Morre o pai da primatologia brasileira

Adelmar Coimbra-Filho dedicou sua vida e obra à preservação dos símios

Por Liana Melo | FlorestasODS 14 • Publicada em 1 de julho de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:54

Adelmar Coimbra-Filho no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro
Adelmar Coimbra-Filho no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro
Adelmar Coimbra-Filho no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Impossível abrir um livro sobre primatologia e não encontrar o nome de Adelmar Faria Coimbra-Filho entre as referências bibliográficas. Se o tema em questão for os lions tamaris, como é conhecida a família dos micosleões, mais improvável ainda. Até a última segunda-feira, ele era considerado o maior conservacionista vivo brasileiro. Ele foi uma das vozes mais eloquentes contra a extinção do mico-leão-dourado, que preferia chamar de sauí-piranga, porque “na natureza ele não é dourado, é vermelho alaranjado brilhante”, como explicava.

Coimbra morreu, aos 92 anos, deixando mais de 200 trabalhos científicos e emprestando seu nome a espécies de macaco (Callicebus coimbrai), de percevejo (Taedia coimbrai), de uma bromélia (Neoregelia coimbraii) e, a última homenagem, de um fóssil de macaco (Cartelles coimbrafilhoi). O fóssil foi encontrado na caverna Toca da Boa Vista, em Minas Gerais, por dois cientistas americanos, em 2014.

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Salvei as três espécies de mico-leão

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“Salvei as três espécies de mico-leão”, orgulhava-se Coimbra-Filho, referindo-se ao mico-leão-dourado, ao mico-leão-preto e ao mico-leão-da-cara-dourada. A saga contra a extinção da espécie começou fortuitamente nos anos 1940 e se confundiu com a história da primatologia brasileira e o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), que concebeu, fundou e presidiu por duas décadas e meia. Incrustado na Reserva Ecológica Paraíso, em Guapimirim, a instituição é a primeira do mundo voltada prioritariamente à conservação de primatas. Coimbra esteve à frente do centro de 1979 até 1993. Desde 2009, o CPRJ é administrado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Hoje, ele abriga 230 símios de 25 espécies ameaçadas de extinção, originárias da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia brasileira.

Mico-leão-dourado já esteve classificado como “criticamente ameaçado”

A dedicação de Coimbra-Filho ao estudo dos símios se estendia a sua casa. Seu apartamento na Gávea tem estatuetas do animal e fotos espalhadas pelos cômodos. Entre os pares, era reverenciado como “lenda viva da primatologia”, segundo o australiano Colin Groves, e “líder e visionário”, na avaliação de Russell Mittermeir, presidente mundial da ONG Conservação Internacional. Foi um dos poucos cientistas brasileiros a receber a medalha Augusto Ruschi.

A cruzada de Coimbra-Filho pela preservação do mico-leão-dourado começou nos anos 60. Graças a ele, o animal mudou de status: de “criticamente ameaçado” para “em perigo” e virou símbolo da Mata Atlântica e ícone da preservação da floresta. Hoje, a população gira em torno de 1.600 indivíduos.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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