Tecnologias para a economia verde

Empresas brasileiras fazem o dever de casa antes da Conferência do Clima

Por Marina Grossi | ArtigoEconomia VerdeODS 14 • Publicada em 17 de novembro de 2015 - 12:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:48

LCTIO debate sobre uma economia pouco intensiva em carbono, eficiente no uso de recursos naturais e socialmente inclusiva ganha mais importância neste fim de ano, em que a 21ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP 21), em Paris, irá negociar o novo acordo global do clima. A economia verde, aquela que resulta em melhoria do bem-estar e igualdade social, menos riscos e impactos ambientais, está no centro das discussões e das ações.

Governos, empresas e sociedade civil buscam mais equilíbrio entre crescimento, emprego, renda e a sustentabilidade do planeta. Nesse contexto, os investimentos públicos e privados devem contribuir para mitigar e reduzir emissões de carbono e demais gases de efeito estufa.

Atentas às mudanças mercadológicas e regulatórias que virão como consequência do novo pacto climático, empresas do Brasil e do mundo se movimentam para diminuir os impactos das novas regras do jogo econômico em suas operações. Adoção de energias renováveis, rejeição ao desmatamento e estimativa interna de valor (custo) para o CO² emitido estão entre os mantras de iniciativas empresariais globais que ganham adesões diárias de corporações de todos os países do mundo.

Número significativo e crescente de empresas já vem considerando o cenário futuro da economia de baixo carbono em seu planejamento estratégico. O desenvolvimento de processos e de produtos adequados às crescentes exigências de menor impacto ambiental passa a ter mais relevância e a requerer novas abordagens para investimentos, produtos e marketing empresarial. A inovação é exigida em diversos aspectos, entre os quais a tecnologia é fundamental.

As empresas têm o poder e a responsabilidade de realizar os investimentos, viabilizar soluções de negócios ambientalmente corretas e, no caso brasileiro, contribuir para aumentar a competitividade do país em sua retomada do crescimento nesse novo ciclo econômico mundial que se inicia.

Pela primeira vez em uma Conferência do Clima o setor empresarial foi chamado formalmente a contribuir por meio da Iniciativa de Parcerias para Tecnologias de Baixo Carbono (LCTPi, na sigla em inglês) que reúne empresas com o objetivo de identificar oportunidades, entraves e soluções em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento da economia verde. A iniciativa trabalha tecnologias em áreas com potencial significativo de reduzir emissões de gases de efeito estufa, mas que necessitam de esforço internacional organizado para unir os setores público e privado.

Para chegar a Paris com resultados concretos, optou-se por iniciar o esforço no Brasil em cinco áreas consideradas prioritárias em termos de tecnologia: energias renováveis, biocombustíveis avançados, materiais (cimento), florestas e agricultura.

Os trabalhos para ampliar a implantação, melhorar a integração e remover barreiras ao financiamento de energias renováveis estão sendo desenvolvidos pela Renova Energia, CPFL Renováveis, Siemens, GE, Schneider Electric, Dow, Itaú e BNDES. Elas estão focadas em tecnologias com grande potencial de desenvolvimento no Brasil como solar fotovoltaica, eólica, pequenas centrais hidrelétricas (PCH), usinas solares térmicas, acesso ao grid (rede) por parte da geração distribuída e smart-grid (infraestrutura de distribuição de energia).

Na área de materiais, os objetivos são ampliar o uso de tecnologias para reduzir emissões provenientes da produção de cimento, promover oportunidades de colaboração e desenvolvimento de parcerias com outros setores cujos resíduos podem constituir matéria-prima para combustíveis alternativos e identificar fatores regulamentares ou financeiros para a implementação eficaz de tecnologias de baixo carbono. Nesse grupo, trabalham o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e as empresas InterCement, Cimentos Liz e Votorantim Cimentos.

A discussão sobre biocombustíveis avançados consiste em unir empresas para ampliar o uso de inovações capazes de reduzir emissões e ajudar a atender à crescente demanda por energia de uma forma sensível às mudanças climáticas. É necessário identificar e estimular políticas nacionais e internacionais apropriadas para apoiar o crescimento sustentável dos biocombustíveis avançados. Novas parcerias e modelos irão atrair investimentos e oferecer oportunidades escaláveis de projetos para execução rápida através de iniciativas de parceria público-privadas. As tecnologias trabalhadas, nesse caso, são etanol celulósico e biodiesel de dendê, pelo Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE) e Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI). Empresas como Copersucar, Raízen, Granbio, Novozymes e Solvay estão participando ativamente das discussões.

No tema florestas, as soluções estão focadas em três aspectos. O primeiro é o manejo sustentável, por meio de mecanismos para reduzir a taxa de desmatamento, melhorar as paisagens florestais degradadas e aumentar a área sob cobertura florestal. O segundo é inovação e desenvolvimento tecnológico no processamento de polpa, para o qual já existem tecnologias que reduzem a intensidade das emissões em até 70%.  E o terceiro, mecanismos para aumentar a demanda por produtos florestais que contribuam para o crescimento de florestas geridas de forma sustentável, sem madeiras oriundas de áreas desmatadas. As tecnologias trabalhadas nesse grupo pela Fibria, Suzano e Votorantim, além da Coalizão Brasil Clima Florestas Agricultura, visam o desenvolvimento de espécies arbóreas nativas.

Em agricultura, o objetivo é fomentar as condições técnicas, políticas e financeiras para o desenvolvimento sustentável, dentro de uma nova abordagem inteligente que busca enfrentar os desafios de segurança alimentar e climática. O trabalho visa ajudar o país a migrar de forma mais eficaz para um modelo de baixo carbono, tanto pela adoção de novos modos produtivos quanto pelo desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias. Um dos focos é construir um Plano de Trabalho Nacional para expansão da chamada Agricultura de Baixo Carbono no Brasil, baseado em uma nacionalização e adequação do Plano Global que será levado pelo LCTPi à COP 21 de Paris.

As tecnologias trabalhadas na agricultura são integração lavoura-pecuária-floresta, manejo da terra, fixação biológica de nitrogênio, aumento de produtividade com recuperação de áreas degradadas e manejo de ecossistemas para torná-los mais resilientes. Entre as empresas participantes estão Banco do Brasil, Monsanto, PepsiCo, Dow e Grupo André Maggi.

Representantes dos setores público e privado, acadêmicos e especialistas trabalharam em conjunto, no âmbito do LCTPi, no último dia 7 de outubro, em São Paulo, no planejamento dos investimentos e propostas de ações para implementá-los. Mais de 130 pessoas participaram da rodada brasileira desse projeto global norteadas pela certeza de que o desenvolvimento das tecnologias de baixo carbono precisa ocorrer em nível e velocidade consistentes com o objetivo maior da COP 21, de limitar o aquecimento do planeta a 2° C neste século. Não podemos perder a oportunidade de usar o poder da tecnologia para tornar mais verde a economia do país e do mundo.

 

 

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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