O ouro é uma espécie de maldição para o povo Yanomami. Não bastassem os conflitos sangrentos que cercam a exploração ilegal dentro da reserva indígena, a maior do Brasil, com 9,6 milhões de hectares, no meio da Floresta Amazônica, em Roraima, a extração mineral vem fazendo mal à saúde dos indígenas. Pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), revelou que os índices de contaminação por mercúrio estão bem acima dos permitidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que tolera um percentual de até 6%, e pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), que aceita um índice bem mais baixo, de 1%. Em algumas aldeias, a contaminação chega a 85%, entre crianças de até 5 anos.
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O levantamento, feito sem recursos oficiais e realizado graças à cooperação de um conjunto de instituições, ocorreu em 19 aldeias. Em uma delas, a comunidade de Aracaçá, na região de Waikás, constatou-se que 92% do total das amostras recolhidas apresentavam alto índice de contaminação por mercúrio.
Durante a pesquisa, foram coletadas 239 amostras de cabelo. Após a conclusão do trabalho, no mês passado, as mechas foram devolvidas, para que o ritual de morte fosse cumprido. É tradição entre os Yanomami incinerar os restos mortais do seu povo, o que inclui os cabelos cortados.
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Veja o que já enviamosForam recolhidas também 35 amostras de peixes, que é a base da alimentação. O nível de contaminação entre os peixes não é alarmante como o detectado entre os indígenas. Entre os peixes carnívoros, o índice encontrado foi de 0,14 microgramas por grama de peixe. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o nível preocupante é acima de um micrograma por grama de peixe.
Só que, devido o hábito alimentar, a frequência com que consomem peixe é elevadíssima, já que, muitas vezes, é a única fonte de proteína disponível nas refeições. Dependendo da época do ano, costumam comer peixe no café da manhã, no almoço, no lanche, no jantar.
Todos os envolvidos na pesquisa assinaram termos de consentimento autorizando o corte de mechas do cabelo. Os documentos foram traduzidos para as línguas Yanomami e Ye´kwana, assim como o resultado da pesquisa que foi apresentado à comunidade em março.
O levantamento foi fundamental para ajudar o ISA e os indígenas a pressionaram as autoridades a fecharem o cerco ao garimpo de ouro. A exploração e o comércio ilegal são problemas da polícia, mas a contaminação por mercúrio pode levar o país a macular um compromisso internacional, do qual é signatário há três anos. Em 2013, o Brasil assinou a Convenção de Minamata – tratado global para proteger à saúde humana e o ambiente dos efeitos adversos do mercúrio. O país tem até 2017 para fazer um levantamento completo das principais fontes de emissão. O mercúrio deixado no território indígena é uma destas fontes.
Os pesquisadores da Fiocruz Sandra Hacon e Paulo Basta estão convencidos que o grau de vulnerabilidade dos indígenas é maior do que qualquer outro grupo social exposto ao mercúrio. O motivo é simples: as aldeias estão doentes. Entre os indígenas da região Norte, o índice de desnutrição chega a 46%; entre os Yanomami, o percentual é bem maior, 85%, segundo estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). A subnutrição potencializa os efeitos do mercúrio no organismo humano.
Os transtornos à saúde causados por contaminação de mercúrio vão desde alterações neurológicas e renais à perda de memória e retardo. O mercúrio é apenas um dos efeitos da maldição do ouro na Terra Indígena. A população ainda está exposta ao álcool, às drogas e à prostituição – tríade inseparável da operação de garimpo no país.
Existe um grupo de pesquisa com estudantes da Universidade Federal do Amazonas e da Universidade Estadual do Amazonas, eles desenvolveram uma bactéria geneticamente modificada que possui a capacidade de retirar o mercúrio da água contaminada. http://www.avidaquer.com.br/ciencia-brasileira-no-mit/
Christina, vou atrás desta história. Obrigada]