Uma mulher com voz incomoda muita gente

ELAS Fundo de Investimento Social

Por Luciana Calaza | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 14 de janeiro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:27

Diálogo Web540 promovido pelo Fundo Elas
Diálogo Web540 promovido pelo Fundo Elas
Mulheres no XIX Concurso de Projetos reunidas no I Diálogo Nacional Sobre Violência Doméstica

“Não se cale, nem se culpe”. Isso é o que Sueny dos Santos Nogueira, arte-educadora, 24 anos, negra, pobre e moradora da Baixada Fluminense, gostaria de dizer a milhares de outras mulheres que, como ela, vivem o assédio, a opressão e o constrangimento em seu dia a dia. Não sabendo que era impossível, ela foi lá e disse. Sueny foi uma das organizadoras de uma campanha da CAMTRA – Casa da Mulher Trabalhadora, a “Não me cale, nem me culpe. #merespeitaae”, pelo enfrentamento das diversas formas de violência contra as mulheres. Partindo do princípio de uma comunicação de jovem para jovem através da arte – música, teatro e vídeo – a campanha ganhou voz graças ao financiamento do primeiro e único fundo voltado exclusivamente para o direito de mulheres do Brasil – o ELAS Fundo de Investimento Social.

Num sobrado tímido, numa ruazinha de Botafogo, trabalham as nove mulheres que integram o quadro de funcionárias do ELAS. Difícil imaginar que aquele é o endereço de uma organização que já apoiou mais de 330 grupos de mulheres de todas as regiões do Brasil, promovendo o protagonismo feminino e a defesa de direitos. Desde 2000, já foram realizados 21 concursos públicos para seleção de projetos, que receberam um total de R$ 7,4 milhões.

O fundo mobiliza e investe recursos em iniciativas que estimulem a independência econômica, o empreendedorismo, o acesso à educação, a prevenção da violência contra mulheres e meninas, o acesso à saúde, a inclusão às novas tecnologias de informação, o respeito à diversidade étnica, racial, sexual e geracional e o acesso de meninas e mulheres aos esportes, dentre outras temáticas. Além do apoio financeiro, também capacita os grupos e acompanha suas ações e as atividades. Dentre os investidores dos projetos selecionados estão Fundação Ford, Fundação Kellog, Global Fund for Women, Levi Strauss Foundation e Instituto Avon.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos
[g1_quote author_name=”Savana Brito” author_description=”assessoria do Elas Fundo” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

O Fundo ELAS desenvolveu uma metodologia pioneira de fomento social a grupos de mulheres. Lançamos editais que selecionam projetos inovadores de organizações formais e informais de mulheres voltados para a área temática em questão, que pode ser a violência doméstica, o incentivo à inserção de meninas nas ciências exatas ou a independência econômica, por exemplo

[/g1_quote]

Os grupos selecionados participam de “diálogos”, que permitem que os grupos se aproximem, conheçam as outras iniciativas apoiadas e criem estratégias conjuntas. Além disso, todos os grupos apoiados recebem capacitações que podem ser, por exemplo, em elaboração de projetos, gestão administrativo-financeira, comunicação, marketing, avaliação de impacto e direitos humanos das mulheres. Em 2015, o orçamento foi de R$ R$ 2,93 milhões.

“Nosso objetivo é o fortalecimento institucional dos grupos de mulheres, para que possam continuar impactando outras mulheres e gerando benefícios para as comunidades em que estão inseridos”, explica Savana.

Chamado inicialmente de Fundo Angela Borba, a organização nasceu a partir do movimento feminista brasileiro e foi idealizado pela socióloga mexicana-nicaraguense radicada no Brasil Amalia Fischer, que se inspirou no Fondo Semillas, do México, no Global Fund for Women, dos Estados Unidos, e no Mama Cash, da Holanda.

[g1_quote author_name=”Amalia Fischer” author_description=”socióloga mexicana-nicaraguense radicada no Brasil ” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

A ideia não existia no Brasil. Naquele contexto, fundações internacionais estavam saindo do Brasil e as organizações sociais estavam sem recursos. Criamos o fundo para que as mulheres e suas organizações tivessem seus próprios recursos

[/g1_quote]

Amalia diz que, em termos gerais, o Fundo ELAS tem impulsionado uma nova filantropia no Brasil, que é a filantropia de justiça social:

“O Fundo ELAS não apenas mobiliza recursos, mas também faz advocacy com doadores internacionais individuais e institucionais para o que o Brasil tenha mais recursos para avanços nos direitos das mulheres e das meninas. Por fim, mantendo a inovação como uma de suas principais características, o Fundo ELAS tem dialogado com diferentes setores para que os recursos financeiros e as capacitações para as organizações de mulheres estejam na pauta nacional”.

Desde a sua criação, o Fundo ELAS já lançou 21 concursos de projetos . O fundo “Fale sem Medo”, por exemplo, uma parceria com o Instituto Avon desde 2013, já apoiou projetos de 42 organizações de todas as regiões do Brasil voltados para o combate à violência doméstica. O terceiro edital está com inscrições abertas no site e vai selecionar 30 novos projetos.

Campanha Viral do Fundo Elas

Outro exemplo inovador é o “Elas nas Exatas”, tema do XX Concurso de Projetos, realizado em 2015, numa parceria com o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos Chagas. O programa apoia projetos que têm como foco principal a redução do impacto das desigualdades de gênero nas escolhas profissionais, estimulando alunas do ensino médio a seguirem carreiras nas ciências exatas e tecnologias.

Sueny, a jovem que fez parte da campanha “Não me cale, nem me culpe. #merespeitaae”, financiada pelo ELAS, se envolveu no movimento feminista quando tinha apenas 19 anos e se inscreveu no curso “Mulheres Jovens na Defesa de seus Direitos”, promovido pela CAMTRA.

Hoje seu principal objetivo é a promoção de direitos e o fortalecimento da autonomia de meninas da Baixada. Ela sabe que, no Brasil, a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas. E as mulheres como ela – negras e pobres – são as principais vítimas.

 

Luciana Calaza

Carioca, jornalista com mais de 15 anos de experiência na redação de O Globo, mãe de Felipe e Rafael. Em 2014 começou a pensar de que modo a comunicação pode ajudar a criar um mundo sem barreiras e decidiu colocar sua carreira a serviço da garantia dos direitos humanos, especialmente de crianças e adolescentes com deficiência.

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe:

Sair da versão mobile