(De Belém, Pará) – “Estamos cansadas, mas felizes de estar aqui”, conta Helena Setubal, 68 anos. O trabalho dela faz parte de um conjunto de atividades essenciais para a realização da COP30 (30° Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). Cuidadora e técnica de enfermagem, Helena integra um dos grupos de trabalhadoras/es responsáveis pela limpeza do Parque da Cidade, local que abriga as Zonas Verde e Azul.
“Sabemos que é um trabalho desvalorizado e sentimos o desprezo em alguns lugares, mas se não estivéssemos aqui, não teria evento”. O depoimento de Caroline Nunes, 32 anos, evidencia uma outra dimensão do encontro, sem holofotes e mais cotidiana. Formada em Serviço Social, ela revela que não entende muito o funcionamento das COPs. A burocracia e a linguagem das conferências dificilmente é acessível para a maioria das pessoas, e não é por falha delas.
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Enquanto conversam com a reportagem do #Colabora na Zona Azul da COP30, Caroline e Helena temem ser repreendidas. A orientação recebida da empresa terceirizada que as contratou foi para não tirar fotos e não conversar com os visitantes, a menos que estes se dirijam a elas.
A rotina das duas trabalhadoras começa às 8h e segue até às 17h, com uma hora de intervalo para o almoço. Desde quando começaram a atuar no Parque da Cidade, foram 16 dias de trabalho intensivo, sem nenhuma folga. Além disso, existe uma pressão para que estejam sempre em movimento, motivo pelo qual a entrevista teve de ser interrompida após alguns minutos.
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Veja o que já enviamos“A gente é do corre”, pontua Helena, ao descrever a dedicação que a move. No relato dela, os desafios do cotidiano de limpeza do parque se entrelaçam com o orgulho da sua cultura e do seu território. Emocionada, ela cita o privilégio de estar em um ambiente com pessoas de diversos países: “É algo que vou poder contar para meus filhos e netos”. Por isso, agradece ao colega Everton Barbosa, 22 anos, que a indicou para o serviço.
As discussões nas mesas de negociação da COP30 buscam sustentar o futuro do planeta, mas é o trabalho de pessoas como Helena, Everton e Caroline que sustenta a realização da Conferência do Clima.
Preparativos e construção
De acordo com estimativas divulgadas pelo secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, já foram investidos R$4 bilhões em Belém para a realização da COP30, grande parte em obras de infraestrutura. Uma delas é o Parque da Cidade, localizado no Bairro Sacramenta, em um espaço onde funcionava um antigo aeroporto.
O cheiro de madeira recém cortada e o barulho de parafusadeiras ainda estavam onipresentes na sede da conferência neste sábado (08/11). Além dos visitantes, muitos trabalhadores circulavam pelo local de 500 mil metros quadrados para fazer os últimos ajustes antes do início oficial da COP30, nesta segunda (10/11).
“É uma oportunidade para a gente da cidade, está dando muito emprego para os jovens da periferia”, afirma Gabriel Marques, 23 anos. A rotina dele é no setor de serviços gerais e vai das 7h às 11h30 e, depois, das 13h30 às 17h. O jovem acompanhou a construção dos pavilhões desde os primeiros dias, muitos deles sob o intenso sol paraense.
“Agora, estamos trabalhando nessa área refrigerada, mas antes dos eventos, estávamos lá fora. Era um calor de matar, tinha dias que a gente saia daqui todo assado”, recorda Gabriel. Na avaliação dele, o calor na cidade piorou nos últimos anos, o que atribui a uma consequência do desmatamento na região. Dados científicos comprovam essa percepção: nos últimos 50 anos, Belém registrou um aumento médio de temperatura de 1,96°C.
Voluntários da COP30
Além das mulheres e dos homens que trabalham com a realização do evento, a COP30 reúne uma legião de voluntários. Muitos são jovens e grande parte é de Belém. Até outubro, cerca de 1.500 já tinham sido certificados pelo governo e outros 2 mil estavam inscritos.
Dois voluntários, Benize Coutinho e Edivaldo da Costa, acompanharam este repórter no trajeto de ônibus até o Parque da Cidade, em uma das linhas criadas para transporte de pessoas credenciadas. São 40 ônibus elétricos e os demais possuem uma tecnologia para reduzir emissões, além de ar-condicionado.
Benize revela ter aprendido muita coisa nos primeiros dias de trabalho, durante a Cúpula do Clima. Além disso, afirma ter conhecido outras frutas amazônicas, como o umbu e o coquinho-verde. Para ela, o evento trouxe melhorias de infraestrutura para a cidade e, sobretudo, uma chance de mostrar as riquezas da cultura e da biodiversidade da Amazônia.
Para Edivaldo, essa também é uma oportunidade de mostrar a potência que nasce da floresta. Ele também defende a importância de discutir as mudanças climáticas, porque sente o calor cada vez mais intenso na cidade. Ao mesmo tempo, acredita que pode “fazer bem” aos negociadores sentir um pouco as temperaturas elevadas de Belém. Quiçá possam finalmente encarar a crise climática de frente.
