Receba as colunas de Edu Carvalho no seu e-mail

Veja o que já enviamos

O que fica depois que a guerra acaba?

Como nós, seres humanos, vivemos, ou melhor, convivemos, por tanto tempo, com tamanha dor e crueldade?

ODS 16 • Publicada em 17 de janeiro de 2025 - 09:52 • Atualizada em 17 de janeiro de 2025 - 10:13

São memórias de três guerras, eu me lembro como se fossem agora. Mas, pela intensidade, parecem mais de mil para quem viveu esses períodos de tensão extensos, que ficaram presos na cabeça até hoje. A rotina de uma vida marcada por tiroteios que não tinham hora de término; bombas e fogos que explodiam a qualquer esquina. Todos os episódios num contexto que envolve poder bélico, o domínio de um local e também dinheiro. E, no meu caso, mais precisamente, por aquilo que chamam de “combate às drogas”, a toque de caixa para o cumprimento de políticas falhas de (in)segurança empreendidas no Rio de Janeiro – o que era para parecer mais ‘pacífico’ também significou, ao longo de décadas, a criminalização de territórios onde historicamente habitam camadas invisibilizadas. É racismo atrelado a preconceito de classe.  

Leu essa? No Complexo de Israel, um inventário das violências do Rio

Já no caso de Israel e Hamas, uma briga que remonta a antepassados, na luta por espaços que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos. Terras em que, em diferentes momentos, se tornaram palcos de guerras, como a que parece ter sido finalizada na última quarta-feira (15), depois de pouco mais de um ano de mortes.

Crianças em casa destruída em Gaza por bombardeio de Israel após acordo de cessar-fogo: o que fica depois que a guerra acaba? (Foto: Hasan N. H. Alzaanin / Anadolu via AFP)
Crianças em casa destruída em Gaza por bombardeio de Israel após acordo de cessar-fogo: o que fica depois que a guerra acaba? (Foto: Hasan N. H. Alzaanin / Anadolu via AFP)

“Esperançosamente, esta será a última página”, declarou o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thanicatari. Mas não totalmente, já que a bandeira branca só deve ser hasteada no próximo domingo (19/1) e uma libertação de reféns ainda não é totalmente dada. 

Receba as colunas de Edu Carvalho no seu e-mail

Veja o que já enviamos

O fim nunca parece ser o fim. Minha reflexão se inclina em tentar responder sobre como nós, seres humanos, vivemos, ou melhor, convivemos, por tanto tempo, com tamanha dor e crueldade? E qual será o legado desta guerra – mais uma – vivenciada ainda neste século?

Sobre as cabeças os aviões, sob os olhos, uma turva visão que impede de se viver como era antes. Ao menor sinal de ruído ou estampido, o medo, o sentimento de não pertencimento, de fuga, de um não saber para onde olhar, pra onde fugir. Todos sintomas de um estresse pós-traumático (TEPT) que podem acometer pessoas de qualquer idade após a vivência de uma situação de crise, como uma guerra. Em Israel, na Maré, no Alemão. E onde mais  puder o medo rondar. 

E, depois, viver como se fosse um eterno personagem de filme baseado em fatos reais, como Desejo e Reparação, adaptado do romance Reparação, do escritor inglês Ian McEwan. Ali e aqui, somos todos nós Robbie Turner, com crises de ansiedade e violência após ter lutado pela Inglaterra na Segunda Guerra Mundial. O que não difere de quem vive diariamente com incursões policiais, tendo porta chutada, casa arrombada, violações infinitas de direitos, que não são captadas pelas lentes do Fantástico. 

O que se vive quando, teoricamente, abaixam-se armas é um mar aberto de dores, ainda não bem digeridas e respeitadas. Mas que precisam de atenção e de leveza. Para quem está em Gaza ou no Complexo de Israel, bem em nosso patropi. 

O que temos pra hoje é a sensação de que o mínimo aceno para o fim dos massacres é um rés de esperança e vida, em meio a brutalidade e tanto ódio. Como escreveu a juíza Andréa Pachá, ‘’tréguas são essenciais para que sobrevivamos e apostemos na paz possível’’.

Apoie o #Colabora

Queremos seguir apostando em grandes reportagens, mostrando o Brasil invisível, que se esconde atrás de suas mazelas. Contamos com você para seguir investindo em um jornalismo independente e de qualidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe:

Sair da versão mobile