Apesar de todos os ataques a professores, estudantes e a instituições de ensino, o ministro deixou o governo pelos seus recentes rompantes contra o STF, defendo a prisão dos integrantes do Supremo e chamando os ministros de vagabundos e participando de manifestação que pedia o fechamento da corte e do Congresso Nacional. Weintraub despediu-se do governo ao lado do presidente Bolsonaro. As ameaças às universidades públicas, à ciência e ao conhecimento, portanto, não foram afastadas. Mas é natural que a comunidade acadêmica esteja celebrando a saída de um ministro que, além de escrever imprecionante e paralização em seus lamentavelmente famosos posts nas redes sociais, comportou-se como inimigo da educação como mostram essa lista de declarações reunidas aqui.
“Muitas universidades federais promovem balbúrdia e eventos ridículos” – abril/2019 (antes de anunciar o contingenciamento das verbas para as instituições federais)
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Veja o que já enviamos“Eu não quero falar com a UNE, eles não são eleitos. Eu nunca fui filiado à UNE” – maio/2019 (recusando-se a dialogar com lideranças estudantis na Câmara)
“O sonho das pessoas é colocar os filhos no sistema privado, não no público” junho/2019 (criticando o ensino público em entrevista)
“A gente tem um problema grave com as universidades federais, pois elas são muito caras para os resultados que entregam. O objetivo é salvá-las. Queremos jogar uma boia para elas” – julhpo2019 (no lançamento do Future-se)
“Após almoçar, olhando pela janela, vejo a lápide da educação em frente ao MEC e penso: achava impossível, mas Paulo Freire visto do alto é ainda mais feio” – outubro de 2019 (no twitter, debochando da homenagem ao patrono da educação brasileira)
“A gente vai quebrar mais uma das máfias do Brasil: tirar R$ 500 milhões da tigrada da UNE” – novembro/2019 (anunciando mudança nas carteiras de estudantes)
“Há plantações extensivas de maconha em algumas universidades, a ponto de ter borrifador de agrotóxico” – novembro/2019 (em entrevista a site de extrema direita)
“As plantações de maconha são reflexo de um consumo exagerado, fora de controle, nas universidades.” – dezembro 2019 (reiterando a acusação em audiência no Congresso)
“Nas universidades, os traficantes encontram refúgio; a PM não pode entrar nos campi. Eu sou 100% a favor de total autonomia de pesquisa, total autonomia de ensino nas universidades, você pode falar o que quiser e pesquisar o que quiser, mas roubo, estupro e consumo de drogas ilícitas, não pode ter e a PM tem que entrar nos campi” – dezembro/2019
“O país vive a maior revolução na área do ensino dos últimos 20 anos. O símbolo máximo disso é que sai o kit gay e entram livros para as crianças lerem com os pais” – dezembro/2019 (defendendo sua gestão com citação de fake news)
“Para fechar o bloco de informações sobre Priscila Cruz e sua ONG ‘Todos pela Educação’: CORONAVÍRUS!” – março/2020 (atacando a presidente do Todos pela Educação que cancelou evento por estar com suspeita de ter contraído a doença)
“Os governadores devem planejar o retorno das aulas, tirar as nádegas da cadeira e REBOLAR atrás do prejuízo!” – abril/2020 (criticando os governadores e defendendo a volta às aulas)
“Hoje foi o dia da infâmia, VERGONHA NACIONAL, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? SIEG HEIL!” – maio/2020 (twitter criticando operação contra difusores de fake news que foi duramente criticado pela comunidade judaica)
Weintraub perdeu o discurso contra as universidades federais com a visibilidade ganha pelas instituições de ensino com a pandemia de covid-19, quando elas tomaram à frente das pesquisas para prevenir e tratar a doença. Levantamento divulgado em maio pela Andifes (Associações Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior) apontou que estavam sendo desenvolvidas mais de 800 pesquisas sobre a pandemia nas instituições federais. São trabalhos que vão da identificação do genoma do vírus para o desenvolvimento de medicamentos e criação de vacina contra a Covid-19 a estudos com sistemas informatizados sobre georreferenciamento para mapear o avanço da doença. O levantamento listou ainda 79 parcerias das universidades federais com governos estaduais e 198 com administrações municipais. O levantamento constatou que as universidades já tinham promovido 697 campanhas educativas e 341 ações solidárias.
Leia todas as reportagens da série #100diasdebalbúrdiafederal
Após os primeiros ataques do ministro da Educação, o #Colabora deu início à série 100 Dias de Balbúrdia Federal: inicialmente, foram publicadas 100 reportagens diárias consecutivas com pesquisas, projetos de extensão e trabalhos em parceria com a sociedade realizados pelas instituições federais de todo o país: de veículos elétricos e movidos à energia solar a tratamentos contra zika, chikungunya, diabetes, Parkinson, doenças respiratórias; de pesquisas sobre biodiversidade e ameaças ambientais na Amazônia e outros biomas a projetos para aplicação na indústria nacional. Nestes 100 primeiros dias, de maio a agosto de 2019, o #Colabora mobilizou mais de 40 jornalistas em todo o país para mostrar a diversidade da produção acadêmica brasileira que continuou sob ataque do governo com cortes de verbas para manutenção e de bolsas de pesquisa.
A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora decidiu manter seu compromisso de divulgar a produção científica e deixar sempre claro que pesquisa não é balbúrdia. De agosto até agora, foram mais 43 reportagens – com periodicidade semanal – sobre trabalhos realizados pelas universidades públicas, agora em parceria com as próprias instituições e agências de divulgação científica. No total, em um ano, o #Colabora publicou matérias sobre pesquisas e projetos de mais de 40 universidades, de 24 estados brasileiros e do Distrito Federal. Desde março, temos destacado as iniciativas das instituições públicas no combate à pandemia da covid-19.
Abraham Weintraub deixa o Ministério da Educação coberto de fracassos. O Enem sob sua administração foi marcado por erros e confusões. O programa Future-se, lançado com estardalhaço em julho de 2019 com o objetivo anunciado de mudar o financiamento das universidades, foi rejeitado pela grande maioria dos conselhos universitários das federais: o projeto estabelecendo o programa só foi enviado ao Congresso no começo deste mês, quase um ano depois. A MP 914/2019, editada na véspera de Natal com mudança nas regras sobre o processo de escolha dos dirigentes das universidades federais, dos institutos federais e do Colégio Pedro II, foi ignorada pela Câmara e caducou sem ser votada. Na semana passada, nova medida provisória foi enviada dando a Weintraub o poder de nomear reitores durante a pandemia – o governo passou a vergonha de ver a MP devolvida.
Antes de ser demitido, Weintraub promoveu uma última balbúrdia contra o ensino: revogou portaria do Ministério da Educação que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. As universidades federais e a educação brasileira ficam livres de um inimigo público. O #Colabora encerra mais uma fase de sua série sobre as iniciativas das instituições públicas de ensino. Mas vamos continuar divulgando as pesquisas científicas e a produção de conhecimento nas universidades – a maravilhosa balbúrdia que o demitido ministro detestava.