O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é uma obra no superlativo. O tamanho, os recursos envolvidos, a quantidade de pessoas beneficiadas, os impactos sociais e ambientais, tudo tem dimensões grandiosas na maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil. Quando estiver pronta, a previsão é que beneficie 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Os dois eixos englobam: 3 aquedutos, 9 estações de bombeamento, 27 reservatórios, 9 subestações de 230 quilowatts, 270 quilômetros de linhas de transmissão em alta tensão e 4 túneis. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, atualmente o projeto conta com mais de 5,4 mil trabalhadores atuando nos dois eixos de transferência de água.
Somando os dois eixos – Norte e Leste – são 477 quilômetros de canais. O Eixo Norte (260 quilômetros) começa no município de Cabrobó/PE e se estende até Cajazeiras/PB, cortando doze municípios. Já o Leste (217 quilômetros) tem a captação feita em Floresta/PE e termina em Monteiro/PB, passando por cinco municípios. O projeto prevê a captação de apenas 1,4% da vazão de 1.850 m³/s do São Francisco.
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Veja o que já enviamosA água transposta pelo Eixo Leste, que se encontra em pré-operação, já beneficia mais de um milhão de pessoas nos estados de Pernambuco e Paraíba, desde 2017. São 46 municípios dos dois estados, incluindo a Região Metropolitana de Campina Grande, segunda cidade mais populosa da Paraíba. Já no Eixo Norte, a água chegou em agosto ao Cinturão das Águas do Ceará (CAC), que abastecerá 4,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Fortaleza.
Iniciada em 4 de julho de 2007, a obra já vai com quase oito anos de atraso. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, cerca de 98% de execução física do Eixo Norte já foram entregues e o Eixo Leste já está em pré-operação. Com o orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões, já foram gastos mais de R$ 12 bilhões.
O encontro da Transposição com a Transnordestina
Se tudo tivesse dado certo, a Vila Produtiva Rural Queimada Grande, em Salgueiro/PE, seria um pedaço de terra cercada de prosperidade por todos os lados. A VPR – uma das 18 para onde foram reassentadas 848 famílias que foram desalojadas pela obra – foi entregue aos moradores em dezembro de 2014 e fica em um terreno delimitado pelo canal da Transposição do São Francisco, de um lado, e pelos trilhos da Ferrovia Transnordestina, do outro. Duas megaobras impulsionadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que eram o símbolo de um Brasil que crescia “como a China”. A Transnordestina, a maior obra linear do país, começou em 2006. Um ano depois, iniciava-se a Transposição. Quase quinze anos depois, nenhuma das duas foi concluída.
No caminho de pouco mais de um quilômetro entre a BR-116 e o portal de entrada de Queimada Grande é possível ver vagões abandonados nos trilhos cobertos de mato, indicando que a obra está parada já há algum tempo. Desde 2013, na esteira dos problemas causados pela operação Lava Jato e por uma série de entraves burocráticos, o ritmo das máquinas foi diminuindo e, desde 2017, parou de vez.
Uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), de 2017, suspendeu a liberação de recursos públicos para o projeto até que a Transnordestina Logística S/A (TLSA) apresente à Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT cronograma e orçamento factíveis. A Transnordestina, que tinha um orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões, ao longo dos anos teve o valor aumentado e chegou aos R$ 7,5 bilhões.
Enquanto as obras não retomam e a água não chega para irrigar seus lotes, os moradores de Queimada Grande se acostumaram a ver o pontilhão de trilhos enferrujados que cruza o canal seco às margens da BR-116 como o símbolo de um sonho interrompido no caminho, de um país que não existe mais.