‘Ainda Estou Aqui’ ganha o Oscar. “Nós vamos sorrir”, diz Fernanda Torres

Filme de Walter Salle, sobre desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar, foi o grande vencedor na categoria de melhor filme internacional, conquista inédita para o cinema brasileiro

Por #Colabora | ODS 16 • Publicada em 3 de março de 2025 - 11:48 • Atualizada em 3 de março de 2025 - 13:07

Walter Salles e Fernanda Torres com a estatueta: prêmio de melhor filme internacional para Ainda Estou Aqui é conquista inédita para o cinema brasileiro (Foto: Reprodução / Instagram)

O cinema brasileiro fez história na noite de hoje (3) na 97ª edição do Oscar, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, foi o grande vencedor na categoria de melhor filme internacional. Uma conquista inédita para o cinema brasileiro. O filme, que mostra a prisão e o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar no Brasil, e a luta de Eunice Paiva e sua família, superou Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia).

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Walter Salles dedicou a conquista para Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva desaparecido na ditadura, cuja busca em saber o destino do marido norteou o roteiro do filme. Em seu discurso de agradecimento, o cineasta brasileiro também ressaltou os trabalhos de Fernanda Torres, e sua mãe, Fernanda Montenegro. “Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir… Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”, disse Walter Salles.

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Indicado também para a estatueta de melhor filme, Ainda Estou Aqui perdeu para Anora, maior vencedor da festa com cinco estatuetas no total. Fernanda Torres, indicada ao prêmio de melhor atriz, não levou a estatueta, que acabou nas mãos de Mikey Madison, de Anora. Mesmo assim Fernanda Torres entra na história do cinema repetindo sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada na edição de 1999 do Oscar como melhor atriz, mas a laureada foi a estadunidense Gwyneth Paltrow.

A atriz Fernanda Torres usou as redes sociais na madrugada para deixar uma mensagem após a conquista de “Ainda estou aqui”, na categoria Melhor Filme Internacional do Oscar. “”Nós vamos sorrir. Sorriam”, escreveu a atriz, em frase que faz referência a uma cena do filme. A publicação de Fernanda tem duas fotos: uma do envelope com o nome de “Ainda estou aqui” como vencedor da categoria e outra da estatueta nas mãos do diretor Walter Salles, que subiu ao palco receber o prêmio. A atriz também publicou uma foto com Walter Salles, segurando o prêmio. “Ainda estamos aqui comemorando”.

Em entrevista no tapete vermelho antes da premiação, Fernanda destacou a história de Ainda Estou Aqui. “Esse filme fala de uma família que tentaram apagar da história. Através da literatura e do Marcelo, essa família voltou. Ela tem a alma do Brasil, um país amoroso que ama a cultura, a liberdade, a empatia. Essa família furou a bolha que estávamos de ódio. A Eunice Paiva lutou pela civilidade e justiça no mundo, fez essa onda de amor. É tão bonito quando uma obra literária move o mundo. As pessoas sentem isso”, disse a atriz à Globonews.

Walter Salles homenageia Eunice Paiva em seu discurso ao vencer o Oscar: "Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir" (Foto: Reprodução)
Walter Salles homenageia Eunice Paiva em seu discurso ao vencer o Oscar: “Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir” (Foto: Reprodução)

Clima de Copa do Mundo

A coincidência das datas da maior premiação do cinema com o carnaval brasileiro acabou em clima de torcida da Copa do Mundo. Máscaras de Fernanda Torres e de Selton Mello (intérprete de Rubens Paiva), fantasias da estatueta dourada do prêmio, boneco gigante de Olinda, entre outras referências ao Oscar, estiveram presentes em desfiles e blocos carnavalescos pelo país inteiro.

A conquista inédita de ainda estou aqui foi celebrada em todas as esferas, a começar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia. Eu e @janjalula estamos muito felizes assistindo tudo ao vivo. O Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Selton Mello , Marcelo Rubens Paiva e família e todos os envolvidos nessa extraordinária obra que mostrou ao Brasil e ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo. Parabéns! Viva o cinema brasileiro, viva Ainda Estou Aqui”.

A ex-presidente Dilma Roussef, também presa e torturada na mesma época que Rubens Paiva, também celebrou. “O Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é um reconhecimento da força da cultura brasileira. Uma homenagem merecida ao nosso cinema, ao diretor Walter Salles, às atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, ao ator Selton Mello e a toda a equipe do filme”, publicou.

Com suas indicações, o filme de Walter Salles sobre o desaparecimento do deputado Rubens Paiva (1929-1971) e a saga de sua esposa Eunice Paiva (1929-2018) já chegou vitorioso à festa da indústria cinematográfica. Especialistas consultados pela Agência Brasil disseram que, entre as qualidades do filme, estão a capacidade de abordar o passado de uma forma diferente e a maneira como a obra conseguiu dialogar com os tempos atuais.

O livro autobiográfico, que inspirou o filme, de autoria de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice, foi para o topo das listas dos mais vendidos. O próprio caso Rubens Paiva ganhou novos desdobramentos recentemente. Por determinação da Justiça, em janeiro deste ano a certidão de óbito do ex-deputado foi corrigida. Na versão original do documento, ele foi tido como “desaparecido político”. Na nova redação, consta agora que sua morte foi violenta, causada pelo Estado brasileiro.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu analisar se a Lei da Anistia, adotada com o fim do regime de exceção, se aplica ou não a crimes de sequestro e cárcere privado cometidos na época da ditadura militar brasileira.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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