Os impactos do clima extremo no Quênia e das indústrias fósseis na África do Sul

Países africanos sofrem com desigualdade histórica e cobram financiamento para adaptação e para o fundo de perdas e danos

Por Micael Olegário | ODS 13
Publicada em 20 de novembro de 2025 - 10:37  -  Atualizada em 20 de novembro de 2025 - 14:26
Tempo de leitura: 6 min

Pastora de gado em área do Quênia atingida pela estiagem: país enfrenta secas severas e outros eventos climáticos extremos (Foto: Patrick Meinhard / FAO / UN News)

(De Belém, Pará) – Abraham Maison Kipila, 29 anos, é um jovem queniano do povo Maasai, originário da África Central. A principal atividade econômica e cultural dessas comunidades é o pastoreio de gado. Contudo, nos últimos anos, as mudanças no padrão meteorológico na região tem afetado diretamente a subsistência dessas comunidades, com secas severas e chuvas intensas.

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“No passado, costumávamos prever os padrões climáticos, agora, não conseguimos mais. Isso afetou a movimentação de nossas comunidades e resultou na redução do nosso gado”, descreve Maison. Na COP30, ele integra a delegação da Comunidade Africana de Parceiros Planetários para a Saúde e o Meio Ambiente (ACOPPHE, na sigla em inglês).

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Em 2023, uma seca severa deixou 5,4 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, por conta da falta de água e de comida. Além disso, estimativas apontam que 2,4 milhões de bovinos morreram. Entre março e maio do ano passado, o Quênia enfrentou chuvas fortes que mataram 300 pessoas e deixaram outras 160 desaparecidas.

Maison Kipila, de branco, ao lado de outro ativista do Povo Maasai; comunidade tem enfrentado secas intensas na África Central (Foto: Micael Olegário)

Diante deste contexto, Maison menciona a importância de avanços em agendas que envolvem o pagamento por perdas e danos, além do financiamento climático direto para as comunidades. “Estamos pedindo até mesmo à ONU, aos governos e às grandes corporações que realmente desçam às bases e conheçam às comunidades, porque elas são as mais afetadas”, complementa. 

Assim como diferentes povos indígenas, os Maasai’s aproveitaram a COP30 para expor parte do artesanato produzido por um grupo de 72 mulheres do Quênia. Entre os objetos, destacam-se pulseiras com ornamentos de contas, uma das tradições dessas comunidades. Para Maison, esta também é uma alternativa para reforçar a autonomia e a sustentabilidade do povo Maasai.

Usina de Matimba fica nas margens de Rio e causa danos à saúde da população de Lephalale, na África do Sul (Foto: Divulgação/Eskom)

Fósseis na África do Sul

As emissões de combustíveis fósseis são a principal causa do aumento médio da temperatura global. Além disso, as indústrias desse setor também causam impactos socioambientais em diversas comunidades. Esse é o caso da comunidade de Lephalale, localizada na Província de Limpopo, na África do Sul.

No local, existem duas grandes usinas à carvão da empresa estatal Eskom: Medupi e Matimba. “Temos relatos de de asma, tuberculose, problemas respiratórios e até mesmo na forma como coletam e usam nossos dados”, descreve Margaret Masehlog, moradora de Lephalale. A África do Sul é o principal país emissor de gases de efeito estufa do continente africano e o 15° do mundo, sendo que aproximadamente 83% vem da queima de carvão.

Segundo dados do Climate Action Tracker, plataforma que monitora a ação climática em diversos países, a classificação atual da África do Sul é considerada insuficiente. O principal motivo é justamente a expansão concomitante de energia fóssil e renovável. O documento também alerta que a rede elétrica do país ainda sofre com instabilidades, além de cortes no fornecimento.

Ao lado de diversos ativistas da Rede de Ação Climática (CAN, na sigla em inglês), Margaret participou de um protesto nesta terça-feira (18/11), na zona azul da COP30. Aos gritos de “justiça energética agora”, o grupo pedia o investimento em energias renováveis, o fim do uso de combustíveis fósseis e justiça climática.

Margaret Masehlog, ativista sul-africana denuncia impactos socioambientais de indústria de carvão em Lephalale (Foto: Micael Olegário)

Segundo a ativista sul-africana, a degradação socioambiental promovida pela empresa tem afetado agricultores e o turismo local. “Para conseguir água, você tem que cavar e fazer algumas conexões ilegais no subsolo, porque a água que deveria ser fornecida à população está sendo usada para resfriar as usinas”, denuncia ela.

Em julho de 2024, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, sancionou a Lei de Mudanças Climáticas. A norma estabelece metas para a transição da economia e para investimentos em adaptação, incluindo o envolvimento de diferentes setores, com critérios para redução de emissões. Ainda assim, a lei recebeu críticas, em especial, do ponto de vista das penalidades para as empresas poluidoras.

Margaret menciona cobranças feitas ao governo da África do Sul por investimentos, por exemplo, em energia solar. Ela relata ainda os impactos na saúde por conta de partículas finas – chamadas de  PM2.5 – que são emitidas pelas usinas. “Até mesmo minha filha de quatro meses, mesmo ficando dentro de casa por ser uma criança pequena, teve problemas respiratórios e precisei levá-la ao hospital”, conta ela. 

Micael Olegário

Jornalista formado pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Gaúcho de Caibaté, no interior do Rio Grande do Sul. Mestrando em Comunicação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Escreve sobre temas ligados a questões socioambientais, educação e acessibilidade.

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