‘A luta de classes é pós-moderna’

Discurso de Hallux Angelstorm, homem trans e indígena

Por Marceu Vieira | Artigo • Publicada em 17 de dezembro de 2015 - 02:20 • Atualizada em 17 de dezembro de 2015 - 03:16

“Essa é uma homenagem aes ausentes. Aes ausentes, às pessoas na margem dessa sociedade de fronteiras, dessa sociedade cisgênera, heteronormativa, que classifica e estigmatiza qualquer ume que não esteja de cabeça baixa para as normas impostas do capital. Às travestis e mulheres trans, assassinadas e trancafiadas em presídios simplesmente por existirem, sem a dignidade de se tornarem o que são, mulheres!

Aos homens trans que, desde o grande João Nery, estão lutando para serem reconhecidos, e, pasmem, lutando para mostrar que existimos, sim, em nossas transmasculinidades, e vai ter homem trans negro, homem trans indígena, homens trans em suas diversidades, sim!

[g1_quote author_name=”Hallux Angelstorm” author_description=”Homem trans e indígena” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

Hoje, em 2015, nós dizemos, nós somos a nova luta de classes!! E ela é transvestigênera, LGBT, transfeminista, feminista, anticapacitista, antimeritocrata, negra e indígena!

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Aos ausentes do povo negre, jovens homens e mulheres que estão sendo assassinades todos os dias nas favelas e comunidades, vitimas do fascismo do braço armado e fardado do Estado.

Aes ausentes do meu povo indígena, meus parentes expulsos de suas terras e seus rios, de suas existências étnicas, no genocídio legitimado pelos latifundiários e ruralistas da bancada do boi, da bala e da Bíblia (o manejo é indígena, sim!! Autodemarcação já!!).

Às mulheres cis-pretas, brancas e indígenas ausentes, mortas nas mãos do patriarcado feminicida, que morreram e morrem em mesas de aborto clandestino e pelas mãos dos próprios conjugues e companheiros, mas que a sociedade insiste em ver como passionalidade.

Aos amigos animais ausentes, assassinados em massa na dor e no sofrimento na maior matança de seres inocentes do planeta, unicamente para satisfazer o paladar imundo dessa humanidade (liberdade animal já!).

A todes esses ausentes, faço minha homenagem, e deixo um recado e uma reflexão a essa esquerda de discurso vanguardista, machista e sectário, que, sim!, nós somos o magma do pós-modernismo, e nossa hora chegou!! Se calem e reconheçam nossa reparação histórica de décadas de silenciamento por vocês, nas lutas pela igualdade e por justiça.

Hoje, em 2015, nós dizemos, nós somos a nova luta de classes!! E ela é transvestigênera, LGBT, transfeminista, feminista, anticapacitista, antimeritocrata, negra e indígena! E ninguém mais fala por nós!! A luta de classes agora é pós-moderna!! E ninguém mais fala por nós”.

Hallux Angelstorm, homem trans e indígena (ele pede para ser identificado assim)

Marceu Vieira

Marceu Vieira é jornalista, compositor e, quando pode, ficcionista e cronista do cotidiano. Iniciou-se no jornalismo na extinta "Tribuna da Imprensa" e seguiu na profissão, sempre repórter em tempo integral, nas redações de "O Nacional", "Veja", "Jornal do Brasil", "Época" e "O Globo".

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3 comentários “‘A luta de classes é pós-moderna’

  1. Stalin disse:

    vocês pós-modernistas são tão burros que preferem enfraquecer a própria esquerda pra continuar criando umas 1000 pautas de problematização e tem coragem de falar que luta de classes é pós moderna? faça me o favor ne! Quando vcs vao aprender que isso que vcs fazem não é revolução , revolução é o que Stalin fez , Mao , Che , vcs deviam ter vergonha de achar que estão realmente mudando algo quando na verdade estão enfraquecendo a esquerda pra tentar ganhar visibilidade pro grupo de vcs , entendam que luta de classes é oprimido x opressor , e a raiz dos problemas do mundo moderno é o capital , assim que o problema do capital for resolvido eu até concordo em dividir a problemática em 1000 pautas como vcs já fazem hj em dia.

    • gulag de andrade disse:

      concordo em tudo camarada, menos que a new left é left haha

      eles atrapalham e desviam tanto o foco que, só posso pensar que pós modernos, pra mim tão longe de ser de esquerda.

      puro individualismo, inflação de ego umbigo centrado e tudo que a democracia liberal adora.

      pra vcs da new left (right??), existia um lugar bem especial na Sibéria

  2. mateus guerreiro disse:

    Pos modernos é a ”continuação” da contra-cultura dos anos 60 e 70, apesar de não gostarem de ser rotulados , eles são de esquerda, mas são defendem o Comunismo ou qualquer forma autoritária de governo. Teoricamente, se insere dentro da Esquerda Cultural, mas não na Esquerda Política, pois, na prática, pos modernos são liberais e ”humanistas”. É muito fácil ser um pos modernos quando é burgues e aluno da USP, basta pintar o sovaco de azul, fumar maconha, ficar cool na turma, teorizando vagamente ”luta de classes” e ganhando holofotes e curtida no facebook, quero ver ser pos sem ensino de qualidade, saúde, transporte , infra estrutura e anseios reais pra mudar o país e o povo.etc.

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