Eu gosto muito de futebol. Não costumo opinar publicamente sobre porque não me considero grande especialista e tem gente muito mais gabaritada para executar tal função. Ainda assim, acompanho entusiasmada os campeonatos, frequento estádio, tenho histórias e memórias familiares cheias de afeto que envolvem o esporte. Meu avô treinou goleiros no Internacional e meus tios sonharam em ser atletas profissionais no tempo em que a profissão não significava salários milionários. Ajudaram a construir o Gigante da Beira Rio. Meu pai me levava ao estádio, uma das atividades mais esperadas da minha infância e adolescência, que envolvia muitos ritos que carrego até hoje.
Leu essa? Desbotadas cores do Brasil na Copa
A primeira Copa que tenho memória é a de 1994, quando fomos tetracampeões. Não lembro dos jogos, mas lembro do clima de festa, das primas e primos, tios e tias reunidos no salão de festa do condomínio. Da vó cozinhando pizzas caseiras quadradas de massa fofa e alta, de baldes e baldes de pipoca e da mãe decorando tudo em verde-amarelo para a gente torcer. Lembro da Copa de 1998, com menos festividades, mas de esperar meu tio Nilson, hoje já falecido, ir assistir aos jogos conosco. E lembro que na final contra França ele não compareceu e associei essa ausência à amarga derrota.
A redenção de Ronaldo, em 2002, é fresquinha na memória. A alegria das pessoas tomando as ruas de verde-amarelo, abraçando umas às outras e celebrando com alegria foi uma das coisas mais bonitas que já vivenciei. Passaram-se 20 anos e apesar de eu saber que essa seria a mais infame das Copas, conforme Aydano André Motta, meu editor e colunista deste site, já havia antecipado, me deixei levar pelas emoções que uma Copa do Mundo reacende em qualquer brasileira que goste minimamente de futebol – meu caso.
O clima de festa e celebração promovido pelos encontros com os amigos para assistir aos jogos do Brasil em tardes no meio da semana, que acabavam por promover folgas e pausas regadas a petiscos e animação, me contagiou de tal forma que simplesmente me deixei tomar pela possibilidade de finalmente ver a seleção brasileira ser hexacampeã. Foi a Copa em que mais acreditei e por isso deixei escapar que a verdade é que este não era o momento e que esta seleção não era merecedora do título. A verdade é que o brasileiro merecia ser hexa, a seleção, nem tanto.
Não merecia pelos mais variados motivos, mas especialmente porque não era um grupo. Tite não foi capaz de constituir um grupo vencedor, na verdade o que ele fez foi reunir jogadores em torno da gigantesca figura de Neymar, que apesar de ter futebol incontestável, não é exatamente o melhor exemplo de liderança e espírito coletivo.
É inegável que os jogadores da nova geração admiram e confiam nessa difícil figura. Mas é constrangedor o quanto nem Tite, nem Neymar tem capacidade de serem responsáveis e acolhedores. Faltou responsabilidade, faltou senso de liderança, faltou humildade, faltou estratégia, faltou cuidado, faltou muita coisa e sobrou soberba, ostentação e desatenção.
Tite, mesmo tendo ciência do que aconteceu com o emocional dos jogadores da seleção brasileira em 2018, viajou mais uma vez sem um psicólogo na delegação. Uma decisão amadora, irresponsável e mesquinha. Trocou o apoio profissional por frases motivacionais de cunho no mínimo questionável. Ao fim da derrota para a Croácia, deixou evidente que nem mesmo o seu emocional era forte o suficiente para conduzir a seleção. Vendeu-se como líder, como responsável e quando Marquinhos errou o pênalti que sagrou a eliminação do Brasil abandonou o campo deixando sua equipe em prantos e sozinha.
Acompanhe seu colunista favorito direto no seu e-mail.
Veja o que já enviamosSei que Tite tem esse gesto sempre, mas não era um momento qualquer. Foi mais uma eliminação em Copa, doída, com um toque de crueldade e para muitos do elenco a última oportunidade. Os jogadores consolaram a si mesmos, tiveram mais apoio dos croatas do que do próprio técnico. Ali, Tite se mostrou minúsculo.
A eliminação do Brasil para a Croácia me pegou de surpresa, eu realmente estava confiante. Não por não conhecer futebol, mas por estar inebriada pelas emoções da Copa. Contudo, depois do gol de Petkovic, um gol de contra-ataque num momento em que a seleção brasileira precisava apenas furar a bola e acabar com o jogo, já sabia que tinha acabado para nós. Não bastasse, o fato daquele que é considerado como o maior batedor de pênalti do mundo não ter chegado nem perto de cobrar a decisão deixou a gente cheio de um justificado ranço por todo mundo. O sonho do hexa virou um pesadelo amargo.
Para além das análises técnicas, que vocês podem buscar de pessoas que realmente entendem de técnica futebolística, me interessa aqui refletir sobre algo que precisamos recuperar para aqueles que amam o futebol brasileiro: o entusiasmo e a paixão que já tivemos de ver a seleção jogar. A seleção como um todo, o coletivo, não uma estrela isolada.
Ficou para depois o sonho do hexa. Talvez para 2026. Para uma seleção que espero, seja diferente dessa. Para um técnico que se preocupe com a saúde mental do seu grupo, que seja capaz de acolher as fragilidades emocionais de sua equipe. Para uma equipe que tenha preocupações mais dignas do que forrar o estômago com tempero de ouro.
Até lá, vou seguindo meu Internacional.