Por meio da criação coletiva e do estímulo ao empreendedorismo, a ModaFusion, que está completando dez anos, realiza cursos de capacitação em diversas áreas de atuação profissional do mundo da moda. Inserir os jovens no mercado de trabalho é o objetivo da ONG, que forma de artesãos a crocheteiras e costureiras, passando por designers, modelos, fotógrafos e estilistas. A ideia surgiu da união de duas jornalistas: a brasileira Andrea Tarnowski Fasanello, especializada em design, e a francesa Nadine Gonzalez, que escreve sobre moda.
Com sede no Vidigal, o projeto ganhou o reconhecimento internacional ao ser escolhido para subir a passarela do Desfile de Abertura do Ano da França no Brasil, ocorrido em 2008. Entre os convidados, estava na plateia a então primeira-dama da França, Carla Bruni. Quatro anos depois, era a vez das criações da ModaFusion serem apresentadas na Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2012. No mesmo ano, os alunos levaram suas roupas para o Desfile Coleção Princesas e a produção foi vista pela princesa Mary, da Dinamarca.
As criações foram longe! Algumas peças já estiveram à venda na Colette, uma das lojas conceito mais famosas de Paris, e também na Galeria Lafayette e no Bon Marché. Não bastasse isso, duas das maiores escolas de moda francesas, o L’Institut Français de la Mode (IFM, o Instituto Francês de Moda) e a Ecole Supérieure de Créateurs de Mode (ESMOD), costuraram uma parceria de sucesso com a ModaFusion – uma vez ao ano, um aluno destas escolas vem ao Brasil para um intercâmbio com estágio na Casa Geração Vidigal. Juntos, alunos franceses e brasileiros criam uma coleção inteira e os protótipos são apresentados na semana de moda do Rio e no Ethical Fashion Show, em Paris. As peças vendidas são produzidas e os alunos são remunerados.
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Nós trabalhamos com o que há de mais criativo e novo na moda, que são estes jovens talentos. Se são da favela, ou não, não importa
[/g1_quote]Ao longo desses anos, a ModaFusion apresentou duas coleções próprias, realizou diversas exposições, desfiles, eventos e workshops. Em 2015, a ONG participou da Semana de Moda de São Paulo (SPFW), na Casa dos Criadores. Os alunos são de diferentes comunidades do Rio: complexos da Maré e do Alemão, Santa Cruz e Cidade de Deus. “Nós trabalhamos com o que há de mais criativo e novo na moda, que são estes jovens talentos. Se são da favela, ou não, não importa”, comenta Andrea.
Sonho e pesadelo
Foi em 2013 que as sócias Andrea e Nadine abriram a Casa Geração Vidigal (CGV) – projeto que se tornou um verdadeiro celeiro de novos talentos, além de ser a primeira escola de moda numa favela no Brasil. “Fomos beneficiadas com o programa das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), no Rio, quando decidimos abrir a escola com o foco nas novas gerações. Para nós é muito importante promover esta integração social”, conta Andrea.
As aulas eram abertas a todos os jovens da cidade, mas gratuitas somente para aqueles que são moradores da comunidade. A procura era grande: cerca de 400 jovens inscritos, com idades que variam de 18 a 25 anos. Em abril passado, no entanto, o projeto foi interrompido. A oficina mecânica onde estava localizada a Casa Geração Vidigal foi comprada por um dos mais famosos traficantes da Rocinha, conhecido como Nem. As aulas foram suspensas.
“Foi um ano muito difícil. O Brasil passou por dificuldades econômicas, não conseguimos levantar os fundos necessários para o bom funcionamento do nosso ano letivo e perdemos nosso espaço de uma maneira muito abrupta por conta da interferência do tráfico”, lembra Andrea, que foi obrigada a repensar o negócio e focar na inserção dos antigos alunos no mercado de trabalho. “Não foi possível este ano abrir novas turmas”, lamenta.
No entanto, novos apoiadores surgiram para viabilizar a continuidade do trabalho. O Grupo Acorr e a Brazil Foundation estão colaborando com a reforma de um novo local no Vidigal, que está previsto para ser inaugurado durante o Carnaval em 2017. O local vai abrigar também o projeto Casa Geração Mulher, focado na formação profissional de mulheres da comunidades, que vão transformar em produtos as criações dos alunos da Casa Geração Vidigal.
Boa iniciativa do pessoal que reinventa a moda por utilizar os traços e peculiaridades de diversas universos culturais existentes nas comunidades. Melhor difusão da idéia de inclusão social foi esta abordagem da autora em propagar uma realidade que vem sendo desenvolvida por jornalistas de vanguarda que olham a periferia como qualquer outro bairro central que influencia tendências e alcança diversos universos na diversidade do Brasil e reinos a fora.