Os trabalhos essenciais que sustentam a COP30

Longe dos holofotes e das mesas de negociação, trabalhadores e voluntários realizam atividades fundamentais para viabilizar a Conferência do Clima

Por Micael Olegário | ODS 13
Publicada em 9 de novembro de 2025 - 07:54  -  Atualizada em 9 de novembro de 2025 - 08:03
Tempo de leitura: 7 min

Trabalhadores finalizam montagem de estrutura para a COP30 (Foto: Micael Olegário)

(De Belém, Pará) – “Estamos cansadas, mas felizes de estar aqui”, conta Helena Setubal, 68 anos. O trabalho dela faz parte de um conjunto de atividades essenciais para a realização da COP30 (30° Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). Cuidadora e técnica de enfermagem, Helena integra um dos grupos de trabalhadoras/es responsáveis pela limpeza do Parque da Cidade, local que abriga as Zonas Verde e Azul.

“Sabemos que é um trabalho desvalorizado e sentimos o desprezo em alguns lugares, mas se não estivéssemos aqui, não teria evento”. O depoimento de Caroline Nunes, 32 anos, evidencia uma outra dimensão do encontro, sem holofotes e mais cotidiana. Formada em Serviço Social, ela revela que não entende muito o funcionamento das COPs. A burocracia e a linguagem das conferências dificilmente é acessível para a maioria das pessoas, e não é por falha delas. 

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Enquanto conversam com a reportagem do #Colabora na Zona Azul da COP30, Caroline e Helena temem ser repreendidas. A orientação recebida da empresa terceirizada que as contratou foi para não tirar fotos e não conversar com os visitantes, a menos que estes se dirijam a elas.

A rotina das duas trabalhadoras começa às 8h e segue até às 17h, com uma hora de intervalo para o almoço. Desde quando começaram a atuar no Parque da Cidade, foram 16 dias de trabalho intensivo, sem nenhuma folga. Além disso, existe uma pressão para que estejam sempre em movimento, motivo pelo qual a entrevista teve de ser interrompida após alguns minutos.

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“A gente é do corre”, pontua Helena, ao descrever a dedicação que a move. No relato dela, os desafios do cotidiano de limpeza do parque se entrelaçam com o orgulho da sua cultura e do seu território. Emocionada, ela cita o privilégio de estar em um ambiente com pessoas de diversos países: “É algo que vou poder contar para meus filhos e netos”. Por isso, agradece ao colega Everton Barbosa, 22 anos, que a indicou para o serviço.

As discussões nas mesas de negociação da COP30 buscam sustentar o futuro do planeta, mas é o trabalho de pessoas como Helena, Everton e Caroline que sustenta a realização da Conferência do Clima.

Entre os pavilhões, trabalhadoras da limpeza garantem ambiente para as negociações que visam sustentar o futuro (Foto: Micael Olegário)

Preparativos e construção

De acordo com estimativas divulgadas pelo secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, já foram investidos R$4 bilhões em Belém para a realização da COP30, grande parte em obras de infraestrutura. Uma delas é o Parque da Cidade, localizado no Bairro Sacramenta, em um espaço onde funcionava um antigo aeroporto. 

O cheiro de madeira recém cortada e o barulho de parafusadeiras ainda estavam onipresentes na sede da conferência neste sábado (08/11). Além dos visitantes, muitos trabalhadores circulavam pelo local de 500 mil metros quadrados para fazer os últimos ajustes antes do início oficial da COP30, nesta segunda (10/11).

“É uma oportunidade para a gente da cidade, está dando muito emprego para os jovens da periferia”, afirma Gabriel Marques, 23 anos. A rotina dele é no setor de serviços gerais e vai das 7h às 11h30 e, depois, das 13h30 às 17h. O jovem acompanhou a construção dos pavilhões desde os primeiros dias, muitos deles sob o intenso sol paraense.

“Agora, estamos trabalhando nessa área refrigerada, mas antes dos eventos, estávamos lá fora. Era um calor de matar, tinha dias que a gente saia daqui todo assado”, recorda Gabriel. Na avaliação dele, o calor na cidade piorou nos últimos anos, o que atribui a uma consequência do desmatamento na região. Dados científicos comprovam essa percepção: nos últimos 50 anos, Belém registrou um aumento médio de temperatura de 1,96°C.

Linhas exclusivas para a COP30 contam com ônibus elétricos (Foto: Alex Ribeiro/Agência do Pará)

Voluntários da COP30

Além das mulheres e dos homens que trabalham com a realização do evento, a COP30 reúne uma legião de voluntários. Muitos são jovens e grande parte é de Belém. Até outubro, cerca de 1.500 já tinham sido certificados pelo governo e outros 2 mil estavam inscritos.

Dois voluntários, Benize Coutinho e Edivaldo da Costa, acompanharam este repórter no trajeto de ônibus até o Parque da Cidade, em uma das linhas criadas para transporte de pessoas credenciadas. São 40 ônibus elétricos e os demais possuem uma tecnologia para reduzir emissões, além de ar-condicionado.

Benize revela ter aprendido muita coisa nos primeiros dias de trabalho, durante a Cúpula do Clima. Além disso, afirma ter conhecido outras frutas amazônicas, como o umbu e o coquinho-verde. Para ela, o evento trouxe melhorias de infraestrutura para a cidade e, sobretudo, uma chance de mostrar as riquezas da cultura e da biodiversidade da Amazônia.

Para Edivaldo, essa também é uma oportunidade de mostrar a potência que nasce da floresta. Ele também defende a importância de discutir as mudanças climáticas, porque sente o calor cada vez mais intenso na cidade. Ao mesmo tempo, acredita que pode “fazer bem” aos negociadores sentir um pouco as temperaturas elevadas de Belém. Quiçá possam finalmente encarar a crise climática de frente.

Micael Olegário

Jornalista formado pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Gaúcho de Caibaté, no interior do Rio Grande do Sul. Mestrando em Comunicação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Escreve sobre temas ligados a questões socioambientais, educação e acessibilidade.

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