O G20 é o grupo mais amplo que atua nos fóruns da governança global. Fazem parte do G20, os seguintes países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Europeia, além da União Africana, que foi admitida no ano passado.
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Criado originalmente em 1999 em resposta às crises financeiras dos anos 1990, o G20 a princípio reunia os ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais de 19 países mais a União Europeia. Com a crise financeira de 2008, as reuniões foram elevadas a nível de cúpula de chefes de Estado. A primeira Cúpula do G20 foi realizada em Washington, em novembro de 2008. Até 2010, as cúpulas eram realizadas semestralmente. A partir de 2011 passaram a ser anuais.
O Brasil assumiu a presidência a partir da 18ª Cúpula, realizada na Índia, em 2023, exercendo a presidência do G20 de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024. Durante a presidência brasileira, o país trabalhará em estreita colaboração com a Índia (Presidência de 2023) e a África do Sul (Presidência de 2025). A 19ª Cúpula de Líderes do G20 está marcada para os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
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Veja o que já enviamosO peso econômico do G20 e de seus membros
Considerando os 19 países membros e a União Europeia (UE), o G20 responde por cerca de 80% da economia internacional. A União Europeia (UE) possui 27 países, mas a Alemanha, o Reino Unido (UK), a França e a Itália participam individualmente do G20. Assim, além destes 4 países europeus, se agrega os outros 23 países da União Europeia (UE-23 países). Por falta de dados completos, não foi incluída no gráfico abaixo a União Africana, que terá a sua primeira participação efetiva na reunião do Rio, em novembro de 2024.
O gráfico abaixo, com dados do relatório World Economic Outlook (WEO) de abril de 2024, do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostra o percentual do Produto Interno Bruto (PIB), em poder de paridade de compra (ppp), de cada país em relação ao PIB global, entre 1980 e 2024, com estimativas até 2029. Os dados mostram que a dinâmica econômica dos membros do G20 apresentou mudanças significativas nos 50 anos entre 1980 e 2029.
Os Estados Unidos da América (EUA) eram a maior economia em 1980, representando 21,3% do PIB global, mas ao longo dos anos foi diminuindo de tamanho e passou para 16% em 2017 e deve ficar em 14,7% do PIB global em 2029. A China seguiu ritmo oposto, pois tinha uma participação no PIB global de somente 2,3% em 1980, chegou a 16,2% em 2017 e deve ficar com 19,5% do PIB global em 2029. Portanto, a China se tornou a maior economia mundial a partir de 2017, quando se usa a medida do poder de paridade de compra.
Outra economia que apresentou elevado crescimento, absoluto e relativo, foi a indiana. O PIB da Índia representava apenas 3% do PIB mundial em 1980, chegou a 8% em 2024 e deve atingir 9,2% do PIB global em 2029. Em menor proporção, a Indonésia tinha uma economia que representava 1,4% do PIB global em 1980, subiu para 2,5% em 2024 e deve alcançar 2,8% em 2029. A Turquia tinha uma economia de 1,2% do PIB global em 1980, subiu para 2% em 2024 e deve chegar a 2,1% em 2029. O outro país que apresentou aumento relativo do PIB foi a Coreia do Sul que tinha uma economia do tamanho de 0,6% do PIB global, chegou a 1,6% em 2024 e deve manter a mesma proporção em 2029.
Todos os demais membro do G20 apresentaram diminuição do tamanho relativo da economia. Entre 1980 e 2029, em proporção do PIB global, a economia do Japão diminuiu de 8% para 3,2%. A economia da Alemanha diminuiu de 6,4% para 2,8%. A economia da França caiu de 4,3% para 2%. A economia do Reino Unido (UK) diminuiu de 3,8% para 2%. O Canada foi de 2,2% para 1,3%. A economia italiana passou de 4,6% para 1,6% (a maior queda entre os países do G7).
Os dados da Rússia estão disponíveis a partir de 1992, quando a economia representava 4,9% do PIB global e deve cair para 2,7% em 2029. O Brasil tinha um PIB que constituía 4,3% do PIB global em 1980, caiu para 2,3% em 2024 e deve ficar em 2,2% do PIB global em 2029. O Brasil tinha um PIB maior do que o da China e o da Índia em 1980 e agora é apenas uma fração do tamanho das duas grandes economias asiáticas.
