Terceirizando uma ideia de quinta

No século do Murici, as enormes vantagens de acabar com os vínculos

Por Leo Aversa | Economia VerdeODS 14 • Publicada em 23 de março de 2017 - 14:47 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:41

Essa coisa de carteira assinada, férias, décimo terceiro é um resíduo maldito do século XX, precisa ficar para trás. Foto de Luiz Souza/NurPhoto
Essa coisa de carteira assinada, férias, décimo terceiro é um resíduo maldito do século XX, precisa ficar para trás. Foto de Luiz Souza/NurPhoto
Essa coisa de carteira assinada, férias, décimo terceiro é um resíduo maldito do século XX, precisa ficar para trás. Foto de Luiz Souza/NurPhoto

Genial essa terceirizacão do Temer. É disso que o Brasil precisa. Essa coisa de carteira assinada, férias, décimo terceiro é um resíduo maldito do século XX, precisa ficar para trás. O século XXl é o século do Murici, cada um cuida de si. Patrão ficar de babá de empregado só atrasa a marcha do país rumo ao primeiro mundo.

O presidente está certo em espalhar, incentivar a terceirização em todos os campos.

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Essa história de “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” é mais ultrapassada do que Barrichello em reta de Grande Prêmio. Se o cônjuge/colaborador traz alegria e saúde, tudo bem, mantém o vínculo, mas se ele começar a atrapalhar com doença e tristeza, tem que trocar!

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Exército, por exemplo: por que não demitir todos esses militares vagabundos e contratar mercenários? Levou um tiro, não consegue continuar na batalha? Joga na lixeira e contrata outro. Chega desse paternalismo anacrônico de cuidar dos feridos, atitude condenável que só traz déficit nas contas. E mais, terceirizando você pode usar a globalização a seu favor. Um general russo com experiência em invasões pode nos ajudar a tomar conta da Bolívia, por exemplo. É claro que no meio da batalha os bolivianos podem cobrir nossa proposta e o russo mudar de lado, é um risco, mas o risco faz parte do capitalismo moderno.

Casamentos: por que não terceirizar? Essa história de “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” é mais ultrapassada do que Barrichello em reta de Grande Prêmio. Se o cônjuge/colaborador traz alegria e saúde, tudo bem, mantém o vínculo, mas se ele começar a atrapalhar com doença e tristeza, tem que trocar! Problema dele, não seu! A vida é muito curta para perder tempo com gente defeituosa. Manda de volta para a fábrica e pega outro novinho. Viva!

O futebol é outra área onde a medida do Temer vai ser fundamental. Os times brasileiros só têm a ganhar. Atacante devia ser terceirizado, é uma posição que dá muito problema, o cara se machuca toda hora, fica um tempo sem fazer gol, com salário então, aí é que o sujeito se acomoda mesmo. O Flamengo, por exemplo, podia terceirizar o seu camisa dez. Fez gol continua, não fez, sai. Pra não criar vínculo, o uniforme não poderia ser rubro negro. Camisa verde escura, bem neutra, pra confundir com a grama e não dar na vista. E o atacante terceirizado também não poderia comemorar junto à torcida, pra não afeiçoar. Se fizer gol, vai pro vestiário e só volta quando os torcedores sossegarem.

Goleiro é outra posição que precisa ser modernizada nas relações de trabalho. Tomou gol? Antes do time dar a saída ele já tá demitido, ou melhor, desligado, que demitir é uma palavra que o dpto. de marketing não gosta. Defendeu o pênalti na final do campeonato? Corre pro vestiário pra não criar vínculo. No clube/empresa moderno, o jogador é detalhe, o que importa é a marca, jogador é só atraso e decepção.

E se um time brasileiro consegue ir à final do campeonato mundial de clubes, nada de pagar passagem para esses parasitas. Nada de laços trabalhistas, essa ruína populista. Vão pra final no Japão só o técnico e o presidente do clube, os jogadores serão contratados por lá. Muito mais barato e profissional.

Nossos políticos, sempre na vanguarda, já são terceirizados há décadas: como a lava jato mostrou bem, são todos funcionários da Odebrecht, que dão expediente no governo. Qualquer governo.

São eles a prova maior de como a terceirização funciona às mil maravilhas.

Leo Aversa

Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.

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