Num Brasil que, em 2025, vê seus olhos voltarem-se para o que pode ser a possibilidade de um – ou até mais – prêmio do Oscar, jovens de favela formaram-se em um projeto que os inserem e moldam para experiências no mercado audiovisual. Não, você não leu errado. Jovens, periféricos, favelados, em muitos momentos relegados, agora passam a escrever novas e suas histórias.
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A ponta de esperança se dá com o ‘’Cri.Ativos da Favela’’, idealizado pela Favela Filmes, Cufa (Central Única das Favelas), Instituto Heineken e Rock in Rio. Um programa que começou em 2023, durante a criação do festival The Town em São Paulo, e que se expandiu para o Rio de Janeiro com o objetivo de proporcionar novas oportunidades para jovens através da formação na área do audiovisual. O curso, ministrado nas dependências da Cufa em Madureira e no Polo de Cinema na Barra da Tijuca, ofereceu uma formação teórica e prática, com o objetivo de capacitar os alunos para o mercado de trabalho.
Sara Andrade Verginio, de 28 anos e uma das alunas impactadas pela iniciativa no Rio, viu sua transformação pessoal e profissional ser escrita durante sua mentoria. “Era um universo que eu não fazia parte, que eu não tinha noção de como existiam tantos profissionais. Eu achava que um set de filmagem era a pessoa que filmava, uma direção, e mais uma. Mas, às vezes, tinha mais de 20 pessoas. Então, eu aprendi muita coisa sobre cada função. Acho que sou outra pessoa”, comenta.
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Veja o que já enviamosPara Sara, o curso foi além de uma simples formação apenas profissional, já que os integrantes também tiveram em conjunto, um módulo de atenção psicossocial, fazendo-a refletir sobre si mesma – o que, muitas vezes é esquecido, quando se trata de jovens de periferia/favela. Com o ‘WeLab’, uma trilha voltada para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, foi possível mais escutar do que apenas propor e aprender sobre o universo dos jovens a partir de suas perspectivas e aspirações. No bojo das trocas, a experiência prática no Expo Favela Innovation foi fundamental para que a jovem pudesse aplicar seus conhecimentos teóricos e trocar experiências com seus colegas.
Roberta Medina, vice-presidente executiva da Rock World, ressalta a importância de parcerias estratégicas para o sucesso do projeto e a visão de sustentabilidade da organização. “Essas parcerias estratégicas nos mostram como, ao mesmo tempo que cada empresa cuida do seu negócio, é possível criar valor e oportunidades reais para a sociedade, potencializando a criatividade e o talento que existem em todos os lugares”. Roberta destaca como o Rock in Rio tem o compromisso de conscientizar as pessoas sobre a importância de pequenas atitudes para ‘um mundo melhor (uma de suas plataformas de trabalho, lema e missão), e de como o projeto busca integrar os participantes ao ecossistema do festival, criando oportunidades de trabalho. “O que a gente precisa é conseguir, no dia a dia das empresas, dar oportunidade para que esses jovens possam trabalhar. Nosso objetivo é abrir portas para que essa galera esteja entrando no mercado de trabalho”.
Com 76% dos 60 participantes da primeira edição, realizada em São Paulo, já inseridos no mercado de trabalho, os resultados do programa falam por si só. Para Vânia Guil, head do Instituto Heineken, essa iniciativa vai além da formação técnica, promovendo a expressão cultural e abrindo portas para um futuro mais justo e igualitário. ‘’Cada parceiro trouxe um componente único para que o programa atingisse todo o seu potencial. Essa combinação de forças nos permitiu não apenas entregar um programa robusto, mas criar um espaço onde os jovens pudessem se reconhecer, se desenvolver e enxergar oportunidades reais para suas trajetórias’’.
Elaine Caccavo, vice-presidente da Cufa Rio e CEO da agência de marketing InFavela, enfatiza que a Cufa e o projeto tem como objetivo proporcionar um futuro promissor para os jovens, através da formação em audiovisual: “O nosso objetivo é sempre gerar oportunidades para criar um ambiente de um futuro promissor, permitindo que as pessoas se desenvolvam, e aprimorem, desenvolvam habilidades técnicas, mas também socioemocionais. Para isso, as vivências não devem acontecer só num determinado ambiente, porque isso por si só seria mais um limitador. Então, a gente faz aqui em Madureira, onde é a nossa periferia, onde é a nossa região de favela, onde a Cufa está instalada. Recebemos jovens de todas as favelas do Rio de Janeiro, no entanto, também fizemos (parte do curso) na Barra, dentro do polo de cinema da Barra’’.
Ao destacar a necessidade de ‘interlocução e interseção entre favela e asfalto’, Caccavo aponta para a importância de romper com as barreiras que separam esses dois mundos, estimulando os sonhos que precisam e podem ser vividos pelos jovens. E as expectativas são altas para as novas histórias. ‘’Nosso desejo seria que a gente pudesse circular o Brasil inteiro para atingir um número maior de jovens com o projeto’’.
Que os anjos digam ‘amém’.