Comparando a tendência do G7 (EUA + Japão + Alemanha + França + Reino Unido + Itália + Canada) com os dois gigantes asiáticos, a China + Índia (Chíndia) o contraste é marcante. A economia do G7 representava 50,5% do PIB global em 1980, caiu para 29,6% em 2024 e deve ficar em 27,6% do PIB global em 2029. Já a economia da Chíndia era de apenas 5,3% do PIB global em 1980, chegou a 26,9% em 2024 e deve ficar em 28,7% do PIB global em 2029. Portanto, a economia da Chíndia vai ultrapassar o tamanho da economia do G7 ainda na atual década, evidenciando o fortalecimento da economia oriental em relação à economia ocidental.
O peso demográfico do G20 e de seus membros
O conjunto dos membros do G20 apresentou crescimento demográfico na segunda metade do século XX, mas deve apresentar decrescimento demográfico na segunda metade do século XXI. Enquanto o ritmo de crescimento populacional diminui, a estrutura etária vai envelhecer de maneira significativa.
O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, mostra que o conjunto dos membros do G20 (19 países mais os outros 23 membros da União Europeia) tinha uma população de 1,8 bilhão de habitantes em 1950, representando 73% dos 2,5 bilhões de habitantes globais. No ano 2000, a população do G20 passou para 4,1 bilhões de habitantes, representando 66% dos 6,1 bilhões de pessoas existentes no mundo. Mas o pico populacional absoluto do G20 ocorrerá em 2046, com 5,1 bilhões de habitantes, representando 54% dos 9,5 bilhões de habitantes globais. A estimativa para 2100 é de 4,2 bilhões de pessoas no G20, representando 41% dos 10,3 bilhões de habitantes da população global.
A maior transformação demográfica ocorreu na China. O “Império do Meio” tinha uma população de 544 milhões de habitantes em 1950, representando 21,8% do total global. Em 2021 atingiu o pico populacional de 1,425 bilhão de habitantes, representando 17,9% da população mundial. O número de chineses começou a cair em 2022 e deve encolher para 767 milhões de pessoas em 2100, representando “somente” 7,4% do total global no final do século.
O outro gigante é a Índia, que tinha uma população de 357 milhões de habitantes em 1950, representando 14,3% do total global, ultrapassou a China em 2023, com 1,429 bilhão de habitantes (18% do total), deve atingir o pico populacional em 2063, com 1,697 bilhão de habitantes (16,7% do total global) e deve apresentar uma diminuição para 1,530 bilhão de habitantes em 2100, representando 14,8% do total global.
Os EUA são o terceiro país mais populoso do mundo, mas apresenta um crescimento demográfico abaixo da média mundial. Tinha uma população que representava 5,9% do total global em 1950, caiu para 4,6% no ano 2000 e deve ficar com 3,8% em 2100.
A Rússia era o quarto país mais populoso do mundo, com 103 milhões de habitantes em 1950, representando 4,1% do total global, mas já caiu para 1,8% do total global em 2024 e deve ficar com somente 1,1% do total global em 2100. Porém, o Japão deve apresentar o maior declínio, pois tinha uma população que representava 3,4% do total global em 1950 e deve cair para apenas 0,7% da população mundial em 2100. O Brasil tinha uma população de 54 milhões de habitantes em 1950, representando 2,2% do total global. Deve atingir o pico em 2047, com 2,4% do total global e deve cair para 185 milhões de habitantes em 2100, representando 1,8% do total global.
Também os países do G7 (as economias mais avançadas do G20) vão apresentar decrescimento absoluto e relativo. A população do conjunto dos membros do G7 era de 456 milhões de habitantes em 1950, representando 18,2% do total global. Deve atingir o pico de 796 milhões de habitantes em 2044, representando 8,5% do total global e deve cair para 759 milhões de habitantes em 2100, representando 7,3% do total global.
