“Eu sou conhecido como Márcio Bocão, esse é meu nome artístico. Sou músico da banda Pra Jah de Reggae, que tem quatro integrantes e estou lançando um EP chamado “Evolução”. A minha banda não tem a ver com o AfroReggae porque eu comecei antes deles. Eu era o maluco de Vigário. Hoje é muito bom ver todo mundo assumindo o seu cabelo e a sua identidade. Me consideravam o maluco de roupa estranha que ninguém usava. Sair de Vigário para o mundo começou quando o meu amigo Renato Ferreira, o palhaço Topetão, que também é cria de Vigário, tinha um projeto e foi trabalhar na Europa. Quando ele voltou, formou uma empresa com artistas circenses e me convidou. Fiquei um ano fazendo teatro em um parque temático na Alemanha. Fiz muita graça para gringo.
Vários amigos meus morreram na chacina. Foi assustador. Eu estava em casa com a minha esposa grávida. Nunca fiquei com tanto medo quanto naquele dia. A gente é acostumado desde criança a achar que aquilo é normal, mas não é normal. Eu sei que não é normal conviver com violência. Por isso, consegui sair e montar minha casa fora e levei meus pais. Desde aquela época, a violência continua e as crianças têm pouco acesso à diversão e arte, educação e saneamento. Disse para o meu filho que ele não ia passar pelo que passei e saímos quando ele ainda era pequeno. Muito do que eu não vi aqui, ele não viu. Hoje é policial militar. Eu carrego muitas amizades aqui da comunidade para sempre, é um laço. Um alerta o outro quando a pista está salgada. Alerta. Sempre alerta”.