Dom Claudio: Amazônia está ameaçada e a vida na Terra também

O Papa Francisco ouve as palavras do cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, na abertura do trabalho do Sínodo: alerta sobre os ataques à floresta e às violações dos direitos da população (Foto: Andreas Solaro/AFP)

Relator-geral do Sínodo, cardeal brasileiro alerta para destruição ambiental na floresta e crise climática e defende ordenação de homens casados

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 7 de outubro de 2019 - 18:39 • Atualizada em 7 de outubro de 2019 - 22:00

O Papa Francisco ouve as palavras do cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, na abertura do trabalho do Sínodo: alerta sobre os ataques à floresta e às violações dos direitos da população (Foto: Andreas Solaro/AFP)
O Papa Francisco ouve as palavras do cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, na abertura do trabalho do Sínodo: alerta sobre os ataques à floresta e às violações dos direitos da população (Foto: Andreas Solaro/AFP)
O Papa Francisco ouve as palavras do cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, na abertura do trabalho do Sínodo: alerta sobre os ataques à floresta e às violações dos direitos da população (Foto: Andreas Solaro/AFP)

Sentado ao lado do Papa Francisco, o cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, relator-geral do Sínodo para a Amazônia e presidente da Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM) fez um duro discurso na abertura dos trabalhos, nesta segunda-feira (7/10), alertando que a vida na Amazônia nunca esteve tão ameaçada “pela destruição e exploração ambiental e pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população”. Dom Claudio também destacou a crise climática – “ocorre no planeta uma devastação, depredação e degradação galopante dos recursos da terra” e defendeu a ordenação de homens casados e maior participação das mulheres na Igreja.

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O cardeal brasileiro falou logo após a saudação inicial do Papa Francisco que, na véspera, na Santa Missa de Abertura do Sínodo, havia alertado para novos colonialismos na Amazônia. “Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos. O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros”, disse o Pontíficie no domingo. Na saudação no começo dos trabalhos nesta segunda, após agradecer o trabalho de todos e a presença dos 158 bispos – 57 brasileiros – que estão no Vaticano, Francisco disse que a ação pastoral da Igreja Católica deve evitar “colonizações ideológicas que destroem ou reduzem a idiossincrasia dos povos”.

O Papa Francisco com representantes de povos indígenas da Amazônia após a missa de abertura do Sínodo no domingo: “qual é a diferença entre ter plumas na cabeça e o chapéu de três pontas utilizado por certas hierarquias em nossos dicastérios?” (Foto: Andreas Solaro/AFP)

Na abertura dos trabalhos, o Papa voltou a defender os povos indígenas ao garantir não ver diferenças entre as plumas usadas na cabeça por algumas dessas populações e os chapéus utilizados na liturgia católica. “Me entristeceu ouvir, aqui mesmo, um comentário sarcástico sobre um homem devoto que carregava oferendas com plumas na cabeça. Me digam: qual é a diferença entre ter plumas na cabeça e o chapéu de três pontas utilizado por certas hierarquias em nossos dicastérios?”, questionou Francisco.

Dom Claudio Hummes propôs em sua manifestação seis núcleos de discussão para o Sínodo: 1) Igreja na Amazônia e seus novos caminhos; 2) O rosto amazônico da Igreja: inculturação e interculturalidade em âmbito missionário-eclesial; 3) A ministerialidade da Igreja na Amazônia: presbiterado, diaconato, ministérios, o papel da mulher; 4) A ação da Igreja no cuidado com a Casa Comum: a escuta da Terra e dos pobres; ecologia integral ambiental, econômica, social e cultural; 5) A Igreja amazônica na realidade urbana; 6) A questão da água. Todos esses temas foram destacados no discurso do relator-geral do Sínodo:

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A Igreja precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade.

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Deve-se ter presente também que a Igreja missionária da Amazônia se destacou através de sua história – e ainda hoje se destaca – com grandes e fundamentais serviços para a população local na área da escolarização, da saúde, do combate à pobreza e à violação dos direitos humanos.

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A tarefa da inculturação e da interculturalidade se realiza particularmente na liturgia, no diálogo inter-religioso e ecumênico, na piedade popular, na catequese, na convivência dialogal quotidiana com as populações autóctones, nas obras sociais e caritativas, na vida consagrada, na pastoral urbana.

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A vida na Amazônia talvez nunca tenha estado tão ameaçada como hoje, pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica, de modo especial, a violação dos direitos dos povos indígenas, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios

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Na Amazônia a ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade atual, de maneira especial de empresas que extraem de modo predatório e irresponsável [legal ou ilegalmente] as riquezas do subsolo e da biodiversidade, muitas vezes em conivência ou com permissividade dos governos locais e nacionais e por vezes até com o consenso de alguma autoridade indígena.

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O sínodo se realiza num contexto de uma grave e urgente crise climática e ecológica que atinge todo o nosso planeta. O aquecimento global do planeta pelo efeito estufa gerou uma crise climática sem precedentes, grave e urgente, como mostrou a Laudato si’ e a COP21 de Paris, na qual foi assinado por praticamente todos os países do mundo o Acordo Climático até hoje pouco implementado, apesar da urgência. Ao mesmo tempo, ocorre no planeta uma devastação, depredação e degradação galopante dos recursos da terra, promovidas por um paradigma tecnocrático globalizado, predatório e devastador, denunciado pela Laudato si’. A Terra não aguenta mais.

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A Igreja na cidade deve desenvolver e consolidar seu rosto amazônico. Ela não pode ser uma reprodução da Igreja urbana de outras regiões. Sua missão na Amazônia inclui o cuidado e a defesa da floresta amazônica e de seus povos: indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, pobres de todo tipo, pequenos agricultores, pescadores, seringueiros, quebradeiras de coco e outros, conforme a região. Esta missão não será certamente um peso, mas uma alegria que só o Evangelho oferece.

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As comunidades locais, missionários e comunidades indígenas pediram que, reafirmando o grande valor do carisma do celibato na Igreja, contudo, diante da gritante necessidade da imensa maioria das comunidades católicas na Amazônia, ali se abra caminho para ordenação presbiteral de homens casados, que residam nas comunidades. Ao mesmo tempo, diante do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia, se reconheça este serviço e se procure consolidá-lo com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.

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Na Amazônia, a floresta cuida da água, a água cuida da floresta e juntas produzem a biodiversidade, sendo os povos indígenas os milenares guardiões deste sistema. Por isso, a Igreja sente-se também chamada a cuidar da água da “casa comum”, ameaçada na Amazônia principalmente pelo aquecimento climático, pelo desmatamento e pela contaminação causada pela mineração e agrotóxicos.

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Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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