Todas as demais economias do G20 vão apresentar decrescimento relativo no decorrer do século XXI. Como mostrado anteriormente, o conjunto dos membros do G20 tinha uma população que representava 73% do total global em 1950 e deve cair para 41% em 2100. Contudo, este quadro demográfico deverá mudar com a entrada da União Africana. O continente africano tinha uma população de 228 milhões de habitantes em 1950, representando 9,1% do total global e deve atingir 3,9 bilhões de habitantes em 2100, representando 38% do total global. Com a entrada da União Africana, o G20 manterá cerca de 80% da população mundial no restante do século XXI.
Síntese dos indicadores econômicos e demográficos do G20
O G20 é um grupo grande e, ao mesmo tempo, muito heterogêneo. A tabela abaixo apresenta alguns indicadores econômicos e demográficos para os 19 países e a União Europeia (23 países) para o ano de 2024. A tabela está ordenada pela proporção do PIB global para cada membro do grupo, em poder de paridade de compra.
A China é a maior economia, com 19% do PIB global em 2024. Segue os EUA com 15,5%, a Índia com 7,9%, a EU-23 com 5%, o Japão com 3,6%, a Alemanha 3,1%, a Rússia 2,9%, a Indonésia 2,5% e o Brasil, em 9º lugar, com 2,3% do PIB global. A África do Sul é a menor economia.
Em termos populacionais, a Índia ultrapassou a China em 2023 e se tornou o país mais populoso do mundo, com 1,442 bilhão de habitantes em 2024, seguida pela China com 1,425 bilhão de habitantes. Os EUA estão em terceiro lugar (com 342 milhões), a Indonésia está em quarto lugar (com 280 milhões) e o Brasil em 5º lugar no ranking do G20, com 218 milhões de habitantes, segundo projeções da Divisão de População da ONU. No mundo, há dois países mais populosos do que o Brasil e não fazem parte do G20 – Paquistão (com 245 milhões) e Nigéria (com 229 milhões de habitantes).
Os 23 países da União Europeia (UE-23) possuem uma população de 175,1 milhões de habitantes, a Rússia 144 milhões, o México 129,4 milhões, o Japão 122,6 milhões e a Turquia e a Alemanha possuem população de pouco mais de 80 milhões de habitantes. O país do G20 com menor população é a Austrália, com 26,7 milhões de habitantes em 2024.
Em termos de renda per capita, em poder de paridade de compra, os EUA lideram com US$ 68,2 mil, seguidos da Arábia Saudita com US$ 56,2 mil e Alemanha e Austrália com pouco mais de US$ 53 mil. Canada e França possuem renda per capita em 2024 com pouco mais de US$ 48 mil. Coreia do Sul e Reino Unido em torno de US$ 47 mil. O Brasil apresenta a quarta menor renda per capita, com US$ 16,6 mil. A Índia, que é o país mais populoso apresenta a menor renda per capita, com US$ 8,1 mil.
A taxa de fecundidade total (TFT) de 2,1 filhos por mulher é definida como uma taxa de reposição, pois sendo mantida no longo prazo faz com que a população se estabilize. Acima de 2,1 filhos por mulher a população cresce e abaixo de 2,1 filhos por mulher a população decresce. A menor TFT entre os membros do G20, em 2024, é da Coreia do Sul com apenas 0,89 filho por mulher. A China (1,21 filho), a Itália (1,31 filho), o Japão (1,33 filho) e o Canada (1,47 filho) possuem taxa de fecundidade muito baixa, o que aponta para um grande declínio populacional no futuro. A maioria dos países do G20 possuem TFT entre 1,5 filho e 2,1 filho por mulher. A Indonésia atingiu a taxa de reposição em 2024 e somente a África do Sul e a Arábia Saudita possuem taxas acima do nível de reposição.
