicans

Por Oscar Valporto | ODS 10 • Publicada em 20 de dezembro de 2023 - 09:15 • Atualizada em 28 de dezembro de 2023 - 10:26

Bandeira do arco-íris levada por grupos LGBTQI+ ao Vaticano: católicos brasileiros celebram autorização do Papa Francisco para bênção a casais do mesmo sexo (Foto;: Vincenzo Pinto / AFP – 27/03/2022)

Grupos católicos brasileiros celebraram a declaração doutrinária Fiducia Supplicans, do Dicastério para a Doutrina da Fé, aprovada pelo Papa Francisco e publicada nesta segunda-feira (18/12), autoriza padres a abençoar casais de pessoas do mesmo sexo. Para Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+, o documento reconhece e valida a existência de famílias LGBTQIA+ pela Igreja Católica. “Este é um marco significativo e um passo positivo em direção à visibilidade e aceitação das diversas formas de amor e família presentes em nossa comunidade”, destacou a organização em nota.

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A declaração Fiducia Supplicans – Suplicantes de Fé, na tradução do latim – reconhece o desejo de muitos casais católicos do mesmo sexo pela presença de Deus nos seus relacionamentos e foi assinado pelo prefeito do Dicastério, cardeal Víctor Manuel Fernández, argentino e muito amigo do Papa Francisco. Grupos católicos no mundo inteiro consideraram histórica a decisão de autorizar a bênção aos casais homoafetivos e um passo importante passo no ministério da Igreja Católica para com as pessoas LGBTQIA+

No Brasil, não foi diferente. A Aliança Nacional LGBTI+ ressaltou a importância de se proporcionar a casais homoafetivos a benção pela Igreja Católica, “um gesto que simboliza o reconhecimento e respeito à pluralidade”, de acordo com publicação da entidade em suas redes sociais. “O ministério petrino do Papa Francisco tem se destacado por uma postura mais acolhedora e compassiva em relação às minorias, sinalizando um caminho de abertura e diálogo”, destaca a Aliança.

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A Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+, que reúne mais de 20 organizações de todo o Brasil, destaca a importância da mensagem no documento. “A declaração, ao mencionar a possibilidade de ‘bênçãos para casais em situações irregulares e casais do mesmo sexo’, ressaltando que não se trata de ritos de matrimônio, reflete uma abertura para reconhecer a dignidade e a validade das relações amorosas formadas por pessoas do mesmo sexo. Para as pessoas católicas LGBTQIAPN+ este é um momento de esperança e alegria”, celebra a rede. “Esse gesto de acolhimento não apenas representa um progresso em termos de inclusão, mas também reforça a mensagem fundamental de que todas as pessoas, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero, são amadas e valorizadas pela comunidade católica”, acrescenta.

A rede também afirmou esperar que a autorização do Papa Francisco para casais do mesmo sexo tenha reflexos no Brasil. “Trata-se de um passo significativo da cidadania religiosa plena para pessoas LGBTQIA+ católicas, num cenário em que ainda é possível e desejável avançar muito. Esperamos que a Igreja no Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, e de todos os demais organismos do Povo de Deus, se faça sensível às demandas de inúmeros casais espalhados pelo país, não colocando dificuldades”, frisou o comunicado. A CNBB não se pronunciou oficialmente sobre a declaração Fiducia Supplicans.

A Aliança Nacional LGBTI+ afirmou compreender que a Igreja Católica, “devido à sua dimensão e estrutura”, se move mais lentamente do que outras instituições. “É importante lembrar que ainda é tempo de sonhar. O amor é um sentimento universal que transcende barreiras e merece ser celebrado, independentemente de convenções e rituais pré-estabelecidos”, destaca a nota da organização em suas redes sociais. “A declaração é mais um legado do Papa Francisco, que em seu pontificado tem procurado derrubar as cercas que produzem a intolerância, a discriminação e o preconceito. A Igreja é para todos, todos, todos!”, festejou o Grupo de Ação Pastoral de Diversidade SP ao comentar sobre a autorização do Papa para a benção a casais do mesmo sexo em suas redes sociais.

Bênção pastoral

O próprio Vaticano lembrou, em comunicado oficial, que, com a “Fiducia supplicans” do Dicastério para a Doutrina da Fé, aprovada pelo Papa, será possível abençoar casais formados por pessoas do mesmo sexo “mas fora de qualquer ritualização e imitação do matrimônio”. O Vaticano destacou que “a doutrina sobre o matrimônio não muda, a bênção não significa aprovação da união”.

O documento aprofunda o tema das bênçãos, distinguindo entre as bênçãos rituais e litúrgicas e as bênçãos espontâneas, que se assemelham mais a gestos de devoção popular: “é precisamente nessa segunda categoria que agora contemplamos a possibilidade de acolher também aqueles que não vivem de acordo com as normas da doutrina moral cristã, mas pedem humildemente para serem abençoados”, explica o comunicado do Vaticano sobre a Fiducia supplicans, lembrando que desde agosto de 2000 o antigo Santo Ofício não publicava uma declaração.

O texto começa com uma introdução do prefeito, cardeal Victor Fernandez, que explica que a declaração aprofunda o “significado pastoral das bênçãos”, permitindo que “sua compreensão clássica seja ampliada e enriquecida” por meio de uma reflexão teológica “baseada na visão pastoral do Papa Francisco”. Essa reflexão, de acordo com o documento da Dicastério para a Doutrina da Fé, “implica um verdadeiro desenvolvimento em relação ao que foi dito sobre as bênçãos” até agora, chegando a incluir a possibilidade “de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo, sem validar oficialmente seu status ou modificar de qualquer forma o ensino perene da Igreja sobre o casamento”.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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