Seis anos de Brumadinho: atos cobram julgamento de responsáveis e punições

Famílias das vítimas da tragédia realizam manifestações por Memória e Justiça em Minas Gerais e São Paulo; rompimento de barragem matou 272 pessoas; três corpos ainda não foram encontrados

Por #Colabora | ODS 15ODS 16 • Publicada em 24 de janeiro de 2025 - 20:27 • Atualizada em 27 de janeiro de 2025 - 12:15

Trabalho de resgate dos mortos pelo rompimento da barragem em Brumadinho: atingidos e parentes de vítimas cobram resultados processos na Justiça (Foto: Mauro Pimentel / AFP -28/01/2019)

Com atos em Minas Gerais e São Paulo, famílias das vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho relembram, no fim de semana, os seis anos da maior tragédia socioambiental da história do país, que matou 272 pessoas – três atingidos ainda seguem desaparecidos – no dia 25 de janeiro de 2019. O colapso da Mina Córrego do Feijão, administrada pela Vale, também destruiu ecossistemas inteiros e expôs as graves falhas de segurança e manutenção do modelo de mineração brasileiro. Nenhum dos responsáveis foi a julgamento.

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Neste sábado (25/01), será inaugurado o Memorial de Brumadinho, um espaço dedicado à preservação da memória das vítimas e à reflexão sobre a tragédia, instalado no Córrego do Feijão onde houve o desastre. Na Praça das Joias, no centro do município de Brumadinho, está marcado um ato em homenagem às vítimas do rompimento da barragem da Vale. “Seis anos depois, não há justiça, não há reparação, e o Brasil permanece refém de um modelo de mineração insustentável. Minha filha Camila, meu filho Luiz, minha nora Fernanda e meu neto Lorenzo tiveram suas vidas interrompidas por uma tragédia que podia ter sido evitada”, afirma Helena Taliberti, fundadora do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT).

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Os irmãos estavam hospedados na Pousada Nova Estância que desapareceu sob a lama no dia 25 de janeiro – a mulher de Luiz, Fernanda, estava grávida de cinco meses de Lorenzo, pai de Camila e Luiz, Adriano, e a esposa dele, Lurdes, também morreram. “Não se pode esquecer que vidas foram ceifadas por não terem valor diante da busca incessante por produtividade e lucro. É a memória deles e das demais vítimas que nos move a lutar cotidianamente para que nenhuma outra mãe passe pelo que eu e tantas outras estamos passando”, acrescenta Helena, 67 anos, funcionária pública aposentada.

O ICLT vem recolhendo apoio para o manifesto “Basta de Impunidade: Justiça por Brumadinho”, que já reúne mais de 127 mil assinaturas. O documento, que será apresentado às autoridades, exige celeridade nos processos judiciais e medidas concretas para garantir que tragédias como essa não se repitam. “Quantas vidas ainda precisarão ser cruelmente perdidas para que algo mude? A morte deles não pode ter sido em vão”, frisa. O objetivo do Memorial de Brumadinho é não deixar jamais a tragédia ser esquecida na própria cidade que abrigava a mina. “O espaço vai traduzir o luto – que é também nacional –, ao mesmo tempo em que vai se juntar ao esforço coletivo de preservar a memória da tragédia e de suas vítimas e promover esforços para a não-repetição de desastres minerários”, afirma o diretor administrativo do ICLT, Vagner Diniz, também presidente do Conselho Curador da Fundação Memorial de Brumadinho.

Em Ouro Preto, o ato por Memória e Justiça será realizado no Museu da Inconfidência, palco da exposição “Paisagens Mineradas – Marcas no Corpo-Território”, que traz uma programação especial com a exibição do documentário “Sociedade de Ferro”, de Eduardo Rajabally e da performance “Pedaços de chãos se movem com as águas”, de Morgana Mafra. “Os atos são indispensáveis para honrar a memória das 272 vítimas e fortalecer a luta por justiça. Cada intervenção, depoimento e momento de reflexão reforçam a importância de não deixar essa tragédia ser esquecida e de mobilizar a sociedade para exigir mudanças concretas no setor de mineração no Brasil. Poderia ter acontecido com qualquer um. Meus filhos estavam lá a passeio e morreram”, comenta Helena.

No domingo (26/01), um toque da sirene às 12h28, horário exato do rompimento da barragem em 2019, vai marcar o o Ato por Memória e Justiça, que será realizado na Avenida Paulista (esquina com a Rua Pamplona). Além da coleta de assinaturas para o manifesto “Basta de Impunidade: Justiça por Brumadinho”, o evento contará com uma oficina para crianças, com plantio de mudas e pintura com tintas de argila em um mural coletivo, simbolizando a renovação e a conexão com a natureza; a intervenção “Estampe-se”, com a impressão ao vivo de panos de prato com a frase “Tentaram nos enterrar, não sabiam que éramos sementes”, conduzida pela artista visual Monica Schoenacker; e a oOcupação criativa “Ser Rio”, intervenção artística que explora a importância dos rios e da preservação ambiental. “É uma oportunidade de trazer a pauta para a cidade de São Paulo que, apesar de estar distante de Brumadinho, é o centro de muitas decisões no país”, explica Helena Taliberti.

No processo criminal no Brasil, 15 pessoas respondem por homicídio doloso e a Vale S.A. e a Tüv Süd (empresa alemã responsável por atestar a segurança da barragem) são acusadas de delitos da lei ambiental. Os processos criminais, que começaram na Justiça de Minas Gerais tramitam, desde o início de 2023, na esfera federal, a pedido da defesa de alguns réus. Além dos processos que tramitam no Brasil, investigações vêm sendo conduzidas pela Procuradoria Criminal de Munique, na Alemanha, onde fica a sede da Tüv Süd.

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