O poder do Twitter no Egito e o desprezo pelo #foracunha

Ativistas estão usando as redes sociais para saber paradeiro de presos e, em alguns casos, libertá-los do regime do general Sissi; por aqui protestos virtuais são ignorados

Por Valquiria Daher | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 13 de dezembro de 2015 - 14:47 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:52

Campanhas nas redes aqui e no Egito

Campanhas nas redes aqui e no Egito

“A segunda revolução do Egito no Twitter”. Foi assim que o Daily Beast anunciou na última sexta-feira, 11/12, o movimento dos ativistas do país para libertar presos políticos e encontrar pessoas desaparecidas por confrontos com a ditadura. Em 2011, durante a Primavera Árabe, as redes sociais foram protagonistas na derrubada do ditador Hosni Mubarak.

Agora está no Twitter e no Facebook a esperança de liberdade de muitos. O estudante de engenharia Ayman Moussa, condenado a 15 anos de prisão por participar de um protesto considerado ilegal pelo governo do presidente Abdel Fatah el-Sissi, por exemplo sonhava estar presente no enterro de seu pai. Seus amigos fizeram pressão “virtual” e, no dia seguinte, o rapaz foi liberado para homenagear o parente morto. “As mídias sociais são a única coisa que os assusta”, disse, ao Beast, um amigo de Moussa e um dos criadores da hashtag  #letAymanburyhisfather (Deixem Ayman enterrar seu pai). Nos últimos seis meses, segundo o site, dezenas de campanhas como essas foram criadas no Egito, ajudando a encontrar presos e até evitando tortura. Em um país sem imprensa livre e onde protestos nas ruas são proibidos, o respeito do governo parece vir do medo de algo como o que ocorreu na Primavera Árabe.

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Nem sempre os protestos trazem alívio. Foi após uma campanha que foi descoberta a morte de Talaat Shabeeb enquanto estava sob custódia da família. Por sua vez, depois de outro movimento, quatro policiais foram presos suspeitos de brutalidade.  “As mídias sociais e também a tradicional protegem mais as pessoas da tortura na prisão do que as leis”, disse, ao Beast,  Halim Hanish, advogado de  Esraa El-Taweel – sua libertação é o motivo da campanha #FreedomforEsraaTaweel, pois ativistas afirmam que a jovem pode ficar incapacitada para sempre se não receber atendimento médico na prisão.

As histórias recentes de campanhas bem-sucedidas na internet por lá são muitas e há uma crença de que o governo continuará cedendo por temer algo maior, apesar de seguir prendendo seus oponentes. Sim, estamos falando do governo de um general que foi eleito após participar da derrubada do ex-presidente Mohamed Morsi, este também acusado de espionagem para o Hamas e de violência e tortura contra seus adversários.

Se em um país sem tradição democrática – muito pelo contrário – como o Egito, há ouvidos para o que se grita nas redes, a pergunta que não se cala é por que campanhas como #foracunha são solenemente ignoradas pelos políticos e até pelo próprio presidente da Câmara. A hashtag costuma estar entre os assuntos mais comentados das redes e também vai às ruas em manifestações. Sem se afastar do cargo para investigações, Cunha segue livre para fazer manobras e atrasar o trabalho da comissão de ética e, no capítulo mais recente, desta sexta-feira, há notícias de que o antigo relator da comissão Fausto Pinato (PRB/SP) teria recebido oferta de propinas. A opinião pública não existe para Cunha, que se agarra aos seus grandes poderes. Não fala ao povo, não tenta se justificar, nada…Nem pra escrever uma carta.

 

Valquiria Daher

Formada em Jornalismo pela UFF, nasceu em São Paulo, mas cresceu na cidade do Rio de Janeiro. Foi repórter do jornal “O Dia”, ocupou várias funções no “Jornal do Brasil” e foi secretária de redação da revista de divulgação científica “Ciência Hoje”, da SBPC. Passou os últimos anos no jornal “O Globo”, onde se dedicou ao tema da Educação. Editou a Revista “Megazine”, voltada para o público jovem, e a “Revista da TV”. Hoje é Editora do Projeto #Colabora e responsável pela Agência #Colabora Marcas.

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