Jaime Abello: “É necessário apostar na diversidade e no pluralismo”

Debate no primeiro dia do Festival: trabalho em rede, financiamento, diversidade e pluralismo nas discussões sobre jornalismo (Foto: Oscar Valporto)

Diretor da Fundação Gabo foi palestrante principal do primeiro dia do Festival 3i que também debateu redes locais e financiamento do jornalismo

Por Festival 3i | ODS 16 • Publicada em 6 de maio de 2023 - 10:36 • Atualizada em 29 de junho de 2023 - 10:37

Debate no primeiro dia do Festival: trabalho em rede, financiamento, diversidade e pluralismo nas discussões sobre jornalismo (Foto: Oscar Valporto)

O Festival 3i 2023 começou oficialmente nesta sexta (5) com a palestra de abertura de Jaime Abello Banfi, keynote speaker do evento. A mediação foi de Natalia Viana, cofundadora da Agência Pública e presidente da Ajor. Com mais de 70 palestrantes e 35 diferentes atividades, o evento recebe estudantes, pesquisadores, empreendedores e entusiastas do jornalismo entre os dias 5 e 7 de maio na Casa da Glória, Rio de Janeiro.

Viana deu início ao encontro agradecendo ao Conselho e equipe da Ajor, assim como aos mais de 100 associados que fazem parte da organização. “Não estamos mais falando sobre o jornalismo do presente, e sim do futuro”, afirmou ao chamar o convidado especial.

Leu essa? Debates sobre jornalismo terão mais de 70 palestrantes no Festival 3i

Abello atua há mais de 20 anos como diretor geral da Fundação Gabriel García Márquez, uma das principais organizações de fomento ao jornalismo ibero-americano e realizadora pelo Prêmio Gabo, concurso que reconhece, desde 2013, as melhores produções jornalísticas da região.

Mais de 25 anos depois, muitas coisas mudaram no jornalismo, mas outras permanecem. Em um cenário complexo, coexistem velhos e novos atores midiáticos, mas não podemos negar que a tecnologia mudou completamente o setor

Jaime Abello
Diretor-geral da Fundação Gabo

Em sua fala, o jornalista prestou uma homenagem à instituição que ajudou a fundar ao lado do escritor colombiano e Nobel de Literatura. Criada em 1994, a antiga FNPI (Fundación para un Nuevo Periodismo) e atual Fundação Gabo foi pioneira na oferta de oficinas de formação sobre o uso da internet e tecnologias digitais em redações.

O primeiro treinamento realizado, em 1995, foi apresentado por Rosental Calmon Alves, fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e um dos idealizadores da Ajor (Associação de Jornalismo Digital).

“Mais de 25 anos depois, muitas coisas mudaram no jornalismo, mas outras permanecem. Em um cenário complexo, coexistem velhos e novos atores midiáticos, mas não podemos negar que a tecnologia mudou completamente o setor”, afirma Abello.

Ao lado de Natália Viana, presidente da Ajor, Jaime Abello defendeu importância do financiamento de veículos digitais e a necessidade de políticas públicas éticas e transparentes de apoio ao jornalismo latino-americano (Foto: Festival 3i / Divulgação)
Ao lado de Natália Viana, presidente da Ajor, Jaime Abello defendeu importância do financiamento de veículos digitais e a necessidade de políticas públicas éticas e transparentes de apoio ao jornalismo latino-americano (Foto: Festival 3i / Divulgação)

O jornalista comparou a insegurança social que pairava na América Latina no final do século passado, após décadas de ditaduras militares, com o atual cenário de fragmentação política e comunicacional que impacta a região. Sobre o problema urgente da desinformação, defendeu a responsabilização das grandes plataformas e o estímulo a uma “cidadania digital ativa e prudente”.

Abello também destacou os resultados do “El Hormiguero”, pesquisa realizada pela Fundação Gabo com mais de 1500 meios nativos digitais em 12 países latino-americanos, e que agora está disponível em português. Segundo ele, o generalismo deu espaço à especialização e a um ecossistema de mídia mais plural, que dá protagonismo a grupos antes marginalizados, como mulheres e comunidades fora dos grandes centros urbanos: “Para esse novo jornalismo, é necessário apostar na diversidade e no pluralismo”, afirma.

