
“Eu nasci e fui criada em Vigário Geral. Quando a chacina aconteceu, eu não era nem nascida. Mas todo mundo fala que muita gente inocente morreu. As pessoas têm a lembrança, e todo ano alguém comenta alguma coisa. Eu parei de estudar na 7ª série, e hoje faço cabelo em casa. Meus clientes são todos de Vigário. Aprendi sozinha porque sempre gostei de mexer no cabelo dos outros. Eu comecei a fazer cabelo porque peguei uma prancha que minha colega jogou no lixo. Daqui a 5 anos eu me imagino fora daqui. Sempre quis sair aqui. A gente tem que andar pra frente. Apesar de lá fora ser pior do que aqui dentro. Aqui a gente fica guardado, lá é mais perigoso. Se eu tiver condição, quero ter uma casa fora, mas vou continuar com a minha aqui. Imagino em um fim de semana sair da favela e passar em outra casa com o meu filho”.