Parceria no combate ao câncer de mama

PROTEA MAPA DAS ONGS

Instituto Protea

Por Thais Lobo | Mapa das ONGsODS 3 • Publicada em 17 de junho de 2019 - 08:00 • Atualizada em 5 de julho de 2019 - 11:59

PROTEA MAPA DAS ONGS
PROTEA MAPA DAS ONGS
Pacientes atendidos pelo Instituto Protea passaram a ter acesso a exames preventivos. Foto de Divulgação

Como nasce uma ideia? Certamente, não há uma única resposta, mas invariavelmente ela incluirá algum elemento como tentativa, audácia, empenho ou originalidade. No caso da criação do Instituto Protea, um item foi definidor: experiência. Dedicada a garantir a mulheres de baixa renda o acesso ao tratamento gratuito do câncer de mama, a organização foi gestada pela empresária Gabriella Antici, ela mesma diagnosticada por duas vezes com a doença que já havia atingido sua avó, tia e irmã.

— Se eu tivesse que reescrever minha história, reescreveria tendo o câncer duas vezes porque sou mais feliz tendo superado esse desafio. No primeiro diagnóstico, fiz uma conta no Instagram para desmitificar a queda de cabelo. Incentivava parentes a tirarem fotos com lenços na cabeça e fazerem doações, que eram encaminhadas a ONGs de combate à doença. Mas foi um tratamento pesado e não consegui levar adiante. Quando tive o segundo diagnóstico, dois anos depois, me veio a ideia: agora eu vou fazer uma ONG — lembra Gabriella, que finalmente criou o Instituto Protea em junho de 2018, quando ainda enfrentava sessões de quimio e radioterapia.

A identificação precoce do segundo câncer de mama e o acesso a um tratamento imediato de qualidade deram a Gabriella uma vantagem: tempo. Segundo relatório deste ano do Instituto Nacional do Câncer, a partir da base de dados Registros Hospitalares do Câncer, apenas 51,2% das pacientes da rede pública diagnosticadas entre 2013 e 2015 iniciaram o tratamento em até 60 dias, conforme prevê legislação em vigor.

Conselho administrativo do Instituto Protea conta com voluntárias com histórico de luta contra o câncer de mama e médicos. Foto de divulgação

— Esperava-se que a Lei dos 60 dias se tornasse uma realidade para os pacientes do SUS, mas desde que foi implementada o tempo médio passou de 69 para 81 dias. Do ponto de vista estatístico, o aumento é um mínimo estável. Mas demonstra que não foram tomadas as medidas para diminuir o tempo de espera. Precisamos de um sistema de gestão de dados para começar a entender os gargalos do sistema. A lei não resolve, precisa de processo — aponta Gustavo Schvartsman, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Eisntein e membro do conselho médico do Instituto Protea.

Falta de acesso a exames preventivos e recursos médicos, diagnóstico tardio, demora entre o diagnóstico e o início do tratamento — quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia — estão entre as principais causas para a taxa de mortalidade por esse câncer no Brasil. Com tendência de aumento desde 1980, a taxa era de 15,4 óbitos por 100 mil mulheres no país em 2016. Nos Estados Unidos, ao contrário, houve queda de 41% na letalidade de 1989 a 2016, chegando a uma taxa de 20,6 por 100 mil mulheres — um declínio que a Sociedade Americana do Câncer atribui às reduções no tabagismo e aos avanços na detecção e tratamento precoces.

Com o objetivo desafiador de diminuir a taxa de mortalidade do câncer de mama no país, o Protea encontrou a seguinte fórmula: de um lado, arrecadação de recursos. De outro, projetos com hospitais privados e filantrópicos.

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O SUS não tem capacidade para tratar todo mundo e, por isso, faz parcerias com a rede privada e filantrópica para o atendimento, o que custeia, mas não cobre as despesas desses hospitais. O que fazemos é tapar o buraco, solucionar a questão financeira. Identificamos quais são os gargalos para aumentar o número de mulheres atendidas e melhorar a qualidade do tratamento. Sou economista, venho do mercado financeiro, gosto de números

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— O SUS não tem capacidade para tratar todo mundo e, por isso, faz parcerias com a rede privada e filantrópica para o atendimento, o que custeia, mas não cobre as despesas desses hospitais. O que fazemos é tapar o buraco, solucionar a questão financeira. Identificamos quais são os gargalos para aumentar o número de mulheres atendidas e melhorar a qualidade do tratamento. Sou economista, venho do mercado financeiro, gosto de números — argumenta Gabriella.

Com um conselho administrativo composto por mulheres, algumas com histórico de luta contra o câncer, e outro médico, formado por especialistas na área, o Protea iniciou seu primeiro projeto em novembro de 2018. Foram quatro meses de conversas prévias entre os integrantes do instituto e do Hospital Santa Marcelina, localizado na Zona Leste de São Paulo e com 80% do atendimento via SUS, para definir o escopo de trabalho.

— Nós do conselho médico estivemos envolvidos desde o princípio mais básico, de implementar uma ficha de avaliação das pacientes uniforme e digitalizada, até o mais complexo, de aprimorar e agilizar procedimentos de diagnóstico e tratamento. Delimitamos os processos para acontecerem do ponto de vista operacional da forma mais fluida possível. E o conselho administrativo atuou para garantir a sustentabilidade financeira. É preciso uma rede de doadores, parcerias com outras empresas… Nossa parte é a mais fácil. Implementar as soluções é o maior desafio — destaca Gustavo Schvartsman.

Para expandir as doações, o Protea tem apostado em influenciadoras digitais e embaixadoras, como a apresentadora da TV Globo Ana Furtado, recém recuperada de um câncer de mama, bem como parcerias com empresas para marketing de produtos. Com isso, a instituição já conseguiu aplicar em dez meses R$ 115 mil no hospital, projeto-piloto da ONG. A verba possibilitou a contratação de dois médicos, diminuindo de 45 dias para um o intervalo entre as consultas de triagem e os exames confirmatórios, e a realização de exames de mamotomia, uma biópsia para confirmar suspeita de câncer em nódulos não palpáveis.

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O sonho é que o Protea se torne um “Médicos Sem Fronteiras do câncer”

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Sem disponibilidade do exame no hospital, as pacientes eram internadas e submetidas a uma cirurgia-diagnóstica, um procedimento caro e invasivo. Agora, o Protea subsidia o equipamento, a um custo de R$ 1.400 por paciente, e um laboratório parceiro doa o serviço médico.

— O hospital ia reduzir em 20% o número de pacientes com câncer de mama. Com o projeto, não só mantivemos o atendimento como aumentamos em 10% o número de mulheres tratadas e em 15% o número de consultas diagnósticas — comemora Gabriella. — Esperamos chegar até o final do ano na capacidade máxima de atendimento no Santa Marcelina. O sonho é que o Protea se torne um “Médicos Sem Fronteiras do câncer”.

A doença e segunda causa de morte no Brasil embora tenha até 95% chances de cura. Gabriella acredita que com o sucesso da empreitada, mais pessoas vão se sensibilizar e doar. “Queremos crescer e fazer outras parcerias, levando tratamento de qualidade a outros estados”, conclui.

Thais Lobo

É jornalista freelancer. Trabalhou nas editorias de Política, Economia, Internacional e Rio do jornal O Globo durante oito anos. Recentemente, atuou em análises do debate sobre políticas públicas em redes sociais e do impacto de práticas de desinformação.

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