Documentário na Globoplay revisita o assassinato de Bruno e Dom

Produção ouviu lideranças indígenas, autoridades e pescadores ilegais, além de mostrar o contexto de violência no Vale do Javari

Por #Colabora | ODS 16 • Publicada em 2 de junho de 2023 - 07:58 • Atualizada em 8 de junho de 2023 - 11:55

Às vésperas do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips completar um ano, a Globoplay lança esta sexta-feira (02/06) um documentário sobre o crime e a escalada da violência no Vale do Javari, no Amazonas. Conduzido e dirigido pela jornalista Sônia Bridi, da Globo, que acompanha o caso desde o início, ‘Vale dos Isolados: O Assassinato de Bruno e Dom’ reconstitui a última viagem, mostra as investigações sobre o crime e o trabalho desenvolvido por ambos junto aos povos indígenas. “Percebemos que era uma história bastante complexa, com muitas ramificações e que valia a pena entender melhor o que está em jogo naquela região”, afirma a jornalista.

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O filme mostra que o assassinato do indigenista e do jornalista foi em parte consequência de uma negligência histórica do Estado. “A investigação da polícia mostra que a intenção dos criminosos era matar o Bruno que trabalhava, principalmente, em defesa dos povos isolados, e que o Dom foi morto porque estava junto com ele. Na Terra Indígena Vale do Javari há pelo menos 16 grupos de indígenas isolados, além de seis etnias contatadas pelos brancos em diferentes épocas. A aproximação mais recente foi feita pelo Bruno, em 2019, com um grupo de indígenas Korubo”, relata Sônia Bridi.

Nos oito meses em que ficou dedicada ao documentário, a equipe passou mais de 100 dias na Amazônia e ouviu lideranças indígenas, amigos de Bruno e Dom, autoridades e pescadores ilegais. Sônia e o repórter cinematográfico Paulo Zero foram a várias aldeias, algumas a dias de barco de distância da cidade mais próxima. Também participaram de um encontro da Univaja, União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, onde conversaram com lideranças de todas as etnias. “Me impressionou ver que mesmo os povos que mantêm contato com os brancos há mais de um século ainda têm uma conexão muito intensa com a terra, tiram da floresta praticamente tudo o que precisam e mantém um grau de isolamento muito grande. Para chegar até uma das aldeias que nós fomos são 10 dias de viagem de barco a partir da cidade mais próxima que é Atalaia do Norte”, conta a jornalista.

Durante a produção, a equipe da Globo sentiu de perto o isolamento numa região onde o acesso é difícil e a comunicação precária – a conexão para internet e telefone falha seguidamente. Indígenas isolados também são foco do documentário. “Mostramos como o isolamento dos grupos que não mantêm contato com outros indígenas e nem com o “mundo dos brancos” é uma decisão autônoma e consciente tomada por esses povos. A decisão de isolamento é uma resposta à violência que sofreram, traumas que ficaram quando os brancos chegaram perto demais – de doenças a massacres. Para os indígenas, na maioria das vezes, o contato é devastador. E, no fim das contas, Bruno e Dom morreram lutando para que esses grupos sigam tendo esse direito, sigam tendo seu território protegido da invasão dos brancos. É uma história, portanto, de pessoas dispostas a se arriscar na defesa de outras pessoas que nem sabem que elas existem”, destaca Sônia Bridi.

A produção traz material exclusivo, como o momento em que a equipe da Univaja encontra uma série de objetos pertencentes a Bruno e Dom que não haviam sido localizados pela polícia na época do crime – entre eles, um celular de Bruno que continha as últimas imagens conhecidas dele e de Dom. Também faz um histórico dos conflitos. “Muitos brancos foram para aquela região numa época em que a ‘ocupação’ da Amazônia era incentivada pelo governo, o que resultou numa série de conflitos entre esses brancos e os povos originários que já viviam lá. Ao longo das últimas décadas, houve vários massacres de indígenas isolados e a maioria sequer foi investigada”, explica a roteirista Cristine Kist.

O documentário mostra ainda que há indícios do envolvimento de parentes dos assassinos de Bruno e Dom em pelo menos dois desses massacres. “Nós também encontramos no nosso acervo uma gravação feita há mais de 20 anos com a família do Pelado, que é um dos assassinos, em que a mãe dele conta que as famílias que moravam na região tinham medo dos indígenas”, diz Cristine. Vale dos Isolados investiga o avanço da pesca ilegal ao mesmo tempo em que a produção de folhas de coca do outro lado da fronteira, no Peru, toma as margens do rio Javari – e busca a relação entre esses dois tipos de crime.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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