Diante da crise hídrica, é melhor limpar a água disponível em lugar de buscar novos reservatórios. O raciocínio aparentemente simples, que se traduz em saneamento básico, não tem sido praticado no Brasil, concluem os participantes dos primeiros debates do Seminário Crise Hídrica no Brasil: ontem, hoje e amanhã, realizado nesta sexta-feira (24/06, no Museu do Amanhã, uma iniciativa do Projeto #Colabora.
[g1_quote author_name=”Carlos Nobre” author_description=”Climatologista” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Se o Tietê tivesse a qualidade do Tâmisa ou do Sena, o problema da água em São Paulo seria menor
[/g1_quote]“Se o Tietê tivesse a qualidade do Tâmisa ou do Sena, o problema da água em São Paulo seria menor”, avalia Carlos Nobre, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), destacando que em algumas áreas paulistas, a crise hídrica é igual à do semiárido Nordestino. Um dos maiores nomes no estudo das mudanças climáticas no mundo, o climatologista traçou um cenário desolador do futuro e relacionou a intensificação da seca nordestina – a pior em cem anos – ao aquecimento global. Para ele, a não ser que as emissões de gases sejam zeradas e, a partir de 2050, passem a ser negativas, veremos a aridização do Nordeste, que se parecerá com um deserto, e boa parte da Amazônia vai se tornar uma savana empobrecida.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosMas para ter água de qualidade o Brasil ainda vai encarar um desafio que pode custar mais de R$ 500 bilhões. Um dos integrantes da mesa de abertura do seminário, que questionava como chegamos nesta situação tendo 12% de toda a água doce do planeta, o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, destacou que, hoje, 60% do esgoto despejado na natureza não são tratadas no país. “Temos padrões sanitários do século 19. Os jornalistas me perguntam: ‘é difícil?’. E eu respondo: os romanos resolveram. Nem os esgotos eles despejavam próximos às cidades”.
Carlos relembrou que, em meio à crise hídrica de São Paulo, recebia os especialistas estrangeiros que estranhavam a situação ao chegar à cidade e ver o Rio Tietê. “Eles perguntavam por que não conseguimos usar os rios. E tínhamos que responder: por que estão podres”.
Um paralelo entre medidas para se chegar à segurança hídrica e também ao saneamento básico foi traçado pelo professor Paulo Canedo, da Coppe/UFRJ. Assim como os demais participantes, ele acredita que o principal problema a ser enfrentado ainda é a falta de água e esgoto para uma parcela grande da população, mas destacou medidas que podem ser tomadas pelos gestores – governos – para que não cheguemos à situação limite ocorrida em São Paulo. “Lá houve uma falha de gestão”, decreta. “Os reservatórios foram feitos para enfrentarmos os períodos de falta de chuva”, explica, expondo dados sobre a dependência do Estado do Rio ao Paraíba do Sul, mas destacando que aqui a gestão do recurso foi bem feita.
Mas e as necessidades das populações? Marcio Santos, da Câmara Setorial de Equipamento de Irrigação, destacou a importância de novas tecnologias para garantir uma agricultura com menos desperdício e menos dependente do clima. “A irrigação pode ser um vilão ou pode ser a solução. Depende de como for usada”, avaliou, dando o exemplo de como a seca é a responsável, por exemplo, da alta do preço do feijão. “Na área da Bahia, onde é feito o plantio de feijão, a seca é tão grave que até a irrigação precisou ser interrompida”.