O debate sobre a sustentabilidade do jornalismo também teve espaço na fala de abertura. O comunicador falou sobre a importância do financiamento de veículos digitais e destacou a necessidade de políticas públicas éticas e transparentes de apoio ao jornalismo latino-americano.

Vanina Barghella, diretora regional para a América Latina do IFPIM – International Fund for Public Interest Media, fala sobre financiamento do jornalismo entre a mediadora Graciela Selaimen e o britânico Sameer Padania, especialista em desenvolvimento de jornalismo local (Foto: Oscar Valporto)

Financiamento do Jornalismo

Mais cedo, A mesa “Novos Caminhos Para Financiar o Jornalismo” expôs as ideias dos palestrantes sobre a importância de se pensar uma relação ente as iniciativas governamentais, em que o governo entenda o jornalismo como essencial e necessário para uma democracia sólida. A mediação foi feita por Graciela Selaimen, jornalista e pioneira na área de internet e direitos digitais do Brasil. Ela guiou as falas de Vanina Barghella e Sameer Padania sobre os desafios de se sustentar financeiramente o jornalismo independente e local.

A argentina Vanina Barghella é diretora regional para a América Latina do IFPIM – International Fund for Public Interest Media e diretora executiva da FOPEA – Fórum Argentino de Jornalismo. Vanina mencionou um pouco da sua experiência sobre sustentabilidade e apoio financeiro, para ela, é importante uma ideia ser transformada em projeto, com o apoio correto. Ao iniciar sua fala, fez uma crítica ao meio jornalístico por considerar tabu o conhecimento sobre finanças e sustentabilidade e achar que é um tema alheio ao seu trabalho.

A indicação é que cada vez mais os jornalistas sejam inseridos neste assunto e façam alianças com corporações, combinando a transparência e ética. Um bom financiador terá a curiosidade e desejo de entender os projetos quando bem pensados e apresentados. “A busca de financiamento não deveria ser uma relação transacional, mas sim de igual para igual”, declarou Vanina.

A mesa foi concluída com uma frase da mediadora Graciela, resumindo bem a busca de financiamento por veículos independentes: “Não Importa qual seja a pergunta, a ‘comunidade’ é sempre a resposta.”

No Reino Unido, Sameer é jornalista e diretor da Macroscope, uma empresa criada para transformar e aumentar o jornalismo de interesse público junto ao ecossistema de informações. Com o olhar do jornalismo investigativo, ele contou a sua experiência sobre fortalecer esse nicho. Além disso, relacionou a realidade do Reino Unido ao jornalismo mundial, no qual é preciso criar e investir em um fundo jornalístico governamental, que ocupe espaços e preencha as necessidades do público e do jornalismo local e de nicho. “O público acaba se dispersando e procurando outras fontes para se informar sobre sua comunidade”, segundo Sameer. Ele complementou sua fala questionando se “a mídia local está morrendo, como seria o mundo sem o jornalismo? Pois onde há vácuo, há mídia social”.

Há uma certa concorrência entre o jornalismo conservador e independente, na qual o jornalismo conservador se sobressai e recebe maior atenção dos fundos governamentais. É preciso criar uma ramificação no fundo governamental para as mídias de comunicação voltadas ao jornalismo local, independente e periférico. Sameer falou também sobre o crescimento profissional dentro do jornalismo ser difícil, por isso o financiamento para o meio é de suma importância e concluiu que “o caminho é associativo, comunitário e coletivo”.

Na abertura do Festival 3i, comunicadores populares discutiram os desafios de se trabalhar em rede. Participaram Kuene Karipuna, Jefferson Barbosa, do Perifa Conection, Claudia Ferraz, da Rede Wayuri e Emilio Azevedo, da Agencia_Tambor. “”Por muito tempo a nossa história foi contada distorcidamente sobre quem nós somos”, afirmou Luene Karipuna, do Instituto Iepé, que trabalha educação, comunicação e valorização cultural de comunidades indígenas do Amapá e Norte do Pará. A mediação foi de Sanara Santos, do ÉNóis: “Devemos ressignificar o jornalismo a partir dos territórios”, disse.

Festival 3i

Festival 3i – Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente reúne os maiores nomes do jornalismo nacional e internacional para debater o futuro da profissão e inspirando estudantes, empreendedores e jornalistas

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