Esta semana, em Nova York, está acontecendo a Conferência das Nações Unidas sobre a água. É a primeira vez, em quase 50 anos, que as principais lideranças mundiais voltam a falar sobre o tema. O último encontro com esta dimensão aconteceu em 1997, em Mar del Planta, na Argentina. Uma demora tão grande pode levar a crer que este não é um problema relevante, que precise de ação urgente. Não é o que mostram os números divulgados pela própria ONU: 2,3 bilhões de pessoas vivem hoje em países com algum tipo de estresse hídrico; quase dois bilhões não tinham acesso à água potável até 2020; cerca de 3,6 bilhões não contavam com instalações sanitárias e mais de 2,2 bilhões, em países da África, da Ásia e da América Latina, não tinham meios acessíveis de lavar as mãos. Aquela coisa que os especialistas insistiam para a gente fazer nos tempos da pandemia.
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Para solucionar esses problemas, que são históricos e nem um pouco triviais, as Nações Unidas apostam em dois caminhos: o compromisso voluntário dos países e a ação individual de cada habitante do planeta. A mensagem principal do evento deste ano é “Seja a Mudança que Você Quer Ver no Mundo”, inspirada na tradicional fábula do beija-flor que tenta fazer a sua parte para apagar um incêndio na floresta. Essa história do beija-flor era muito usada pelo sociólogo Betinho quando falava sobre a campanha Fome Zero no Brasil.
Hoje já existem vários acordos internacionais que tratam do tema da água, mas os avanços têm sido muito tímidos. Entre eles está a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que no seu Objetivo 6, fala em “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos e todas”. Entre as metas, algumas questões-chave, como “acabar com a defecção a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas”, “eliminar o despejo de produtos químicos e material perigosos na água”, “acabar com o desperdício”, “reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água”…
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Veja o que já enviamosApesar disso, o principal resultado esperado para esta conferência é o lançamento da Agenda de Ação da Água, uma série de compromissos voluntários a serem assumidos em todos os níveis, governos, países, empresas, instituições e comunidades locais. Pelo menos é nisso que aposta o secretário-geral da ONU, António Guterres: “A Conferência da Água da ONU deve resultar em uma ousada Agenda de Ação pela Água que dê à força vital de nosso mundo o compromisso que ela merece”.
Seria bom que desse certo, pois até o momento, as projeções das Nações Unidas indicam que a população mundial sujeita à escassez hídrica tende a dobrar até 2050. No Brasil, estima-se que a demanda pelo uso da água deve crescer 30% até 2030, segundo projeção da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Hoje, a agropecuária responde por 61% dessa fatia, enquanto o setor de serviços, que inclui o abastecimento das famílias, fica com 24%. O restante entra na conta da indústria. Isso em um país que tem 35 milhões de pessoas sem acesso a água e 100 milhões estão sem coleta de esgoto. Parece muito trabalho para o pobre do beija-flor, que, diga-se de passagem, em tempos de crise climática, também anda ameaçado de extinção.
Para quem não conhece, aí vai a fábula do beija-flor
Era uma vez uma floresta, onde um incêndio teve início. Todos os animais fugiram para salvar suas vidas. Eles ficaram à beira do fogo, olhando para as chamas com terror e tristeza.
Acima de suas cabeças, um beija-flor voava de um lado para outro em direção ao incêndio, repetidamente. Os animais maiores perguntaram a ele o que estava fazendo:
– Estou voando até o lago para pegar e usá-la no combate ao fogo.
Os animais riram dele e disseram:
– Você é louco! Você não vai conseguir apagar o incêndio!
E o beija-flor replicou:
– Estou fazendo aquilo que posso.
O Beija-flor está ajudando a solucionar o problema, gota a gota. Ele está sendo a mudança que deseja ver no mundo.