“Moro aqui a vida inteira. Na minha infância, isso era um brejo, tinha tabuinha na rua pra passar e muito gente já caiu na lama. Eu construí minha casa do zero, tijolo por tijolo, a vida inteira. Foi muito sacrifício e muito luta. O povo já perdeu tudo em enchente aqui em Vigário: casa, roupa, móvel… O que nós temos hoje é um lugar maravilhoso. Estamos na cidade. Já passamos muito perrengue. Trabalhei a vida inteira como merendeira na escola em Parada de Lucas até me aposentar. Minha irmã é professora e já deu aula pra favela inteira.
Na chacina, perdi um ente querido. Na época, eu saí numa foto no jornal e na televisão. Quando começou o tiroteio, a gente estava no barraco dentro de casa, ninguém podia sair. Quando acalmava, a gente voltava para a rua, foi aí que a gente viu nosso ente querido morto. O Bira, meu irmão, se fingiu de morto junto com o Jadir para viver. Eles são sobreviventes da chacina. Demoramos muito a superar isso, mas não tínhamos para onde ir. Vou ficar aqui até Deus me levar, mas ainda quero sambar muito e ir pra minha escola de samba. Faço parte da velha guarda da Unidos de Lucas. Às vezes, a gente aluga ônibus e vamos para a Portela ou o Salgueiro”.