Depois de ficar muito perto da extinção meio século atrás, os micos-leões dourados chegam hoje a três mil na Reserva Biológica de Poço das Antas – 120 quilômetros ao norte da cidade do Rio de Janeiro, entre os municípios de Silva Jardim e Casimiro de Abreu – e a maior ameaça à preservação da espécie é a fragmentação da Mata Atlântica, seu habitat natural. Para facilitar a circulação dos micos, dificultada pela fragmentação da mata, a Associação Mico-Leão Dourado (AMLD) está promovendo uma série de iniciativas para garantir um corredor florestal, para restaurar o bioma e expandir o território natural dos animais. “Nós temos alguns grandes blocos de florestas que precisam se conectar para efetivamente garantir a preservação do mico-leão”, explica Luiz Paulo Ferraz, secretário-executivo da AMLD.
Nesta sexta-feira, 2 de agosto, Dia do Mico-Leão Dourado, está sendo lançado um projeto pela Associação do Mico-Leão-Dourado (AMLD), o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a ExxonMobil com esse objetivo de conectar os territórios dos micos-leões dourados. “A ideia é plantar 20 mil mudas de árvores nativas para assegurar uma área maior, sequencial, unindo trechos de Mata Atlântica hoje separados que tolhem a circulação dos micos-leões”, explica Alexandre Ferrazolli, gerente de projetos do Funbio. A maior separação entre os blocos do bioma na área é a BR-101 Norte, estrada recentemente duplicada pela concessionária Arteris Fluminense que está construindo – fazia parte do contrato de concessão – o primeiro viaduto vegetado do país onde serão plantadas duas mil mudas.
A construção do viaduto é estratégica: de um lado da pista, está a Reserva Biológica de Poço das Antas, onde está concentrada pelo menos 10% da população total de micos-leões dourados: que hoje está entre 3000 e 3200 indivíduos. Do outro lado, fica a Fazenda Igarapé, a primeira sede própria da AMLD, comprada no ano passado, graças a uma parceria com as ONGs DOB Ecology, americana, e Saving Species, americana. “Nós adquirimos a fazenda exatamente para poder reduzir a fragmentação e ampliar o território dos micos-leões. É importante para que a espécie possa crescer e se diversificar. A duplicação da pista da BR-101 tornou a população de micos de Poço das Antas ainda mais isolada. E eles precisam circular para fortalecer a espécie, para ela não sofrer um enfraquecimento genético”, explica Luís Paulo Ferraz.
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A parceria para o plantio das mudas nasceu do interesse da ExxonMobil, que tem a participação em 26 blocos off-shore nas bacias de Campos e Santos, de financiar um projeto ambiental no Rio de Janeiro. “Quando começar a exploração e produção desses campos, a presença da companhia no estado vai crescer muito e nós queríamos marcar essa nova fase”, conta Valéria Rossi, gerente de Assuntos Institucionais e Governamentais da ExxonMobil no Brasil. A Exxon buscou o Funbio, que gerencia quase 300 projetos sempre na área de conservação e já tinha trabalhos com a AMLD. “A ideia desta iniciativa foi excelente porque o mico-leão é um símbolo nacional e a marca Esso está no país desde 1912, há mais de um século”, acrescenta.
O próximo passo deste projeto será a organização da primeira fase de plantação das mudas nativas, o que será feito ainda este ano. “Garantir a preservação dos micos-leões e a restauração da Mata Atlântica é garantir também a preservação de todo esse ecossistema da Bacia do Rio São João onde vivem 750 mil pessoas”, lembra do Alexandre Ferrazolli, do Fundo Brasileiro para Biodiversidade, instituição sem fins lucrativos, que ficará encarregada da gestão financeira do projeto. A Esso vai financiar a iniciativa – com cerca de R$ 1 milhão – que será executada pela Associação do Mico-Leão-Dourado.
Depois do plantio das 20 mil árvores, em área equivalente a 14 campos de futebol e conectada ao viaduto vegetado, será feito uma manutenção para a substituição das mudas que tiverem qualquer problema e, em seguida, o acompanhamento das árvores. A parceira vai durar pelo menos um ano. “Esta nova parceria nos ajudará na missão de garantir a sobrevivência de um dos símbolos nacionais do Brasil, em um projeto que planta florestas e gera renda localmente para famílias produtoras de mudas de espécies nativas”, afirma o secretário-executivo da AMLD, entidade fundada em 1992, com o objetivo de preservar não apenas o mico-leão mas também a Mata Atlântica, seu maltratado habitat natural.
Parque Ecológico Mico-Leão Dourado
No começo da década de 1970, estudos apontavam que havia menos de 200 micos-leões dourados no mundo: com o desmatamento acelerado da Mata Atlântica e a captura de animais para venda no exterior, a espécie caminhava para a extinção. Mas, com o trabalho do o biólogo e primatólogo Adelmar Coimbra Filho, foi criada a Reserva de Poço das Antas, em 1974, e houve um alerta internacional para a ameaça aos micos. Na década de seguinte, com o apoio do Instituto Smithsonian, de Washington (EUA), foi iniciado um programa de reintrodução dos micos-leões em zoológicos, que se desdobrou no Programa de Conservação do Mico-Leão Dourado, com a criação da AMLD em 1992.
O trabalho da associação foi decisivo para que a população de micos-leões chegasse aos três mil de hoje. “Na verdade, a meta para considerarmos que o mico-leão dourado está a salvo da extinção é termos dois mil micos em 25 mil hectares de florestas protegidas e conectadas. O problema hoje nem é o número de animais; são os fragmentos de florestas que não se comunicam”, frisa o secretário-executivo da AMLD, lembrando que a região é a única do planeta onde os micos-leões dourados vivem Por isso, a importância da compra da Fazenda Igarapé, uma antiga propriedade para criação de gado com 237 hectares.
Pela estratégia da associação, pelo menos 100 hectares serão restaurados com o plantio de árvores nativos da Mata Atlântica – o projeto em parceria com a Esso e a Funbio faz parte deste esforço. AMLD também está trabalhando na criação de um corredor florestal em uma fazenda ao lado da reserva de Poço das Antas também para conectar a área coo o Viaduto Vegetado. O plano da associação para a fazenda é criar ali o Parque Ecológico Mico-Leão Dourado. “Nós queremos que as pessoas visitem, venham e conhecer e saiam daqui apaixonadas pela Mata Atlântica e pelo mico-leão dourado. E também entendam que o esforço para salvar uma espécie requer muitos anos. Queremos transformar essa propriedade num espaço vivo de conhecimento da natureza, de conhecimento da Mata Atlântica e das relações entre a natureza e o desenvolvimento humano”, explica Ferraz.