A idade mediana é um indicador do envelhecimento populacional. O Japão é o país mais envelhecido do mundo e tem uma idade mediana de praticamente 50 anos, isto quer dizer que metade da população tem menos de 50 anos e metade tem mais de 50 anos. A Itália, a Coreia do Sul, a Alemanha, a França, a EU-23, o Canada e o Reino Unido (UK) possuem idade mediana acima de 45 anos, apontando uma estrutura etária bastante envelhecida. A maioria dos membros do G20 possuem idade mediana entre 30 e 40 anos. Somente a Índia e a África do Sul, os dois países com a estrutura etária mais rejuvenescida, possuem idade mediana abaixo de 30 anos em 2024.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador sintético usado para estimar o grau de desenvolvimento humano de uma determinada sociedade. Quanto mais próximo de zero, menor é o nível de bem-estar e quanto mais próximo de 1, maior é o nível de bem-estar e progresso nacional. Utilizando o ranking global de 2022, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP, na sigla em inglês), a Itália, França, Japão, EU-23, EUA, Coreia do Sul, Canada, Reino Unido, Austrália e Alemanha possuem IDH muito alto, acima de 0,900. Rússia, Argentina, Turquia e Arábia Saudita possuem IDH entre 0,800 e 0,900. O Brasil, com IDH DE 0,760, em 2022, só está na frente de África do Sul, Indonésia e índia, os 3 países com os menores IDHs do G20.
Desafios e perspectivas do G20+
Os dados mostram que existem muitas desigualdades econômicas e sociais entre os membros do G20. Estas desigualdades no interior do grupo vão aumentar com a entrada da União Africana, região que apresenta indicadores socioeconômicos mais frágeis no “G21”. Mas, por outro lado, a ampliação do “G20+” dará maior legitimidade e abrangência para a atuação do grupo, abrindo oportunidades para uma atuação mais efetiva da governança global.
De maneira sintética, alguns dos desafios do G20 são:
- Ajudar no processo de reformulação das instituições multilaterais para evitar a fragmentação da economia internacional, garantir uma melhor governança e maior sinergia entre os países, melhor eficácia e maior representatividade das políticas públicas.
- Garantir recursos para o desenvolvimento humano, por exemplo, taxando os bilionários do mundo, visando reduzir as desigualdades sociais, erradicar a pobreza e a fome no mundo, ampliando os direitos humanos e garantindo a mobilidade social ascendente.
- Fortalecer a cooperação Internacional, evitando que os diversos interesses nacionais sobrepassem as perspectivas de cooperação global, evitando os conflitos armados, reduzindo as barreiras comerciais e culturais, garantindo a segurança cibernética
- Mitigar a crise climática e ambiental e a perda de biodiversidade, promovendo a redução dos gases de efeito estufa, efetivando ações conjuntas para deter o aquecimento global, promover a restauração ecológica e acelerar a transição energética para uma economia de baixo carbono, mitigando tragédias meteorológicas como as que atingiram o Rio Grande do Sul agora em maio de 2024.
Uma tarefa inadiável envolve reverter as altas despesas militares e os gastos de destruição em larga escala. Os gastos militares globais atingem valores anuais acima de US$ 2 trilhões nos últimos anos e, em 2023, tiveram um grande aumento percentual e chegaram ao recorde de US$ 2,4 trilhões. Isto ocorre devido aos conflitos em andamento em andamento em diversas regiões do mundo e às disputas entre as grandes potências, segundo o relatório “Trends in World Military Expenditure, 2023” publicado pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).
Os gastos militares aumentaram em todo o mundo, mas os aumentos foram mais notáveis na Europa, no Oriente Médio e na Ásia, de acordo com o relatório da SIPRI. Os EUA são responsáveis pelos maiores gastos (37% do total), seguidos pela China (12%), Rússia (4,5%), Índia (3,4%) e Arábia Saudita (3,1%). Somente estes 5 países – todos pertencentes ao G20 – respondem por 60% dos gastos globais, o que soma quase US$ 1,5 trilhão.
Se os gastos de guerra e de destruição em massa fossem reduzidos pela metade, estes recursos poderiam ser direcionados para a redução da pobreza, a transição energética, a restauração dos ecossistemas e para salvar as vítimas da catástrofe climática. Poderia haver grandes avanços sociais e ambientais se ações concretas forem implementadas no âmbito do “G20+”. O destino da humanidade depende da clarividência e da eficácia da governança global.
Referência:
Nan Tian et al. Trends in World Military Expenditure, 2023, SIPRI, Apr 2024
https://www.sipri.org/sites/default/files/2024-04/2404_fs_milex_2023.pdf