Divulgados há uma semana, novos dados apontaram para uma queda de 42,5% no sistema de alertas de desmatamento da Amazônia, em relação ao mesmo período de 2022. O que serviria como uma moeda que validaria a transformação convertida em ação política parece ter sido jogada no lixo durante a realização da Cúpula da Amazônia, terminada na última quarta-feira.
No documento batizado de “Declaração de Belém”, logo a não responsabilização para metas comuns de desmatamento zero entres os países não constava na versão final apresentada ao público. O que poderia ter sido uma resposta mais incisiva, nacionalmente e globalmente, não fez nem cócegas. O que prega contra uma política que começa, aos poucos, a ser rascunhada pelo presidente, no tocante à uma agenda florestal que quer colocar, na prática, o Brasil como um líder climático (o que está cada vez mais longe da realidade).
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O evento sediado em Belém serviu como um ‘esquenta’ no debate que envolve a sociedade civil nas iniciativas públicas, vislumbrando o que pode – ou não – acontecer durante a COP30, prevista também para a capital paraense em 2025. A reunião desta semana uniu os líderes da Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, além de mobilizadores de diversas frentes num grande ‘diálogo amazônico’.
Mas não foi desmatamento o único ponto a estar fora da lista, que também deixou de incluir medidas concretas para evitar o chamado ‘ponto de não retorno da Amazônia’ (circunstância em que a floresta perde sua capacidade de se autorregenerar por conta das degradações). Este, aliás, visto com preocupação pela atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante o encontro. “Se passar de 25%, é o ponto de não retorno, a floresta entra num processo de savanização. E será a destruição”, sacramentou. Mas faltou combinar com os caras o real valor disso.
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Veja o que já enviamosAo fim e ao cabo, a realização do evento mostra que debates existem, são feitos e ganharam envergadura nos últimos anos através dos trabalhos de inúmeras iniciativas. Ao mesmo tempo que, também sabemos, só se muda se houver vontade e jeito, embora existam problemas concretos para execução. Em resumo: sem atitude política e desejo, não conseguimos nem ir à esquina. Muito menos encampar a pretensão de ‘salvar’ a Amazônia, abraçando o mundo de uma só vez.
Não nos custa lembrar (ou relembrar): o país que deve sedirar a próxima COP30 e ostenta a Cúpula é o mesmo que frita a ministra da pasta; que cede em temas centrais e que quer ser visto como o guardião da agenda sem fazer seu trabalho de casa mais simples, e não apenas uma “reparação de danos”. Ou melhor: se colocou a capitanear discursos cheios de pompa para ‘os ricos’, ‘os europeus’, como se por grande penitência divina, fossem os países mais pobres meras vítimas do que vimos até aqui.
Faltou ao presidente Lula entender, de fato, o que ele mesmo disse durante o seu programa ‘Conversa com o presidente’, na abertura do evento. “A história da defesa da Amazônia, da defesa da floresta, da questão da transição ecológica, vai ter dois momentos: antes e depois desse encontro. Porque esse encontro é a coisa mais forte já feita em defesa da questão do clima”. Só que, sem política e alternativas concretas, não chegaremos lá, presidente.