Corrida do ouro ameaça áreas protegidas

Boom de pedidos na Agência Nacional de Mineração para a exploração do metal se espalhou por 6,2 milhões de hectares em Terras Indígenas e Unidades de Conservação

Por Liana Melo | ODS 16 • Publicada em 30 de setembro de 2021 - 07:11 • Atualizada em 8 de outubro de 2021 - 09:54

Vista aérea de garimpos ilegais na TI Yanomami, próximo à comunidade Ye’kwana, região Waikás: boom de pedidos para mineração em áreas protegidas (Foto Rogério Assis/ISA)

Vista aérea de garimpos ilegais na TI Yanomami, próximo à comunidade Ye’kwana, região Waikás: boom de pedidos para mineração em áreas protegidas (Foto Rogério Assis/ISA)

Boom de pedidos na Agência Nacional de Mineração para a exploração do metal se espalhou por 6,2 milhões de hectares em Terras Indígenas e Unidades de Conservação

Por Liana Melo | ODS 16 • Publicada em 30 de setembro de 2021 - 07:11 • Atualizada em 8 de outubro de 2021 - 09:54

A corrida do ouro na Amazônia Legal passa pelas Terras Indígenas e as Unidades de Conservação (UCs). A soma dos pedidos de pesquisa para a exploração do metal somou 6,2 milhões de hectares em 2020, uma área equivalente a 40 vezes o tamanho a cidade de São Paulo. Os pedidos na Agência Nacional de Mineração (ANM) dão à medida do tamanho do interesse privado nessas áreas protegidas.

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O diagnóstico está no estudo “Áreas protegidas ou áreas ameaçadas? A incessante busca pelo ouro em Terras Indígenas e Unidades de Conservação na Amazônia”, do Instituto Escolhas. Os pedidos de pesquisa para mineração de ouro em Unidades de Conservação chegam a 3,8 milhões de hectares contra 2,4 milhões de hectares das solicitações em Terras Indígenas, área correspondente a 20 vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. O Instituto Escolhas detectou no estudo que, desde 2018, houve um aumento no número de solicitações, particularmente nos territórios indígenas, com um recorde de 31 registros no ano passado.

Arte: Fernando Alvarus
Arte: Fernando Alvarus

Um total de 2,1 mil pedidos de pesquisa, entre requerimentos e autorizações registrados na ANM, atingem 85 territórios indígenas e 64 UCs. Somente na Terra Indígena Yanomami, entre os estados do Amazonas e de Roraima, são 749 mil hectares sob registro. Na Terra Indígena Baú, no Pará, a segunda em extensão de processos, 471 mil hectares estão registrados, ocupando um quarto de seu território.

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Na última década, houve um crescimento expressivo desses registros, principalmente dentro de UCs. Em Terras Indígenas, ainda que o número de registros seja menor, é possível verificar um crescimento a partir de 2018, mas especialmente em 2020, ano com recorde de registros. Os números confirmam o crescente interesse privado pela exploração de ouro nessas áreas

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O estudo analisou todos os pedidos de pesquisa para ouro (requerimentos e autorizações de pesquisa) registrados na Agência Nacional de Mineração (ANM) – que indicam o interesse privado pelas áreas – e, de acordo com os pesquisadores, teve o cuidado de verificar tanto as bases de dados públicas, como de solicitar à própria agência os pedidos realmente ativos, garantindo a análise correta das solicitações para dimensionar as sobreposições com Terras Indígenas e Unidades de Conservação.

O documento também destaca que essa corrida pelo ouro vem acompanhado de um “lastro de destruição ambiental e social” – em muitos casos, com atividades inteiramente ilegais. “Não são poucas as notícias que estampam os jornais com um ouro manchado pela invasão de territórios indígenas, violência, tráfico de drogas e armas, lavagem de dinheiro, trabalho escravo, prostituição, contaminação dos rios e de pessoas pelo mercúrio e desmatamento”, aponta o estudo.

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“Na última década, houve um crescimento expressivo desses registros, principalmente dentro de UCs. Em Terras Indígenas, ainda que o número de registros seja menor, é possível verificar um crescimento a partir de 2018, mas especialmente em 2020, ano com recorde de registros. Os números confirmam o crescente interesse privado pela exploração de ouro nessas áreas”, analisou Larissa Rodrigues, umas das autoras do estudo e gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas.

Imagem aérea do garimpo ilegal de ouro na Terra Indígena Yanomami

O estudo apontou que os municípios da Amazônia Legal arrecadaram, em 2020, uma compensação financeira pela extração de ouro 60% maior do que no ano anterior, um percentual 18 vezes acima do valor registrado há dez anos. A participação desses municípios na arrecadação nacional era de apenas 13% em 2010, chegando a 47% em 2020.

“O controle social sobre a atividade é pequeno. Faltam transparência e mecanismos de verificação para os dados do setor e não existe um sistema efetivo de rastreabilidade, que permita acompanhar a origem do ouro produzido. Isso prejudica as ações de fiscalização e controle e fomenta o comércio ilegal no país, pressionando ainda mais as áreas que deveriam estar protegidas pelo bem do meio ambiente e da sociedade”, concluiu Larissa.

 

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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