(Texto de Cristina Chacel) – As cenas podiam ser de ontem, anteontem, ou mesmo da semana passada, mas tem mais de 20 anos. Perfeitamente atuais, seriam flagrantes de uma cidade que se encontra alarmada, a alma em estado de sítio, com a escalada de uma violência que parece não ter lugar. Mas o que essas fotos de mais de 20 anos nos revelam, como que a beliscar e acordar nossa consciência, é que a violência vem de longe e, sim, tem o seu lugar. É no território da pobreza que ela se instala, avança, humilha. Neste ensaio, só de crianças de comunidades e bairros populares do Rio de Janeiro, importa o tempo. Que terá acontecido com a menina que a caminho da escola se esquiva de uma blitz policial? Ou ao garoto acuado na parede de sua casa, diante de seus dois irmãos chacinados? Ou, ainda, ao pequenino cercado de coturnos? Terão sobrevivido? Em que pessoas se transformaram essas crianças de ontem, hoje à beira dos 30 anos? Vemos aqui que a violência tem e fez história. É geracional. Uma geração de “classes perigosas”. E nos trouxe ao desatino dos dias de hoje.
Memórias da violência
No olhar das crianças a história de uma cidade que não encontra a paz
Fotógrafo de imprensa há 36 anos, Custodio Coimbra, 61 anos, passou pelos principais jornais do Rio e há 25 anos trabalha no jornal O Globo. Nascido no Rio de Janeiro, é hoje um artista requisitado entre colecionadores do mercado de fotografia de arte. Além de fotos divulgadas em jornais e revistas mundo afora, participou de dezenas de mostras coletivas no Brasil e no exterior. Tem sua obra identificada com a história e a paisagem do Rio de Janeiro.